A violência Obstétrica e a Saúde Mental da Mulher

Pouco se fala sobre o parto traumático. Porém, nas últimas semanas o tema ganhou força e visibilidade, quando veio à tona a denúncia realizada por uma famosa influencer digital, Shantal Verdelho, dos abusos sofridos durante o trabalho de parto, por parte de um conhecido obstetra de São Paulo. O caso serve para descortinar inúmeras situações de violência obstétrica não expostas. Uma violência caracterizada por abusos, maus tratos ou desrespeito ao longo da gestação ou durante o trabalho de parto, tanto de forma física quanto psicológica.

Transtorno do Estresse pós traumático (TEPT). Mas um dos grandes pontos é que este transtorno não se resume apenas às lesões físicas, temos muitos relatos de dores subjetivas, relacionadas à inadequação na assistência médica durante os procedimentos de urgência.

Vamos entender melhor. A violência obstétrica é um tipo de violência de gênero, praticada durante o cuidado obstétrico profissional, caracterizada pelo desrespeito, abusos e maus-tratos durante a gestação e/ou no momento do parto, de forma psicológica, verbal ou física e, consequentemente, torna um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher em um momento traumático e devastador. Compreende desde ter o direito de um acompanhante na hora do parto negado, falta de esclarecimentos sobre o procedimento, até intervenções invasivas desnecessárias, como também comentários constrangedores, ofensas, humilhações ou xingamentos e negligência.

Mas quais são os impactos dessa violência para a saúde mental de uma mulher que vive um momento tão delicado como o nascimento de um filho?

As consequências da violência obstétrica vão além dos danos imediatos, o trauma reflete seriamente na saúde da mulher, pois, é vivenciado em um momento decisivo em vários aspectos da vida e na saúde, física e mental, tanto do bebê como da mãe. O parto traz grandes alterações físicas, hormonais, psíquicas, a mulher se vê diante de uma transformação dos seus papéis sociais e suas relações. Por consequência, existem possibilidades do aparecimento de um quadro de tristeza ou surgimento de transtornos psiquiátricos que interfere no vínculo afetivo saudável entre a mãe e bebê, que é potencializado no caso de violência obstétrica.

O constrangimento é o primeiro sentimento que as mulheres enfrentam após a violência. A angústia é intensificada e podem desenvolver e potencializar uma sensação de inferioridade, medo e insegurança, através da humilhação, reforçando sentimentos de incapacidade, inadequação e impotência da mulher e do seu corpo. Outro ponto extremamente relevante é que, tanta dor e sofrimento podem desencadear o medo de uma nova gestação por causa da experiência vivida. Aliás, essa é uma das principais queixas da mulher que sofreu esse tipo de violência. Em geral, a grande maioria aponta indícios de depressão pós-parto. Além disso, a vida sexual e a auto estima são afetadas, interferindo na sua imagem corporal e despertando incômodos físicos. Neste sentido, é muito difícil a mulher responder de maneira imediata à violência sofrida, de forma a se defender, pois, é normal que, inicialmente, ela permaneça passiva por se encontrar totalmente desamparada. Isso faz com que, posteriormente, surjam sentimentos de indignação, revolta e de incapacidade por não ter conseguido se manifestar diante do abuso; o que acontece com grande parte das mulheres, já que nem todas conseguem ter essa consciência sobre o trauma.

Fato é que, as vivências experimentadas desse momento fazem parte dos sentimentos, pensamentos e das relações das mulheres no processo de construção do significado da maternidade, por isso, é preciso considerar o impacto que o trauma provoca em cada mulher. Ou seja, significa que as consequências de uma violência obstétrica atravessam o sentido de ser mãe e a própria história dessa gestante.

Portanto, diante de toda essa descrição, constata-se que muitas situações que acontecem durante o parto podem e devem ser evitadas. É preciso que as mulheres tenham consciência das circunstâncias desse trauma e verbalizem, denunciem e busquem ajuda de um profissional de saúde mental para que possam fortalecer o seu emocional a ponto de não ferir e prejudicar o desenvolvimento saudável da maternidade e do cuidado com o recém-nascido. Apesar do trauma perinatal ou relacionado com o nascimento / parto ainda ser relativamente pouco estudado e divulgado, o caso da Influencier Shantal demonstra, além da real necessidade de denunciar e expor as agressões físicas e psicológicas, uma urgente demanda do preparo das equipes obstétricas para que não provoquem traumas e saibam entender a importância de um trato humanizado neste momento sublime da mulher, minimizando assim, o sofrimento e promovendo a qualidade de vida, tanto para ela quanto para o recém-nascido.

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista (SPM); Doutora em Psicanálise, membro da Academia Fluminense de Letras –cadeira de número 15 de Ciências Sociais; administradora...

Veja o perfil completo.

4 comentários sobre “A violência Obstétrica e a Saúde Mental da Mulher

  1. Eu me chamo Edivane estou gestante de 8 meses e estou cm medo do meu parto tenho 40 anos e gostaria de ter uma acompanhante junto comigo qd for a maternidade pra ganha minha bebê nós mulheres vamos nos sentir mas seguras já por conta dessas violências obgda por dar a nós essa liberdade de podermos falar que pensamos

  2. Oi boa tarde, me chamo Lucicleide tenho 28 anos e dois filhos. Um menino de 5 e uma bebê de 8 meses, no dia 23/06/2021 por volta das 2 da manhã fui a maternidade da minha cidade, estava com contrações, como não estava mais com o pai da minha BB, minha irmã foi CMG, a médica disse que eu ficaria internada pois já estava com 4 centímetros, mais a minha irmã não pode ficar CMG pois estávamos na pandemia, eu fiquei lá sozinha, eles me levaram pra sala de pré parto, e ali começou meu sofrimento, fiquei hrs lá sozinha, percebi que estava saindo muito sangue, logo depois a médica veio pra me dar o toque, e falei pra ela que eu não tinha condições de ter normal, pois o meu primeiro filho foi cesário e me lembro que o doutor me disse que eu não podia ter normal, tbm falei que estava saindo muito sangue, e ela me disse que era normal e que eu não precisava fazer uma cesariana, bom resumindo passou mais algumas hrs e ela a médica veio e me deu outro toque eu já tava com 9,5 centímetros dai ela me mandou ir até a sala de parto com ela, eu disse que não tinha condições de ir andando pois estava com muita dor, e ela me mandou ir assim msm, e eu fui, na sala de parto, quanto mais força eu fazia mais sangue eu perdia, derrepente minha cabeça rodou eu comecei a ficar tonta, e me sentia muito fraca, já não aguentava mais colocar força, foi quando então a médica pegou um bisturi e falou que ia me cortar pra ajudar a criança a sair, a lágrima desceu na pra, mais eu tava sem forças até pra falar, foi quando Deus enviou uma médica cirurgiã, e ela me deu outro toque e percebeu que tinha algo errado me colocou numa cadeira de rodas e me levou pra sala de cirurgia, me lembro que ela disse que eu não tinha condições de ter normal, pq meu colo do útero era colado. Depois que fizeram a minha cesária, eu fui pro quarto e comecei a me sentir mal novamente, fiquei sentindo um cala frio, ânsia de vômito, fiquei com tonturas, e a visão escura, eu sentia que ia morrer, pedi para a enfermeira chamar a médica, ela veio com outros dois médicos e começaram a me consultar, do nada eles correram pegaram aparelhos e mediram minha pressão, foi uma correria, eu fui apagando… Quando eu acordei estava numa UTI de outro hospital, cheia de aparelhos o médico veio até mim, eu perguntei da minha BB ele disse que estava em casa, eu perguntei onde estou, ele me informou, perguntei que dia era ele disse que era dia 26/06/2021, fiquei chocada ao saber que tinha dormido por três dias, e ele me informou que eu tive uma hemorragia uterina, e que estava com diabetes gestacional, minha pressão tinha caído, e eles tiveram que conter a hemorria, por isso tiraram meu útero, como eles tiraram meu útero as pressas acabaram cortando minha bexiga, , e eu tive que usar uma sonda por 15 dias, e tive que tomar 6 bolsas de sangue .. eu chorei tanto, choro até hj quando lembro daquele dia. Voltei pra casa 16 dias DEPOIS… Não pude amamentar minha filha por conta dos remédios que tomei. Ainda tenho umas sequelas daquele dia, as vezes fico tonta e sinto ânsia de vômito TDS os dias. Sofri muito.

  3. Fiquei chocada com o relato da moça Lucicleide. Parte dessa equipe deveria ter sido processada!!!
    Ou a equipe toda….
    Sou mãe de 4 filhos, todos de parto normal. Graças a Deus tenho lembranças maravilhosas de cada momento!
    Espero que você se recupere o mais rápido possível e que Deus abençoe muito a você e ao bebê…. Bjos e fique com Deus!

  4. Meu Deus foi terrível o que essa mãe passou e ainda está com sequelas e perdeu o útero isso foi erro médico se você não processou essa médica e o hospital ainda está em tempo constitui um advogado e fassa isso que fizeram com você foi crime, lamentável uma mulher grávida passar por um sofrimento desse por existir médicos incompetentes irresponsáveis sem sentimentos pelo ser humano

Deixe um comentário para Lucicleide Cancelar resposta