Diagnóstico Precoce ainda é Barreira no Enfrentamento do Câncer Infantojuvenil

Mãe de menina que venceu uma leucemia relata a importância do acompanhamento dos familiares
aos possíveis sinais e sintomas para o rápido diagnóstico

Em março de 2019, a administradora de empresas e estudante de psicologia Vanessa Alves Spíndola observou que sua filha, Luísa, então com quatro anos, estava “diferente”. A menina apresentava dificuldade para se alimentar, algumas pequenas manchas roxas na região da canela e suor noturno. A mãe procurou o pediatra para um check-up. Embora o médico não notasse nada relevante clinicamente, após pedido da mãe, solicitou alguns exames de sangue.

A partir de um hemograma alterado que apontou a queda na taxa de hemoglobina, alterações nos glóbulos brancos (células de defesa) e diminuição de plaquetas, Vanessa iniciou uma saga em diferentes hospitais para saber o que sua filha tinha até ser diagnosticada: ela estava com leucemia linfóide aguda do tipo B. Luísa iniciou o tratamento quase que imediatamente.

No próximo dia 8 de abril, quando é celebrado o Dia Mundial de Luta contra o Câncer, a atitude de Vanessa, que acompanhou os sinais e sintomas e insistiu na realização dos exames da filha que possibilitaram o diagnóstico precoce da leucemia, é um exemplo a ser seguido.

Isso porque, em países desenvolvidos, a taxa de cura do câncer em crianças e adolescentes supera os 70%, mas em países em desenvolvimento, como o Brasil, essa porcentagem é menor devido à demora no diagnóstico, o que faz com que as pessoas de zero a 19 anos iniciem o tratamento em estágios mais avançados da doença, entre outros aspectos que dificultam melhores perspectivas.

Sobre os sinais e sintomas gerais do câncer infantojuvenil, o médico onco-pediatra Dr. Neviçolino Pereira de Carvalho Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), explica que eles são inespecíficos e semelhantes a outras doenças comuns nessa faixa etária.

“Mesmo assim, os familiares, ao observarem a persistência ou a piora progressiva de sinais e sintomas, devem levar os filhos a um pediatra, que fará uma anamnese, exame físico e poderá solicitar outros exames complementares para investigação e confirmação do diagnóstico”, explica o especialista.

Vanessa conta que “antes do diagnóstico na Luísa, sabia pouco sobre os sintomas do câncer infantil e jamais imaginava que um dia minha filha seria acometida por uma leucemia”. A doença apresenta como principais sinais e sintomas palidez, fraqueza, manchas roxas, febre, sangramentos espontâneos, ínguas aumentadas de tamanho em vários locais do corpo, dor nas juntas, dores nos ossos, entre outros.

Cura – Em junho de 2021, Luísa bateu o sino, momento simbólico em hospitais do câncer, para anunciar que um paciente concluiu o tratamento. Em julho deste ano, a menina completará cinco anos de remissão da leucemia, quando poderá ser considerada curada, além de três anos fora de tratamento quimioterápico.

O acompanhamento médico ainda seguirá com monitoramento, mas as consultas e exames tornam-se cada vez menos frequentes. Esse ato de monitorar o pós tratamento é necessário, já que existe a possibilidade de retorno da doença, o que no caso da leucemia chega a 20%, segundo os especialistas.

“Enfrentar o câncer infantil é uma guerra diária. E mesmo quando você termina o tratamento, a batalha ainda segue. São marcas e lembranças que talvez eu nunca supere completamente”, relata Vanessa, orgulhosa pela proximidade de a filha ser considerada curada.

Essa etapa, no entanto, nem sempre faz parte da realidade de outras crianças e jovens no Brasil, onde o câncer é a segunda causa de morte nessa faixa etária, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Estimativas do INCA também apontam que, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, são esperados 7.930 novos casos de câncer entre crianças e jovens, sendo que, apenas em 2021, foram registradas 2.425 mortes nessa faixa etária decorrentes de cânceres como a leucemia, linfoma, neuroblastoma, retinoblastoma e tumores de Sistema Nervoso Central (SNC).

“Todos os dias que olho para Luísa, lá no fundo de seus olhos, eu vejo uma sobrevivente. Vejo uma garotinha que talvez não tenha ideia do que teve que suportar para simplesmente viver. As lágrimas correm. Por isso, eu luto para levar informação a outros familiares, porque o diagnóstico precoce pode salvar vidas e a doação de sangue e medula também”, conclui Vanessa, que mantém um perfil no Instagram no qual compartilha essa experiência (acesse: @vanessa_spindola123).

Fonte:

Administradora de empresas e estudante de psicologia Vanessa Alves Spíndola

Médico onco-pediatra Dr. Neviçolino Pereira de Carvalho Filho, Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE)


Deixe um comentário