A dislexia, um transtorno do neurodesenvolvimento, surge como um desafio significativo para a leitura e compreensão da linguagem.
Reconhecida como um transtorno específico de aprendizagem, a dislexia manifesta seus sintomas de forma mais evidente no desempenho escolar dos indivíduos acometidos pela condição. É importante notar que tais dificuldades não são atribuíveis a outras condições neurológicas, sensoriais ou motoras.
Indivíduos diagnosticados com dislexia demonstram uma configuração cerebral distinta no que diz respeito aos processamentos linguísticos ligados à leitura. A disfunção disléxica implica uma dificuldade intrínseca em associar os símbolos gráficos, ou seja, as letras, com os sons que elas representam, além de encontrar desafios na organização mental desses elementos em uma sequência temporal coerente.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria (APA, na sigla em inglês), a prevalência de transtornos de aprendizagem é de 5 a 15% entre crianças em idade escolar, em diferentes idiomas e culturas.
De acordo com a Associação Internacional de Dislexia (IDA, na sigla em inglês), a dislexia afeta 10% da população mundial. A associação calcula que haja mais de 700 milhões de pessoas disléxicas no mundo. E estima-se que haja mais de 8 milhões de pessoas com dislexia no Brasil.
Sintomas da Dislexia
A dislexia apresenta um conjunto de sintomas, os quais podem variar em sua manifestação e intensidade de pessoa para pessoa.
Na leitura, os indivíduos com dislexia enfrentam dificuldades em decodificar palavras e cometem erros na identificação de palavras, mesmo as mais comuns. A leitura oral é geralmente lenta e imprecisa, com falta de fluência, ritmo inadequado e entonação aquém do esperado para a idade e escolaridade. Isso resulta em prejuízo na compreensão de textos devido à dificuldade na decodificação, além de apresentarem vocabulário limitado.
Na escrita, são observados erros frequentes de soletração e ortografia, mesmo em palavras comuns, além de omissões, substituições e inversões de letras e sílabas. A produção textual é caracterizada por uma velocidade inferior ao esperado para a idade e a escolaridade.
Quanto à linguagem oral, os sintomas incluem atraso no desenvolvimento da fala e dificuldade em formar palavras corretamente, como trocas na ordem dos sons e confusão entre palavras semelhantes. Além disso, há problemas de pronúncia, como trocas, omissões, substituições, adições e misturas de fonemas, bem como dificuldade em nomear letras, números e cores. As atividades que envolvem aliteração e rima também são desafiadoras, assim como a expressão clara e precisa.
Fatores de Risco e Proteção
Entre os fatores de risco estão problemas no processamento fonológico, na linguagem oral, na atenção e na visão, além da falta de experiências precoces com a linguagem oral e escrita, recursos limitados e a presença de professores pouco preparados. A exposição a traumas e outros fatores ambientais adversos também é considerada um fator de risco significativo. É importante ressaltar que esses fatores de risco podem interagir entre si, aumentando ainda mais o impacto sobre o desenvolvimento da dislexia.
Por outro lado, há uma série de fatores de proteção que podem mitigar os efeitos negativos da dislexia e promover um melhor resultado no desenvolvimento e aprendizado. Entre esses fatores estão a mentalidade de crescimento, a perseverança diante do fracasso, o apoio tanto de professores quanto de pais, uma formação docente de qualidade, recursos suplementares e um currículo de leitura bem estruturado.
Destaca-se que a intervenção precoce e de qualidade é o principal fator de prevenção e manejo da dislexia. Ao reconhecer e abordar esses fatores de risco e proteção, educadores, profissionais de saúde e pais podem trabalhar juntos para oferecer o suporte necessário e garantir que os indivíduos afetados pela dislexia tenham a melhor chance possível de alcançar seu potencial acadêmico e pessoal.
Dislexia e TDAH
Enquanto a dislexia afeta principalmente a capacidade de leitura, soletração e compreensão da linguagem escrita, o TDAH se manifesta em problemas de atenção, controle impulsivo e comportamento hiperativo. Ambas as condições podem influenciar o desempenho acadêmico e o funcionamento diário, mas suas características e áreas de impacto são distintas.
É crucial destacar que, embora essas condições possam coexistir em alguns casos, é fundamental uma avaliação precisa por parte de profissionais qualificados para determinar os diagnósticos corretos e implementar planos de intervenção personalizados.
Diagnóstico
No Brasil, a avaliação da dislexia é tipicamente conduzida por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de diversas áreas. A composição dessa equipe varia de acordo com os sintomas apresentados e a instituição responsável pela avaliação. Geralmente, a equipe inclui psicólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos, médicos (como pediatras, neuropediatras, neurologistas e/ou psiquiatras) e psicopedagogos. A vantagem da equipe multidisciplinar é garantir uma avaliação integral, em que cada profissional contribui com entendimentos e olhares específicos de sua área de conhecimento. Para que a avaliação multidisciplinar funcione, é fundamental que a equipe se reúna e compartilhe os resultados das avaliações especializadas, chegando a uma conclusão representativa de todas as áreas investigadas.
As habilidades matemáticas também são avaliadas durante o processo diagnóstico. Alguns alunos com dislexia podem ter dificuldades em memorizar e nomear informações numéricas, como a tabuada, mas demonstram habilidades matemáticas adequadas na realização de cálculos e resolução de problemas. É importante considerar se as dificuldades encontradas são apenas consequências da dislexia ou se indicam um transtorno específico de aprendizagem em matemática, conhecido como discalculia.
Dislexia é hereditária. Estima-se que entre metade e um terço das pessoas com dislexia tenham um parente disléxico
Tratamento
Não há prescrição de medicamentos para quadros de dislexia, e sim adaptações pedagógicas aliadas ao atendimento especializado de um profissional da área de saúde ou educação (psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo ou professor de educação especial). O processo de intervenção varia de acordo com a dificuldade e as necessidades do indivíduo.
O foco do trabalho interventivo deve ser fortalecer o processamento fonológico da pessoa com dislexia. Para tal, devem-se considerar as habilidades, as dificuldades e a idade da criança, adolescente ou adulto. Como a maior dificuldade da dislexia é aprender a ler, o trabalho interventivo deve se basear em métodos de alfabetização considerados eficientes para alunos com dificuldades de leitura.
O Instituto ABCD, organização que se dedica a criar produtos e serviços que impactam positivamente na vida de disléxicos no país, recomenda a alfabetização estruturada que foque habilidades específicas que o disléxico precisa adquirir e/ou fortalecer. A pessoa com dislexia se beneficia do ensino explícito, direto, individualizado, multissensorial, sequencial, diagnóstico e preventivo.
Por ser uma condição crônica que persiste ao longo da vida, a dislexia não tem cura. Crianças que apresentam níveis mais baixos de leitura geralmente continuam a experienciar dificuldades ao longo da vida se não receberem uma intervenção de alta qualidade. Nunca é tarde demais para procurar ajuda.
Quando se trata de criança ou adolescente, é importante que a escola também receba um relatório contemplando estratégias de ensino e outras recomendações para atender às necessidades do aluno.
Fonte: Tecnologias que auxiliam – EduEdu – Com mais de dois milhões de downloads na Play Store desde 2019, o aplicativo EduEdu se consolidou como uma solução tecnológica acessível para apoiar a alfabetização de crianças dos anos finais da educação infantil (4 e 5 anos de idade), e do 1º ao 3º ano do ensino fundamental. O aplicativo foi desenvolvido pelo Instituto ABCD e pensado especialmente para ajudar crianças que enfrentam dificuldades para aprender a ler e escrever.