Antes de mudar hábitos de vida, casal tentou fertilização in vitro e não deu certo. Com um semestre de mudanças no estilo de vida, engravidaram naturalmente. Tanto para a mulher quanto para o homem, exercícios físicos são benéficos para melhorar a produção de hormônios importantes para a gravidez
Amanhã é dia da Gestante, uma data que também ajuda a lembrar que pequenas mudanças podem trazer grandes resultados. Não existe vilão maior para o organismo que o sedentarismo. E além de tudo que já te contaram sobre ter uma vida sedentária, pode adicionar mais um malefício a essa conta: a infertilidade. A advogada Tatiana Pavan, de 33 anos, e o marido, o empresário Alex Soares Marques, de 37 anos, sabem bem disso. Após 3 anos tentando engravidar, em 2018, o casal sofreu um aborto espontâneo em 8 semanas. Em maio de 2019, tentaram fertilização in vitro e não conseguiram engravidar, mas orientados pelo Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, adicionaram atividade física à rotina, aliado a mudanças no estilo de vida e, em setembro do mesmo ano, conseguiram engravidar, naturalmente, do João Pedro, que nasceu em junho de 2020. “Além das causas naturais e do envelhecimento, sabemos que há um impacto da vida moderna e dos maus hábitos de vida nas causas da infertilidade. O sedentarismo e a obesidade, por exemplo, também dificultam muito a concepção de um filho”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. “Por outro lado, vários estudos relatam que praticantes de atividade física, desde que essa não seja totalmente desgastante, o praticante não faça uso de esteroides e a alimentação esteja correta, experimentam diversos benefícios, com maiores chances de conceber um filho”, acrescenta o médico.
Tatiana conta que o maior problema não era o peso. “Eu sou considerada uma pessoa magra, mas era bem sedentária; eu comia besteira, não engordava e não fazia atividade física. Não gostava mesmo, deixava isso muito claro. Meu marido ainda fazia uma atividade física alguns anos antes da gente tentar engravidar, mas como estávamos passando por esse processo de tentativas, ficamos bem estressados e ele não estava fazendo nenhuma atividade”, conta. Com a orientação do médico, o casal começou a fazer atividade física. “Eu ia para academia e pensava: ‘Meu Deus, se eu correr mais 5 minutos pode ser que eu consiga meu bebê’. Eu chorava muito por isso, mas ter essa rotina de exercícios me fez até pegar gosto de ir para academia. Mandávamos foto para o Dr. Rodrigo e sempre tivemos o incentivo dele. Também parei de exagerar em carboidratos, pizzas, hambúrgueres, porque eu pensava que se eu comesse ia prejudicar meu corpo. Faríamos uma nova fertilização em outubro; de maio até outubro, fomos para a academia praticamente todos os dias da semana. E em setembro conseguimos engravidar naturalmente, sem precisar de fertilização”, explica Tatiana.
De acordo com o especialista, homens que participaram de programas de fertilização in vitro e realizaram exercícios regulares moderados a vigorosos tinham concentrações de espermatozoides mais altas do que os homens menos ativos. “Esse é um dado importante, porque o hábito de vida de ambos, tanto do homem quanto da mulher, importa para o sucesso da fertilização”, explica o especialista. “É de vital importância que os médicos de fertilidade aconselhem as pacientes sobre os fatores de risco modificáveis do estilo de vida”, diz o Dr. Rodrigo.
Um dos grandes benefícios do exercício físico com relação à fertilidade está no melhor controle do peso. De acordo com o médico, além de favorecer o surgimento de doenças como diabetes e hipertensão, que podem causar problemas durante a gestação, a obesidade também possui influência direta sobre a fertilidade. “Nos homens, o excesso de gordura corporal prejudica a produção de testosterona, o que, além de reduzir o apetite sexual e causar dificuldades de ereção, também interfere na qualidade e quantidade de espermas. No geral, quanto maior o sobrepeso, menor é a qualidade, concentração e mobilidade do esperma”, ressalta o especialista. “Já nas mulheres, o peso inadequado também interfere na produção dos hormônios sexuais femininos, principalmente o estrogênio, o que, consequentemente, atrapalha o processo de ovulação. E, nesse caso, não se trata apenas da obesidade, já que mulheres excessivamente magras, como quem sofre de anorexia, também têm menor chance de engravidar, além de possuírem um risco maior de entrar na menopausa precocemente”, acrescenta o médico. “Meia hora de exercícios, três vezes na semana, já é suficiente para melhorar a qualidade do esperma”, diz o Dr. Rodrigo.
O médico também argumenta que a corrida está ligada a uma maior produção de serotonina, hormônio do prazer, ao mesmo tempo em que permite modulação do estresse, por meio da diminuição dos níveis de cortisol. “Altos níveis de estresse podem tornar as chances de um casal engravidar menores. Isso porque o estresse causa processos fisiológicos que podem interferir na produção de hormônios reprodutivos importantes, além de, no homem, favorecer o surgimento de proteínas inflamatórias que prejudicam a qualidade do esperma”, diz o especialista. “Nosso corpo é uma máquina de gastar energia, mas quando isso não acontece, podemos ter problemas de insônia, que também são prejudiciais à fertilidade. O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que, consequentemente, interfere na fertilidade.”
Segundo o médico, também há um benefício mental quando o paciente começa a praticar atividade física e superar seus próprios limites. “Isso acaba funcionando como um parâmetro para sua vida e, geralmente, ele consegue ter a mesma determinação na alimentação e também largando vícios como tabagismo e álcool, que também interferem negativamente na fertilidade”, diz o médico. Foi o que aconteceu com Tatiana quando melhorou toda a sua alimentação. “Realmente, a nossa mudança no estilo de vida fez com que pudéssemos realizar esse sonho; e nem a fertilização tinha dado certo por conta desse sedentarismo. Então, vários casais, vários amigos nossos que estão tentando engravidar, a gente sempre indica o nosso médico, mas também atividade física e melhora do estilo de vida porque, com certeza, isso faz toda a diferença. E essa mudança no estilo de vida me possibilitou a segunda gravidez”, explica Tatiana.
No entanto, o especialista faz uma ressalva: tudo em excesso faz mal, o que também vale para a realização de atividade física. “O excesso de exercícios físicos, o overtraining, também prejudica o funcionamento da hipófise e, por consequência, os níveis dos hormônios envolvidos na fertilidade. Além disso, muitas pessoas que realizam atividade física intensiva sem uma recuperação adequada fazem uso de medicamentos que simulam os efeitos da testosterona como forma de acelerar o ganho de massa muscular, o que pode causar impotência e perda de apetite sexual nos homens e desequilíbrios hormonais e dificuldade no crescimento do endométrio em mulheres, o que reduz as chances de gravidez e aumenta os riscos de aborto”, destaca o médico. “Caso o casal perceba que está tendo problemas para engravidar, é importante que ambos consultem um médico especializado, já que apenas ele poderá realizar uma avaliação e identificar a real causa do problema, recomendando assim o tratamento adequado ou, quando a causa da infertilidade não pode ser revertida, métodos de reprodução assistida”, finaliza o Dr. Rodrigo.
FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa