Médico e paciente devem discutir juntos os diversos tipos e indicações de analgesia
Desde a confirmação da gravidez, diversas são as dúvidas das futuras mamães, especialmente as de primeira viagem. Algumas delas, no entanto, podem ser facilmente resolvidas com uma boa conversa com um especialista. É o caso da anestesia para o parto. Várias são as técnicas e indicações, e ninguém melhor do que o médico anestesiologista para explicar às gestantes como funciona todo o processo de analgesia, e quais as indicações para cada caso.
As anestesia regionais, entre as quais se destacam os bloqueios neuroaxiais (peridural, raquianestesia e combinada raqui-peridural) são as mais utilizadas, explica o Dr. Carlos Othon Bastos, membro da Comissão Científica da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (SAESP) e ex-presidente do Comitê de Anestesia em Obstetrícia da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Aplicadas adequadamente, são capazes de abolir completamente a dor de qualquer fase evolutiva do trabalho de parto, inclusive no parto normal.
“O parto normal, com a utilização de técnicas adequadas de analgesia espinhal, apresenta inúmeras vantagens para o binômio materno-fetal”, afirma Dr. Carlos.
Além disso, explica ele, a anestesia diminui a sobrecarga cardiorrespiratória materna, que pode se tornar bastante intensa na progressão do trabalho de parto.
“Ao aplicar a anestesia, reduzimos a liberação de catecolaminas e outros hormônios e substâncias ligadas ao estresse e à dor, o que repercute de forma positiva sobre o concepto contribuindo para a manutenção de adequado fluxo sanguíneo útero-placentário”.
Os avanços da anestesia
Um recente marco na anestesiologia foram os diversos estudos favoráveis e consequente proliferação do uso de opioides espinhais na década de 1990, permitindo a redução significativa da concentração e da dose de anestésicos.
“Estes fármacos possibilitam a abolição da dor, porém mantêm o tônus motor e o equilíbrio necessários para um bom andamento do parto”, explica o anestesiologista.
Mitos e verdades
Um equívoco bastante comum é achar que a anestesia pode prejudicar a dilatação do colo do útero durante o trabalho de parto.
“Se realizada de forma adequada, com fármacos em quantidades e concentrações ideais, a anestesia regional interfere de forma mínima e, às vezes, até mesmo benéfica na evolução da dilatação do colo uterino. Assim, causamos diminuição insignificante da força motora, mantendo a capacidade da parturiente de atuar de forma ativa para o nascimento do concepto por meio dos esforços expulsivos”, pondera dr. Carlos.
Prevenção de riscos
Apesar dos benefícios da peridural, há algumas contraindicações. Mulheres que apresentem distúrbios adquiridos ou congênitos de coagulação, ou portadoras de algumas cardiopatias e doenças neurológicas, não devem se submeter a esse procedimento anestésico. Nestes casos, é necessário disponibilizar métodos alternativos de analgesia, como técnicas sistêmicas, para que não se privem do alívio da dor.
Complicações ocasionadas pela anestesia, embora raras, podem acontecer. Por isso, a anestesia deve ser realizada por médico anestesiologista, que é o profissional adequadamente treinado para o procedimento. Além disso, ter os equipamentos necessários para a analgesia e monitoramento da parturiente e do feto é imprescindível para identificar e tratar precocemente eventual intercorrência.