É isso mesmo. Já estava na hora. Os tempos mudaram. Vez ou outra eu me lembro de um tio, já falecido e possuidor de uma razoável fortuna, que viajava o mundo em busca de tratamentos para conseguir ter filhos. Só soube disso quando eu já beirava os trinta anos. Era um segredo de família que só meu pai, seu irmão, sabia. Uma intimidade familiar. Era uma época em que viagens ao exterior eram privilégios dos ricos, viagem de longa duração pelo tempo de vôo ou de navio. As passagens eram inacessíveis à classe média. Os contatos eram por carta e cartões postais e jamais se imaginava que um dia existisse a Internet ou o celular.
Infertilidade masculina? Quase impossível. A dificuldade em ter filhos era sempre da mulher. Por incrível que pareça, mesmo nos dias de hoje, recebo mulheres na minha clínica, casadas com homens resistentes a pesquisarem a sua fertilidade. Fundamentam a sua negativa com histórias que “eu sou normal”, “se ela não tiver nenhum problema, eu faço esses exames” ou pior “quando eu era adolescente, engravidei uma namorada” – este último comentário é indelicado, inconveniente e completamente desnecessário.
Mas os tempos mudam e a novela “Fina Estampa” traz à tona o que já é conhecido há séculos, mas os tabus impediam de ser revelado: “A infertilidade pode ser deles”. E nada mais oportuno que dizer que a pesquisa da fertilidade é tão fácil que pode ser realizada antes mesmo do desejo de ter filhos, pois isso evita problemas que impeçam a gravidez e, quanto antes feitas, possibilitam tempo suficiente para um tratamento sem o estresse do desejo imediato da concepção. Além do mais, muitas mulheres não precisariam usar uma contracepção desnecessária e que, na maioria das vezes, causa efeitos colaterais desagradáveis. O mundo está menor, as informações muito próximas e acessíveis a todos, os mitos caindo e os casais inférteis quase sempre conseguem ter filhos.
Segundo pesquisas, sabemos que o homem é responsável por cerca de 30% a 40% dos casos em que o par enfrenta problemas para engravidar. Em conjunto com algum fator feminino, mais 20%. Dessa forma, no mínimo 50% dos casos de infertilidade contam com a participação masculina. Isso acontece porque para que fertilize o óvulo o espermatozóide precisa ter uma série de propriedades: formato oval, movimentos direcionados, reconhecer e aderir ao óvulo e, posteriormente, penetrar no seu interior para fertilizá-lo. Então, o potencial de fertilização masculino depende da integração de todas essas propriedades, que contribuem para sua competência. Além disso, ao entrar pelo útero e tubas (trompas), o espermatozóide sofre uma serie de modificações capazes de torná-lo apto para fertilizar o óvulo. Essas mudanças recebem o nome de capacitação espermática e, sem ela, a fecundação não seria possível.
As causas de infertilidade masculina podem ser classificadas em: pré-testiculares (alterações que ocorrem no sistema hormonal levando o homem a não produzir espermatozóides adequados), testiculares (doenças dos testículos em si) e pós-testiculares (abrange problemas do sistema de ductos que transportam os gametas masculinos para o exterior).
Os homens podem apresentar ausência de espermatozóides no ejaculado, mesmo quando o testículo é capaz de produzi-los. É a azoospermia escretora. Neste grupo de pacientes, as enfermidades mais comuns são as malformações congênitas, infecções, traumatismos e a vasectomia, que interrompe o trajeto dos espermatozóides. Já a azoospermia secretora é quando os testículos não produzem espermatozóides. Alguns exemplos do problema são as doenças congênitas, infecção dos testículos, caxumba, uso de medicamentos para o tratamento de câncer, entre outros. Há também a oligospermia, que é a baixa quantidade de espermatozóides, que igualmente pode ser causada por anomalias congênitas.
A diminuição do número de motilidade dos espermatozóides, ou oligoastenospermia, é outro problema masculino. Ela pode ser causada por distúrbios hormonais, alterações testiculares, inflamatórias e gerais, que são aquelas relacionadas aos aspectos profissionais, psíquicos, infecções em geral, medicamentos, tabagismo, alcoolismo, estresse e outros fatores. Qualquer alteração na morfologia do espermatozóide é chamada de teratozoospermia e os principais responsáveis por este mal são inflamações, algumas drogas, origem congênita e a varicocele.
A varicocele é uma dilatação anormal das veias, semelhante às varizes, que drenam o sangue dos testículos. É classificada em quatro graus, desde os casos mais simples até os mais avançados. A associação entre varicocele e a anormalidade no tamanho do testículo é conhecida há séculos. É muito comum e pode ser considerada uma causa de infertilidade masculina corrigível.
A infecção genital também pode ser um fator importante de infertilidade masculina. As bactérias Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e os micoplasmas são as mais freqüentes e podem comprometer a fertilidade do homem. Normalmente, o diagnóstico é realizado por meio de exames laboratoriais. No entanto, a ultrassonagrafia da próstata transretal ou pélvica, pode ser um auxílio para diagnosticar inflamação crônica da próstata e vesícula seminais. Atualmente, contamos com dois novos exames: a Fragmentação do DNA Espermático e o Espermograma Magnificado. Estas duas alterações têm sido responsabilizadas não só pela infertilidade como causadoras de abortos.
A avaliação da fertilidade do homem é baseada na história clínica, como os antecedentes de infecção, traumas, impotência e tabagismo, entre outros, além do exame físico, espermograma e, em casos especiais, exames genéticos. Geralmente, para a conclusão do diagnóstico, por meio do espermograma, é necessário que este exame seja repetido por três vezes. Porém, é necessário saber o que é relevante nesta pesquisa, para que ninguém se perca em resultados superficiais que levam o casal, muitas vezes, a perder tempo e dinheiro, além de sofrer o desgaste psicológico presente neste tipo de tratamento.
O meu tio, que citei no início deste artigo, era rico, viajado e não teve filhos. Se fosse hoje, provavelmente eu teria mais primos.