Método é benéfico tanto para o bebê quanto para a mamãe
O contato entre mãe e bebê prematuro a partir da posição canguru reduz a dor do recém-nascido. Segundo uma pesquisa realizada pela enfermeira Thaíla Corrêa Castral, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, quando mãe e bebê ficam mais tempo próximos foi constatado que o bebê sente menos dor. “A posição canguru permite o contato pele a pele. Isso, na prática, significa que o bebê está só de frauda, em uma posição vertical, entre os seios da mãe. Esta fica só de avental, deixando o colo livre para o contato com a criança”, explica Thaíla.
As expressões faciais e o choro do recém-nascido e uma análise psicológica do quadro da mãe serviram de base para análise e permitiram constatar que o estresse da mãe pode influenciar a regulação à dor e ao estresse do próprio bebê, influenciando no desenvolvimento da criança, já que esse estado altera os níveis de cortisol no organismo da gestante e altera a frequência cardíaca do bebê.
“Foi uma surpresa perceber que, quanto maior o cortisol da mãe, menor a frequência cardíaca do bebê. Pensamos que seria o contrário: quanto mais estressada estivesse a mãe, mais acelerado ficasse o coração do bebê”, aponta Thaíla. O canguru pode ser um dos fatores que está moderando isso, aponta a pesquisa como hipótese.
A pesquisa foi realizada com 42 mulheres e seus bebês, recrutadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), da USP. O momento de dor analisado foi o Teste do Pezinho, feito entre três e sete dias depois do parto e repetido após um mês no caso dos prematuros. Todos os bebês foram colocados na posição canguru por 15 minutos antes da realização da coleta de sangue do calcanhar, permaneceram na posição durante o exame e por mais 15 minutos depois de seu término.
No mestrado, Thaíla investigou a associação entre os fatores maternos: comportamento, estado emocional e humor e estresse; e a resposta à dor e ao estresse de prematuros submetidos ao Teste do Pezinho em posição canguru. O procedimento permitiu a comparação com o estado rotineiro, que era o do bebê no berço ou na incubadora durante o teste. Para tanto, coletou amostras de saliva antes e depois do exame, realizou filmagens da expressão facial dos bebês durante a coleta do sangue, além de psicólogas avaliarem o estado emocional e humor das mães por meio de entrevistas, dentro de uma semana após a coleta de sangue.
As filmagens passavam por uma microanálise. “As avaliações eram bastante complexas, com instrumentos sendo utilizados para captar tudo que acontecia segundo a segundo”, explica Thaíla. A expressão facial foi codificada por meio da Neonatal Facial Coding System (Sistema de Codificação da Mímica Facial Neonatal), que estabelece algumas expressões específicas que são indicadas como representando um momento de dor, como, por exemplo, o sulco labial aprofundado ou a proeminência das sobrancelhas. O bebê recebe uma pontuação final, baseado na porcentagem de tempo que ele fez a expressão de dor, no tempo de choro e na média da frequência cardíaca neonatal.
O comportamento da mãe foi codificado utilizando-se a escala Maternal Mood and Behavior during her Infant Pain Coding System (Sistema de Codificação do Humor e Comportamento Materno durante a Dor do seu Bebê). Ela é composta por 23 comportamentos maternos de interação mãe-bebê, como embalar, tocar e beijar. A pesquisadora realizou doutorado por um ano na University of British Columbia School of Nursing, em Vancouver, no Canadá, onde se capacitou para a observação da dor neonatal.
As amostras de saliva permitiram a medição dos níveis de cortisol, que refletiam o estado de estresse durante o procedimento doloroso. Isso ocorre porque o cortisol demora cerca de vinte minutos para responder ao organismo. Sua variação foi influenciada apenas pelo estresse da mãe.
Cuidados com o bebê e a família
O canguru é valorizado, mas não é feito com frequência, segundo Thaíla. Das mães que participaram do estudo, 70% estavam utilizando pela primeira vez. O método é sempre benéfico e diminui o quadro de dor dos recém-nascidos. É uma intervenção natural e sem custos, sendo efetivo mesmo quando a mãe apresenta um quadro de depressão e ansiedade.
A pesquisa de doutorado
A relação entre fatores maternos e a resposta à dor e ao estresse do prematuro em posição canguru traz à tona uma importante necessidade do procedimento pós-natal no Brasil: envolver a mãe no cuidado e atentar para seu perfil psicológico no período pós-parto. Os protocolos de assistência tem que ser revisados atentando para o fato de que a mãe é um importante regulador no bem-estar do bebê nos primeiros dias de vida.
“Precisamos encontrar alternativas que unam mãe e bebê, pois se provou que isso é benéfico para ambos. É importante atentar para mães com perfil de estresse e envolvê-las no cuidado, pois este se mostrou um ponto negativo durante a gestação”, avalia. É necessário que a mãe seja, então, capaz de regular o seu próprio estresse para ajudar o bebê a se recuperar de um evento doloroso de maneira satisfatória e a posição canguru pode ser um auxiliador neste processo de autorregulação do estresse.