Pesquisa em escolas com uso obrigatório registaram 7,2 casos (adquiridos na escola) para cada 100 mil casos adquiridos na comunidade. Enquanto, em escolas com uso opcional, foram registrados 26,4 casos (adquiridos na escola) para cada 100 mil casos comunitários.
As máscaras na escola são vilãs do aprendizado ou tem papel principal para proteção das crianças?
De acordo com a médica otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – ABORL-CCF Dra. Maura Neves, um estudo conduzido em escolas americanas durante a predominância da variante delta, publicado em março na Pediatrics (Academia Americana de Pediatria), o uso de máscaras é uma medida preventiva importante.
Dra. Maura trouxe os resultados da pesquisa que justificam essa interpretação, sabendo que foram monitorados cerca de 1,1 milhão de estudantes, desde o jardim da infância, até o Ensino Médio, em nove estados americanos, além de 157 mil pessoas entre o corpo docente (professores) e outros funcionários.
O objetivo de tal pesquisa foi detectar infecções adquiridas tanto na comunidade como na escola, e comparar a incidência com o uso de máscaras.
Assim, foram detectados 40 mil casos comunitários de Covid-19 (36 mil em estudantes) e 3.100 casos de infecção adquirida na escola, sendo 2800 entre alunos.
Ainda de acordo com o estudo, quando avaliado o uso obrigatório de máscaras em comparação com uso facultativo, o uso obrigatório reduziu em 72% de casos de Covid-19 adquirido na escola.
Dupla função das máscaras
“Escolas com uso obrigatório registaram 7,2 casos (adquiridos na escola) para cada 100 mil casos adquiridos na comunidade. E, nas escolas com uso opcional, foram registrados 26,4 casos adquiridos na escola para cada 100 mil casos comunitários”, informa a médica.
De acordo com a otorrino, esses dados mostram que o uso de máscaras nas escolas é uma medida preventiva importante em períodos de alta nas taxas de infecção, como foi observado com a variante ômicron ou com qualquer variante que escape ao sistema imunológico.
Dessa maneira, as máscaras têm função dupla: evitam que quem a usa inale partículas contaminantes e, acima de tudo, barram partículas expelidas por quem a usa.
No caso da Covid-19, isso é importante devido à transmissão entre assintomáticos. E não apenas este vírus tem esse comportamento. Na prática todos os vírus respiratórios se comportam assim”, acrescenta Dra. Maura.
Afinal, quando utilizar a máscara?
Como tudo tem dois lados, as máscaras também reduzem a integração social “para as crianças nas escolas, o fato de não ver o terço inferior da face de quem lhes fala e dos colegas atrapalha bastante”. Assim, a médica sugere que a obrigatoriedade de máscaras é mais efetiva quando seu uso está restrito a situações com alto custo-benefício, ou seja, diante da doença muito prevalente e com alto risco de vida.
“No dia a dia “sem” Covid e com a maioria da população infantil vacinada, o uso da máscara deveria ser adotado por pessoas com sintomas respiratórios, ou seja, que apresentem dor de garganta, coriza, espirros, febre e tosse, para diminuir a chance de contaminação do próximo, ou em ambientes com pouca ventilação e bastante aglomeração, por exemplo em transporte público e salas de aula”, finaliza.
Dra. Maura Neves
- Otorrinolaringologista
- Formação: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
- Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP
- Residência médica em Otorrinolaringologia no Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP
- Fellowship em Cirurgia Endoscópica Nasal no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP
- Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial – ABORL-CCF
- Doutorado pelo Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo — USP