Um comportamento alimentar comum na primeira infância, conhecido como seletividade alimentar, pode causar considerável estresse nos pais e um impacto negativo no relacionamento familiar.
Este fenômeno é proveniente de um conjunto complexo de interações da criança com os alimentos. Devido às diferenças culturais, existe variedade de percentagem de crianças seletivas em diversos países.
De acordo com estudo realizado em 2019, pelo periódico que publica artigos no campo da alimentação, nutrição e saúde, Demetra, a recusa alimentar ou aversão a determinados alimentos pode ser caracterizada como uma dificuldade alimentar (DA). Ela é descrita como 20 a 60% da população infantil no mundo. No Brasil, há dados de prevalência de 37% em crianças abaixo de seis anos na Região Nordeste e de 44% em São Paulo.
O estudo revela ainda que o tipo de DA mais frequentemente diagnosticado em crianças foi seletividade alimentar (46,9%), seguido por apetite limitado e interpretação equivocada dos pais (ambos com prevalência de 14,3%), causas orgânicas (8,8%), fobia alimentar (6,1%), agitação (4,1%) ou outras causas (5,4%).
Segundo a professora do curso de Nutrição e do Mestrado Profissional em Nutrição do Centro Universitário São Camilo, Deborah Masquio, as causas da seletividade alimentar podem ser biológicas e/ou comportamentais. “Se a criança está exposta em um ambiente onde a oferta de alimentos é mais restrita, ela está propensa à seletividade alimentar. Esta questão pode estar diretamente relacionada aos aspectos emocionais e como os pais lidam com o comportamento alimentar de seus filhos”, afirma.
A professora cita também a importância da alimentação materna durante a gestação. Por meio do contato com uma variedade de alimentos nutritivos, como frutas, verduras e legumes, os nutrientes e sabores dos alimentos são diretamente encaminhados ao bebê pelo líquido amniótico, proporcionando ao feto a formação do seu paladar. “Caso contrário, se a mãe não tiver uma alimentação variada, a formação do paladar da criança pode ser prejudicada. O aleitamento artificial, que expõe a criança a um único sabor, também é prejudicial ao seu desenvolvimento”, completa.
De acordo com Deborah, o comprometimento dos pais na educação alimentar dos seus filhos deve ser reforçado na fase pré-escolar, que vai dos 2 aos 6 anos de idade. “O alimento tem que ser oferecido de 8 a 10 vezes para que ele seja aceito. Eles devem oferecer os alimentos de uma forma responsiva, respeitando a vontade ou não do consumo. Devem insistir, mas não pressionar. Além de oferecer o mesmo alimento em diversas formas de preparação”.
Para casos de crianças seletivas, a apresentação dos alimentos deve ser gradual, iniciando pelo toque, depois o cheiro, a sensação da textura e, por último, a degustação. Caso a criança não tolere determinados alimentos, isto tem que ser respeitado”. Em casos graves de seletividade alimentar, a professora indica o acompanhamento de profissionais das áreas de Nutrição, Pediatria e Psicologia.
Professora do curso de Nutrição e do Mestrado Profissional em Nutrição do Centro Universitário São Camilo, Deborah Masquio.