Os alimentos ultraprocessados são aqueles que passam por técnicas e processamentos com alta quantidade de sódio, açúcar, gorduras, corantes, conservantes e outras substâncias que realçam o sabor e os tornam mais atrativos ao paladar.
No entanto, o prazer de consumi-los tem um preço alto: são alimentos pobres em nutrientes essenciais como vitaminas, sais minerais, água e fibras, além de prejudicarem os processos que sinalizam o apetite e a saciedade, estimulando o indivíduo a ingeri-los em excesso.
Na lista, estão incluídos enlatados, embutidos, congelados, sorvetes, preparações instantâneas, refrigerantes, salgadinhos, frituras, doces, gelatinas industrializadas, refrescos em pó, temperos prontos, margarinas, iogurtes industrializados, bolachas recheadas, achocolatados, entre outros.
Os fatores de riscos dietéticos são os principais contribuintes para a carga global de doenças responsáveis por cerca de 11 milhões de mortes (sendo 22% de todas as mortes em adultos). As principais doenças relacionadas a esta dieta são as cardiovasculares, diversos tipos de câncer, obesidade, hipertensão e o diabetes tipo 2.
No entanto, a dieta à base de ultraprocessados não impacta apenas a saúde física, mas também a mental. Segundo um estudo do Center of Epidemiologic Studies Depression, o aumento de 10% no consumo destes alimentos foi associado a um risco de 21% maior de sintomas depressivos.
Vale alertar que doenças psiquiátricas, como a esquizofrenia e a própria depressão, não diferem muito do diabetes, se levarmos em conta as alterações ocorridas no organismo em níveis moleculares.
Um exemplo são indivíduos acometidos por diabetes e depressão. Eles desenvolvem um estado de inflamação sistêmica leve, mas crônica. Por serem pró-inflamatórios, os alimentos ultraprocessados acabam gerando uma piora em ambas as doenças.
Outro ponto importante é a ligação entre o cérebro e o intestino. A relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a depressão pode ser explicada pelo efeito de alguns componentes usados ou produzidos durante o processamento industrial, já que aditivos destes alimentos ou as moléculas resultantes do aquecimento a alta temperaturas podem causar alterações na microbiota intestinal, que, sabidamente, interfere na função cerebral.
Isso ocorre porque a microbiota intestinal é responsável pela produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que regulam processos como aprendizagem, memória, prazer e bem-estar.
Um estudo publicado na revista Nature mostrou que altos níveis de estresse podem alterar a composição de bactérias intestinais que, por sua vez, podem influenciar o desencadeamento de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão.
Neste caso, ao analisar amostras de sangue de pessoas com depressão, foi observado que 35% delas apresentavam resquícios de bactérias pertencentes à microbiota do intestino, provavelmente ocasionado pela alta permeabilidade.
Dentro desta lógica, fica evidente que mudanças significativas na dieta são fortes aliadas no combate às doenças psiquiátricas, seja na prevenção como na recuperação.
Por Dr. Adiel Rios, Mestre em Psiquiatria pela UNIFESP e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP