O começo do andar e o afastamento do colo de seus pais.
O nosso desenvolvimento neuro-psico-motor tem um sentido crânio-caudal, ou seja, vai da cabeça para os pés. Assim, primeiro sustentamos o olhar, depois a cabeça e o pescoço, aí vem o tronco e aí sentamos, engatinhamos para depois ficarmos em pé e só aí andar. E cada um de nós tem seu ritmo próprio, seu tempo para chegar e passar por esses estágios.
Nós somos muito estranhos. Queremos propiciar todas as condições a nossos filhos, muitas vezes os estimulamos antes do tempo para que eles cresçam e adquiram autonomia e independência o quanto antes (para falar, retirar as fraldas, andar) e nem perguntamos a eles se eles estão preparados para isso.
Muitas vezes nos preocupamos com performances, competitividade, mesmo nessa idade, como se falar mais cedo, por exemplo, fosse sinal de mais inteligência e garantisse um melhor emprego no futuro.
E nessa fase, perto de 1 ano de idade (entre os 9 e os 18 meses), quando a criança está cada vez mais independente, mais inteligente e esperta, mais curiosa, por mais preparada que ela esteja, surge a última crise que vamos falar aqui, onde existe uma dúvida, um questionamento, um conflito entre o poder e o querer.
Ela ocorre quando a criança percebe que ela é estimulada a se mover (andar), mas que o seu cérebro ainda não consegue emitir essa “ordem” de forma efetiva e que essa iniciativa a levará para mais longe do colo dos seus pais e cuidadores.
Devemos estimular, acompanhar, amparar e oferecer o apoio e o suporte para que nossos filhos possam andar, mas apenas quando eles estiverem preparados física, neurológica e emocionalmente para isso. Essa será mais uma “fase de separação” a ser superada, e assim como em todas as outras crises, também vai passar de forma mais suave, mais rápida e definitiva quanto mais apoiada e amparada a criança se sentir.
Assim, se quisermos que nossos filhos estejam preparados para voos altos e seguros, precisamos oferecer condições físicas e emocionais para que eles se sintam independentes, mas que saibam que estaremos aqui quando for necessário, para orientar, amparar e curar as feridas que podem ocorrer até que eles estejam preparados para fazer o mesmo pelos seus filhos.
E assim passamos pelo primeiro ano do bebê e juntos tentamos compreender melhor o que se passa em seu desenvolvimento e que tanto nos “atormenta” porque… eles ainda não falam. E quando chega nessa fase, eu me lembro de uma frase que minha irmã (Esther), mãe da Talita, Melina e do Daniel, psicóloga de formação, em um momento de total desgaste (são 3 filhos), mas sempre com muito amor e humor, me dizia:
“Nós não vemos a hora de eles andarem e falarem, para implorarmos para eles sentarem e ficarem quietos por alguns instantes”.
E ela não deixa de ter razão. Afinal, cada fase deve ser curtida a seu momento. Antecipar pode trazer ansiedade e angústia. Carregar essas fases adiante pode tanto nos cansar como embaçar nossos sentidos na percepção da beleza do momento que vivemos.
Curtam, aproveitem cada segundo, cada momento porque esse que passou… já foi. E do futuro nós só podemos ter esperanças.
Mas a informação e o conhecimento podem sempre nos ajudar a curtir e a superar cada uma dessas fases com muito amor e humor, fortalecendo dessa forma, o vínculo familiar.
Até breve.