Hoje eu posso dizer que vou ser pai. É um ciclo que se completa, uma realização como nenhuma outra. Sempre encarei a paternidade como um grande objetivo da minha vida, uma realização pessoal. Enfim, chegou o meu dia.
Em 2017 com a chegada da minha sobrinha e por ter acompanhado e participado de tão perto de tudo a vontade de ser Pai ficou ainda mais latente e foi no mesmo ano em que o Conselho Federal de Medicina emitiu uma resolução que trata da barriga solidária no Brasil, ou seja, o procedimento médico, em geral feito por fertilização in vitro, de cessão temporária de útero que possibilita a casais homoafetivos e outras que não tenham útero ter filho.
E essa resolução trouxe o caminho para familias compostas por dois Pais e outras famílias que também não tenham útero. Quando decidimos embarcar nessa, ouvíamos muitas histórias de pessoas que foram enganados ao tentarem fazer o procedimento fora do país. Ou que contavam como é custoso o processo. Começamos a ler, pegar referências e, aos poucos, dar os primeiros passos.
Mesmo com informações escassas e uma carga de preconceito pela própria natureza do método, decidimos ir em frente na busca de realizar logo o nosso sonho. Principalmente durante a pandemia, o negócio ficou mais sério, e eu pensava comigo mesmo: a vida é agora, não posso esperar mais.
Tinha como meta crescer na carreira e, como resultado, garantir o bem-estar e a segurança do meu futuro filho ou filha. E uma questão não saía da minha cabeça: não terei direito a licença “maternidade” logo terei que pedir os 30 dias de férias e os 5 dias que os Pais geralmente tem de direito. Mesmo programando as férias para esse período, seria um tempo muito curto num momento tão importante.
Logo no começo conversei com a minha Diretora que estava no processo de barriga solidária e que em algum momento daria certo e que precisaria apenas de tirar 30 dias de férias. E quando o teste de gravidez deu positivo, a notícia foi recebida com muito respeito, carinho e um cuidado sem igual e isso foi de todas as pessoas que aos poucos começaram a saber e conhecer um pouco mais da nossa história. Minha gestora se mobilizou com meu caso. Ao mesmo tempo empresas começam a pensar diferente, evoluir. Fico muito feliz, por exemplo, de saber que a Visa acabou de anunciar a licença parental estendida de 14 semanas para o segundo tutor, um benefício que está disponível para todo tipo de formação familiar, no mundo inteiro. Esta é uma novidade concreta de apoio a diversidade e inclusão.
Menos rótulos, mais respeito e atitude
É um divisor de águas a gente começar a falar sobre esse assunto independentemente do gênero, de orientação sexual! Algo que vem junto com uma nova forma de se comunicar, com uma preocupação com a linguagem, sem rotular as pessoas e colocá-las em uma caixinha quadrada. Sem dúvida, esses avanços, políticas, regras e leis que têm sido criadas recentemente viabilizam muito nossa existência como grupo minoritário.
Mas, claro, ainda precisamos avançar. Aprendi, como membro do Comitê Pride da Visa, que não dá para reservar apenas o mês de junho para falar sobre diversidade. A nossa orientação sexual é de janeiro a dezembro e não somente no mês de Junho. Além disso, vejo no mercado muita gente levantando bandeiras, postando opiniões nas redes sociais, mas nem sempre isso vem acompanhado de práticas que realmente mudam o cenário.
Por isso, falo com orgulho da história da minha familias e da compreensão de quem esteve ao meu lado. Espero um dia mostrar para a Laura, minha filha, que é preciso amar o outro como ele é, sem querer mudar ninguém, ter sempre respeito. Ter uma filha significa uma oportunidade de devolver ao mundo todas as oportunidades e respeito que eu tive independente da minha orientação sexual afinal isso deveria ser um mero detalhe particular e não ser um crivo de separar o “Bom do Ruim”. Dar a Laura uma consciência de que as diferenças podem viver muito bem juntas e deixá-la segura o suficiente para se posicionar quando for questionada sobre a condição de ter dois pais.
Não vejo a hora de ter a minha filha nos braços e poder contar também para ela toda essa história.
Fonte: Por *João Henrique Costa, gerente de desenvolvimento de negócios da Visa