Tromboembolismo venoso responde por 9% de casos de mortes relacionadas à gravidez nos EUA
Relatório divulgado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) revela que 4 em cada 5 mortes na gravidez poderiam ser evitadas; dados destacam oportunidades para melhor proteger as mães
Mais de 80% das mortes relacionadas à gravidez poderiam ser evitadas nos Estados Unidos, de acordo com dados de um relatório dos Comitês de Revisão de Mortalidade Materna (MMRCs, na sigla em inglês), divulgado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), que analisou 1.018 mortes relacionadas à gravidez entre 2017-2019. As informações dos comitês em 36 estados americanos sobre as principais causas de óbito por raça e etnia podem ser usadas para priorizar intervenções que podem salvar vidas e reduzir as disparidades de saúde.
Entre as principais causas subjacentes de morte relacionada à gravidez nos EUA, o tromboembolismo venoso (TEV) foi responsável por 9% dos casos de óbito. Identificado no relatório como “embolia trombótica”, o TEV decorre da formação de uma trombose (coágulo de sangue) em alguma veia (em geral das pernas), e da migração de parte deste coágulo para os pulmões. Os sintomas da trombose nas pernas incluem dor, edema, enrijecimento e mudança da coloração. No caso da embolia pulmonar, que ocorre quando parte do coágulo se desloca para o pulmão causando uma obstrução da circulação pulmonar, os sintomas incluem desde quadros mais leves com dor torácica e certa falta de ar, até quadros críticos, levando à parada cardiorrespiratória e até a morte.
No Brasil, não há dados tão detalhados sobre a contribuição quantitativa da embolia pulmonar para a mortalidade materna. Porém, segundo dados do Ministério da Saúde, coletados entre os anos de 2010 e 2021, o número de internações relacionadas a tromboembolismo venoso ultrapassou 520 mil, com um total de mais de 67 mil óbitos entre 2010 e 2019. Para alertar, conscientizar e prevenir a doença entre profissionais da saúde, pacientes e entidades do governo e do terceiro setor, anualmente, em 13 de outubro, é lembrado o Dia Mundial da Trombose.
“O estudo do CDC, nos Estados Unidos, aponta que a maioria das mortes relacionadas à gravidez era evitável. Os dados revelam a necessidade de iniciativas de melhoria de qualidade nos sistemas de saúde, tanto público como privado, que garantam que todas as pessoas grávidas ou pós-parto recebam os cuidados certos no momento certo. Mas não somente os sistemas de saúde, também comunidades, famílias e outros serviços de apoio precisam estar cientes das complicações relacionadas à gravidez e serem envolvidos em medidas que evitem mortes desnecessárias”, enfatiza Erich de Paula, médico hematologista, professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH).
Para o especialista, em se tratando de TEV, o relatório do CDC é uma alerta para um cenário que tem tudo para ser muito semelhante no Brasil, onde o número de mortes maternas relacionadas à gravidez é infelizmente muito maior. “Os dados do estudo dos EUA chamam atenção para a necessidade de que tanto pacientes quanto profissionais da saúde estejam cada vez mais cientes das melhores práticas para prevenção do tromboembolismo venoso durante a gestação. Ele também mostra que sangramentos representam uma causa importante de morte relacionada à gestação, o que também deve servir de alerta para o uso exagerado de medicamentos anticoagulantes na gestação”, ressalta o médico hematologista.
Além da TEV (9%), o relatório do CDC aponta que as demais causas de morte relacionada à gravidez incluem as condições de saúde mental, incluindo óbitos por suicídio e overdose/envenenamento relacionado ao transtorno por uso de substâncias (23%); hemorragia (14%); condições cardíacas e coronárias (13%); infecção (9%); cardiomiopatia, uma doença do músculo cardíaco (9%); e distúrbios hipertensivos (pressão alta) da gravidez (7%).
O estudo pondera que a principal causa básica de morte varia por raças e etnias da população estadunidense. As doenças cardíacas e coronárias foram a principal causa subjacente de mortes relacionadas à gravidez entre negros; as condições de saúde mental, para pessoas brancas hispânicas e não hispânicas; e a hemorragia, para asiáticos não hispânicos.
Fonte: Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (SITH) e, no Brasil, por entidades médicas, entre as quais se destaca a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH).