Puberdade Precoce: a Pandemia fez as Crianças Amadurecerem mais Cedo

Estudos e indícios médicos mostram que as crianças começaram a fase de puberdade física mais cedo após os períodos de isolamento

Uma coisa é certa: ainda não sabemos todos os efeitos da pandemia de coronavírus na vida de crianças e adolescentes. Porém, algumas das mudanças decorrentes dos períodos de isolamento e quarentena já são perceptíveis, como a puberdade precoce.

“Chamamos de puberdade precoce o desenvolvimento que começa antes dos nove anos nos meninos, ou antes dos oito anos nas meninas”, explica a Dra. Ludmilla Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

De acordo com a profissional, a causa da puberdade precoce não é clara na maioria dos casos, no entanto, é perceptível que quadros dessa natureza têm aumentado – uma prova disso é um estudo feito no Hospital Infantil Bambino Gesù, em Roma, na Itália.

A pesquisa concluiu que, comparado ao ano anterior à pandemia de covid-19, os casos mais que dobraram em um ano, saltando de 118, em 2019, para 246, em 2020, conforme registrado pela Unidade de Endocrinologia da instituição.

Embora seja um estudo preliminar, ele reforça a impressão generalizada entre os profissionais de saúde de que houve, sim, um aumento no número de casos de puberdade precoce desde o início da pandemia.

“O que se sabe é que o início do amadurecimento sexual tem a ver com fatores genéticos e ambientais”, diz Ludmilla. “A idade da puberdade dos pais, o desenvolvimento no período fetal e até fatores como obesidade influenciam esse momento.”

Sinais (e consequências) da puberdade precoce

Nas meninas, o primeiro sinal de puberdade é o surgimento do broto mamário, com um pequeno aumento no volume das mamas. Já nos meninos, o fator primário é o aumento dos testículos, que costuma ser seguido, após cerca de 6 meses, pelo crescimento do pênis e o aparecimento dos pelos pubianos.

“A maturação sexual antes da faixa etária padrão pode trazer consequências negativas para as crianças, tanto físicas como psicológicas”, explica a Dra. Thais Mussi, endocrinologista e metabologista pela SBEM. “Uma das suas consequências, é a baixa estatura na vida adulta, já que o crescimento para de forma antecipada. A longo prazo, também pode aumentar o risco de câncer de mama, por exemplo.”

Outro ponto que chama a atenção nesse quesito é o fator emocional. Afinal, as crianças não sabem, ainda, lidar com as mudanças e com os sentimentos que surgem com elas. Para as meninas, o desconforto com o período menstrual e o risco aumentando de abuso sexual são duas questões reforçadas pela puberdade precoce.

Afinal, por que as crianças estão amadurecendo mais cedo?

“Uma das hipóteses que podemos destacar para o aumento dos casos de puberdade precoce é o aumento da obesidade e a exposição a certos produtos que estão acelerando esse processo. Substâncias presentes nos plásticos podem funcionar como disruptores do sistema endócrino, capazes de disparar mudanças hormonais”, continua a Dra. Thais.

Sabe-se, ainda, que as crianças ganharam mais peso, ficaram mais sedentárias e mais expostas às telas. “O uso de eletrônicos, além de estimular a inatividade física, também impacta o ciclo da melatonina, que também está associada à antecipação da puberdade”, diz.

É por isso que pais e responsáveis devem estar atentos às mudanças corporais dos filhos e levá-los ao médico endocrinologista quando notarem qualquer mudança nos corpos das crianças, para que seja iniciado um atendimento personalizado e, se necessário, um tratamento adequado.

Fonte:

Dra. Ludmilla Pedrosa, endocrinologista pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria. CRM 165215 @draludpedrosa

Dra. Thais Mussi, endocrinologista e metabologista pela SBEM 0 CRM 27542 – SP RQE 373

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