A dislexia é um transtorno específico de origem neurológica, encontrada em cerca de 20% da população mundial, independentemente de país ou cultura
Nesse transtorno, os indivíduos apresentam dificuldades para ler e escrever, há problemas na aquisição da fluência de leitura, decodificação e soletração de palavras. Os indivíduos com dislexia possuem déficit fonológico, cognitivo-linguístico, além de alterações nas habilidades motoras e visomotoras. Mas o que isso nos diz sobre essas pessoas?
O primeiro ponto relevante a compreender é que o indivíduo possui dificuldade, o que não é sinônimo de incapacidade. Pais, responsáveis e educadores não podem se prender ao rótulo “dislexia”. É preciso, de modo global, olhar e trabalhar para o desenvolvimento de todas as potencialidades que esses indivíduos possuem. Não podemos, enquanto sociedade, enfatizar as dificuldades e tratar os indivíduos de forma a reduzir suas capacidades, aumentando a pressão, causando problemas de confiança e de autoestima. Esse transtorno não inviabiliza ao indivíduo o prosseguimento nos estudos, sucesso profissional e relacional. A dislexia não conta tudo sobre o poder cognitivo dessas pessoas.
Pesquisa publicada pela doutora Helen Taylor e colaboradores da Universidade de Cambridge, que estudam a cognição, neurociência comportamental, concluíram que os dislexos são especialistas em explorar o desconhecido, sendo uma característica genética fundamental para adaptação humana em ambientes de mudança. Eles denominam essa característica de “viés exploratório”, que possui base evolutiva e tem papel crucial no nosso sucesso enquanto espécie.
Com base em resultados consistentes em vários domínios, do processamento visual à memória em todos os níveis de análise, a equipe da doutora Taylor argumenta que talvez o termo distúrbio neurológico não seja o mais preciso para dislexia. As descobertas publicadas na revista Frontiers in Psychology, em junho deste ano, possuem implicações tanto para cada disléxico quanto para nossa sociedade.
Essas pessoas possuem habilidades aprimoradas para realização de novas descobertas, invenções e criatividade. É preciso que as escolas explorem ao máximo esse viés cognitivo, uma vez que permite que a humanidade permaneça se adaptando aos contextos recentes de mudanças e desafios. Portanto, temos que romper com os rótulos advindos de diagnósticos e olhar para o indivíduo em sua totalidade. Auxiliar com as dificuldades e potencializar seus “dons” naturais.
Fonte: Viviane Oliveira de Melo é especialista em Neuroaprendizagem, Psicomotricidade e tutora dos cursos de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter na área de Neurociência.