Apesar de eficaz na contagem de espermatozoides, teste de fertilidade masculina encontrado em farmácias brasileiras não é suficiente para confirmar o diagnóstico de infertilidade, pois outros parâmetros também devem ser avaliados.
Por muito tempo, a infertilidade foi pensada como um problema exclusivamente feminino. Mas, é claro, isso não é verdade, com apenas 50% dos casos de infertilidade conjugal sendo provenientes de fatores exclusivamente femininos. A outra metade dos casos compreende infertilidade masculina, seja isolada (30%) ou associada à feminina (20%). Felizmente, os homens estão cada vez mais conscientes de que a dificuldade para engravidar pode estar relacionada a eles. Nesse cenário, o teste rápido de fertilidade masculina, que pode ser encontrado em farmácias brasileiras, vem se popularizado por supostamente permitir que qualquer homem verifique sua capacidade fértil rapidamente no conforto de sua casa. “O teste de fertilidade masculina tem como objetivo avaliar a contagem de espermatozoides através do método de tira reagente, semelhante aos testes de farmácia de gravidez, COVID e HIV. Após coleta e diluição adequada de acordo com as instruções do fabricante, o semên é depositado no dispositivo do teste, que possui uma substância que reage a proteinas específicas dos espermatozoides, alterando a cor da fita. Se duas linhas surgirem no visor, o resultado é positivo, indicando que o homem possui mais de 15 milhões de espermatozoides por ml de esperma. Se aparecer apenas uma linha, o resultado é negativo, indicando que a quantidade de espermartozoides por ml de esperma é menor do que 15 milhões”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. Mas, afinal, esses testes são confiáveis no diagnóstico de infertilidade masculina?
De acordo com o especialista, mesmo que todo o processo seja realizado de maneira adequada, o resultado do teste não é suficiente para confirmar problemas de infertilidade masculina e também não substitui os exames tradicionais, como o espermograma. “O teste de farmácia apenas avalia a contagem de espermatozoides, que não é o único indicador de fertilidade. Mesmo que o teste dê positivo, o homem ainda pode encontrar dificuldade para engravidar”, diz o médico. Logo, se o homem apresentar resultado negativo no teste ou se encontrar dificuldade para engravidar apesar do resultado positivo, o ideal é buscar um médico especialista em reprodução humana para passar por uma avaliação mais profunda. “O melhor exame para avaliar o potencial fértil do homem é o espermograma, que não apenas mostra a concentração de espermatozoides, mas também sua motilidade e morfologia, além do volume total de sêmen ejaculado e sua viscosidade. Com base nesses parâmetros, nós podemos estimar se o homem é fértil ou não. No caso de alteração do espermograma, podemos ainda realizar outros exames para avaliar a causa, como ultrassom de bolsa testicular, doppler para avaliar a presença de varicocele, exames hormonais e um exame para verificar a fragmentação do DNA espermático, que também pode ser causa de infertilidade e abortos de repetição”, afirma o médico, que ainda ressalta que a comprovação de fertilidade apenas se dá quando há a gravidez.
O grande problema de confiar apenas no resultado do teste, mesmo encontrando dificuldade para engravidar, é atrasar o diagnóstico adequado, visto que a concepção de um filho é uma verdadeira luta contra o tempo e, quanto antes diagnosticada e tratada a causa da infertilidade, melhor o prognóstico de gravidez. Logo, é fundamental que todos os casais que estão tentando engravidar há mais de um ano sem sucesso sejam investigados para que o diagnóstico e tratamento sejam realizados o quanto antes. “As causas de infertilidade masculina são variadas, mas estão ligadas principalmente a hábitos de vida: obesidade, tabagismo, abuso de álcool, alimentação inadequada, sono não reparador e sedentarismo. Varicocele, que é a dilatação e varizes das veias da bolsa testicular, fatores genéticos, que podem levar a redução ou ausência de espermatozoides, e hormonais, principalmente por abuso de esteroides anabolizantes, também são causas comuns de infertilidade masculina”, lista o médico. O tratamento da infertilidade masculina, por sua vez, dependerá da causa do problema. “Para a varicocele pode ser indicado tratamento cirúrgico. Já em casos de hábitos prejudiciais e obesidade, a melhora do estilo de vida, muitas vezes, já é suficiente”, diz o Dr. Rodrigo Rosa. “Mas existem casos que são realmente irreversíveis, por exemplo, sequelas de traumas e infecções ou fatores genéticos. Nessas situações, são indicados os tratamentos de reprodução assistida como a inseminação artificial e a fertilização in vitro, que podem ser realizados com espermatozoides do próprio paciente, quando é possível obtê-los através de uma pulsão ou biópsia do testículo ou do epidídimo, ou adquirido através de bancos de sêmen, de doadores anônimos. O ideal é discutir com o médico a melhor opção no seu caso”, finaliza o especialista
Fonte: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa