Estudo realizado com 1600 estudantes em 50 escolas, no estado do Rio Grande do Sul, mostrou que o excesso de células adiposas está relacionado ao surgimento da hipertensão
Em 4 de março, é comemorado o Dia de Alerta à Obesidade. A data, instituída pela OMS (Organização Mundial de Saúde), chama a atenção para este problema crônico que afeta, somente no Brasil, mais de 55% da população, segundo dados divulgados pelo IBGE.
Neste contexto, um recente estudo, divulgado na última edição da ABC Cardiol, periódico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), busca descrever a incidência da hipertensão e sua relação com o perfil cardiometabólico e genético em crianças e adolescentes.
A análise, publicada no artigo Incidência de Hipertensão Arterial está Associada com Adiposidade em Crianças e Adolescentes, foi realizada com dados do município de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, ao longo de três anos, o qual avaliou mais de 1600 estudantes em 50 escolas.
A presente pesquisa faz parte de um projeto maior, intitulado Saúde dos Escolares, que avalia crianças, adolescentes e jovens adultos da cidade e região. Um primeiro artigo produzido e já publicado, que é parte de uma dissertação de Mestrado, comparou fatores de risco cardiometabólicos de crianças e adolescentes brasileiros com valores de referência internacional.
Partindo desse ponto, a pesquisa foi aprofundada para a questão da incidência da hipertensão em crianças e adolescentes e sua relação com os demais fatores de risco.
“Existem poucos estudos que tratam deste tema, principalmente estudos longitudinais, de coorte, que acompanham os mesmos indivíduos ao longo do tempo.”, explica Leticia Welser, graduada em Educação Física, mestra e doutoranda em Promoção da Saúde, e principal autora do artigo.
Ela ressalta que estudos que abordam a incidência de hipertensão e sua relação com outras variáveis cardiometabólicas, incluindo informações do perfil genético, em crianças e adolescentes, são ainda mais escassos.
Em comparação com estudos anteriores, foi constatado um aumento na incidência de hipertensão em crianças e adolescentes, mais precisamente de 11,5%.
“Indivíduos com valores mais altos de Índice de Massa Corporal (IMC), Circunferência da Cintura (CC) e Percentual de Gordura (%GC) no baseline (coleta inicial) apresentaram maior probabilidade de desenvolverem hipertensão após 3 anos, sugerindo a importância da adiposidade neste processo, mesmo em uma população tão jovem”, diz Leticia.
A aplicação prática dos resultados do estudo passa pela prevenção, que deve ser realizada desde a infância. Leticia pontua a importância de um rastreamento regular para hipertensão, aliado a ações de promoção à saúde, como o aconselhamento para um estilo de vida saudável, e a prevenção de fatores de risco. “Além disso, são necessárias iniciativas de estudos de intervenção para que, desta forma, consigamos mudar o futuro da saúde desta população”, ela conclui
Fonte: Leticia Welser, graduada em Educação Física, mestra e doutoranda em Promoção da Saúde