Princípios ativos da planta auxiliam na sociabilidade de pacientes
O autismo está entre as patologias mais tratadas com cannabis medicinal no Brasil. Segundo o relatório anual da Kaya Mind, o distúrbio é a quinta principal condição atendida pelo tratamento à base de cannabis no país, com 6,7% do total, atrás apenas de dores crônicas, ansiedade, Alzheimer e depressão.
Não é por menos: pais, familiares e pacientes percebem a diferença em poucos dias de uso. “Temos presenciado casos impressionantes. De crianças que eram não-verbais e começaram a emitir sons, com intenção de se comunicar. Pacientes que tinham comportamento muito agressivo – inclusive de automutilação – e pararam na mesma semana em que o fármaco começou a ser administrado”, conta a Dra. Mariana Maciel, médica brasileira especialista em medicina canabinoide e que atua globalmente à frente da Thronus Medical, biofarmacêutica de origem canadense.
A médica lembra que não são apenas as crianças que podem se beneficiar com esse tipo de tratamento. “O fármaco auxilia igualmente crianças, adolescentes e adultos na parte cognitiva e comportamental com poucos efeitos colaterais – diferente dos alopáticos normalmente administrados para o mesmo fim”, explica.
Sociabilidade: uma importante chave para melhora
Independente da idade, pessoas com autismo comumente possuem dificuldades em interações sociais. Muitas, ainda, apresentam dificuldades de comunicação – podem não conseguir falar, ou podem falar muito bem, mas não conseguem manter uma conversa.
A medicina ainda tenta entender essas dificuldades, e estudos apontam que as respostas podem estar na serotonina e na dopamina. “Esses dois importantes neurotransmissores são responsáveis por regular nosso humor e trazer sensações de prazer e felicidade. E estudos demonstraram que níveis dessas substâncias são muito baixos ou muito altos em indivíduos com Transtorno do Espectro Austista, e por isso causam disfunção em certas regiões do cérebro, levando a altos níveis de comportamentos repetitivos e baixos níveis de interação social”, explica Dra. Mariana.
A ação protagonista do CBD no autismo se dá justamente nos receptores de serotonina e dopamina. O CBD tem ação moduladora no sistema chamado de GABA-glutamato, que sofre alterações importantes em pacientes com autismo. O CBD diminui a excitação dos neurônios, equilibrando a inibição e a agitação – muito comum nesses casos.
“Depois de iniciar o tratamento, essas pessoas conseguem participar de encontros sociais, vão à festas, passam a interagir melhor com familiares e amigos”, reforça a doutora Mariana.
É o que J.S, mãe de uma criança com autismo, conta: “Sempre levei meu filho a todos os lugares e muitas vezes tive que chegar e sair, pois ele gritava e não ficava. Tiveram momentos que pensei que nunca iria poder participar tranquilamente de reuniões, aniversários ou algum evento. Mas meu filho começou a usar a cannabis medicinal e essa semana, seis meses depois de começarmos o tratamento, já conseguimos ir a três festinhas. Vê-lo sentado, calmo, participando e socializando me deixou emocionada. A cannabis medicinal permitiu que meu filho tivesse vida social”.
Disfunção de Integração Sensorial (DIS): como o tipo de administração de um fármaco pode auxiliar no tratamento
Crianças com autismo também podem sofrer de Disfunção de Integração Sensorial (DIS), o que pode dificultar a administração de remédios.
A disfunção sensorial é composta por distúrbios que mexem na capacidade que o cérebro tem de entender os estímulos sensoriais. Cheiros, sabores, texturas, sons e luzes, por exemplo, podem ser estímulos desconfortáveis – e muitas vezes insuportáveis – para quem é autista.
O gosto e a textura do remédio podem ser incômodos para essas pessoas. Por isso, alternativas são sempre bem-vindas. Apresentações hidrossolúveis líquidas, é uma opção, pois pode ser diluído em alguma bebida de preferência, como um suco, por exemplo. A apresentação do fármaco no formato de gummies também tem se tornado uma ótima solução para estes pacientes. Por ter aspecto, formato e sabor de uma bala de goma tradicional de morango, essa forma de administração se torna uma opção mais saborosa, mastigável e mais fácil de ser dosada que outras formas tradicionais.
“É uma forma menos traumática e mais fácil para administrar a dose certa da medicação”, conclui Dra. Mariana.