Professora de nutrição do Centro Paula Souza ensina a ler rótulos dos produtos e explica os benefícios da versão do doce meio-amargo
Com a proximidade da Páscoa, uma simples ida ao mercado se transforma em uma aventura. Diante de tantas opções, qual chocolate escolher? É possível eleger um produto mais saudável? Com dicas e orientações de professora de nutrição do Centro Paula Souza, é possível optar pelo melhor alimento, levando em consideração a composição nutricional.
Tantos produtos à disposição do consumidor são resultado do fato de que o chocolate é muito apreciado pelos brasileiros. Apenas nos primeiros nove meses de 2022, 1,75 bilhão de itens foram vendidos, o que representou um aumento de 10,3%, comparado com o mesmo período do ano anterior. Esses dados são da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab).
“A leitura e o entendimento do rótulo são a melhor maneira para realizar a escolha do chocolate”, explica Gabriela de Lima Santiago, professora do curso técnico de Nutrição e Dietética na Escola Técnica Estadual (Etec) Irmã Agostina, localizada na Capital. “A partir da lista de ingredientes e da tabela nutricional é possível observar o grau de processamento do produto, as matérias-primas utilizadas e os nutrientes presentes.”
Ao analisar a relação de ingredientes de um chocolate, a nutricionista indica que o ideal é encontrar uma quantidade pequena de itens, bem como nomes que não soem estranhos aos nossos ouvidos.
“Sabe-se ainda que os ingredientes estão dispostos na lista em ordem crescente de quantidade, portanto, se o primeiro item não é algum derivado do cacau, provavelmente esse chocolate não é o melhor no quesito nutricional. Com a nova rotulagem de alimentos, é possível fazer uma avaliação rápida do perfil nutricional, já que termos como ‘alto em açúcar adicionado’ e ‘alto em gordura saturada’ estarão presentes na parte frontal da embalagem, dando maior autonomia ao consumidor.”
Quanto de chocolate posso consumir por dia?
Essa pergunta já passou pela sua cabeça? Gabriela explica que não existe uma recomendação que defina a quantidade mínima ou máxima de chocolate a ser consumida em um dia, já que há diferentes tipos de chocolates com características nutricionais variadas.
“O que se recomenda é que o consumo seja consciente e sem exagero, especialmente quando a escolha for pelo chocolate branco ou ao leite, já que estes costumam apresentar quantidades mais altas de gordura e açúcar de adição e menos compostos bioativos, que estão relacionados a benefícios específicos à saúde.”
Em uma pesquisa rápida, a nutricionista constatou que em um ovo de Páscoa de chocolate ao leite (300g) são encontrados 114g de açúcar de adição, ou seja, quase a quantidade total recomendada para uma semana inteira. Para se ter uma ideia, a recomendação diária de açúcares simples para um adulto saudável é de, no máximo, 10% em relação ao total de calorias consumidas. Por exemplo, se uma pessoa consome 2 mil calorias ao dia, o indicado é comer, no máximo, 20 gramas do chamado “açúcar de adição”.
“Vale lembrar que, ao comer um chocolate, esse item fará parte de um dia de alimentação, ou seja, não será a única fonte de açúcares simples e gordura”, afirma Gabriela. “Isso vale, principalmente, se o consumo do indivíduo for baseado em produtos ultraprocessados.”
Como acostumar o paladar ao chocolate meio-amargo
Por mais que o chocolate ao leite seja o favorito dos brasileiros informação que consta do levantamento da Abicab, o meio-amargo é uma ótima opção, quando se trata de qualidade nutricional. Porém, o produto, pela quantidade reduzida de açúcar, não agrada a todos.
“O paladar do ser humano é totalmente adaptável. Para que uma pessoa se acostume ao chocolate meio-amargo, ela não deve apenas focar a mudança no tipo de chocolate, mas precisa mudar de forma gradual o seu consumo global de açúcar. Isso pode ser feito em ações diárias, como por exemplo, reduzindo o açúcar adicionado no cafezinho e no suco ou a quantidade de achocolatado colocada no leite, bem como diminuindo o consumo de produtos ultraprocessados de sabor doce, como os refrigerantes em geral”, explica a nutricionista.
Gabriela ressalta que os chocolates amargos e meio-amargos têm maior porcentagem de massa de cacau, apresentando, assim, teores mais elevados de compostos fenólicos, responsáveis pelo sabor amargo do produto. A adaptação ao sabor também pode ser feita a partir da experimentação de chocolates com diferentes percentuais de cacau, escolhendo, inicialmente, versões com menores quantidades de cacau e evoluindo para opções com maiores teores.
É importante enfatizar que o período da Páscoa é curto e que o excesso de chocolate neste momento não será suficiente para causar, em uma pessoa saudável, os problemas citados acima. Por isso:
- Evite consumir o ovo de chocolate de uma vez só. Procure fracioná-lo, assim, você tem chocolate para vários dias;
- Não entre na moda do “ovo fit” se você não tem restrições alimentares. Aproveite a Páscoa e aprecie o seu chocolate, afinal, só temos essa data uma vez ao ano;
- Nesta Páscoa, o melhor ovo de chocolate que você pode escolher é aquele que você gosta, o seu preferido!
“É de extrema relevância olhar para o chocolate como um alimento cheio de significados e não apenas como um produto que pode ofertar mais ou menos açúcar, gordura ou compostos bioativos. Ao consumir um chocolate podemos lembrar de momentos ou pessoas específicas e sentir emoções únicas com sua degustação”, finaliza Gabriela.
Fonte: Gabriela de Lima Santiago, professora do curso técnico de Nutrição e Dietética na Escola Técnica Estadual (Etec) Irmã Agostina
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