A gestação é um momento especial e de redobrar a atenção com a saúde. Isso porque algumas doenças como hipotireoidismo, hipertireoidismo, diabetes e o ganho de peso em excesso podem trazem complicações não só para a mãe, mas para o bebê também.
Abaixo, a endocrinologista Dra. Lorena Lima Amato explica os riscos embutidos em cada uma dessas patologias na gestação, mas conforta: “Com o acompanhamento do obstetra e do endocrinologista, a gestação pode ser saudável e tranquila”.
- O diabetes é um impedimento para engravidar?
Não, mas é preciso manter o tratamento e controle da doença para que mãe e bebê permaneçam saudáveis. Gravidez com diabetes mal controlado eleva as chances de malformação fetal, complicação gestacional e neonatal e aborto. Bebês nascidos de mães com diabetes mellitus mal controlado correm o risco de uma variedade de desfechos adversos: hipertensão gestacional (14,6%), parto prematuro (10,9%), recém-nascidos pequenos para a idade gestacional (6,5%) e internações em unidade de terapia intensiva (UTI). Ainda pode ocorrer aumento do índice de cesarianas e distócia por macrossomia.
- Os hormônios se alteram na gestação. Como o diabetes se comporta nesse caso?
As alterações hormonais (aumentos de lactogênio placentário, estrogênio, progesterona) induzem resistência à insulina durante a gravidez e podem revelar defeitos latentes das células beta em mulheres com predisposição. Em geral, o controle glicêmico deve ser mais rigoroso, mas esses detalhes variam para o tipo de diabetes que estamos tratando, seja ela pré-gestacional, tipo 1, 2 ou diabetes gestacional
- E mulher com hipotireoidismo, quais os riscos durante a gestação?
Os hormônios produzidos pela glândula tireoide são essenciais para a saúde da mãe e do bebê. Durante a gravidez a tireoide passa a ser ainda mais exigida, pois precisa dar conta do metabolismo da gestante e da criança. Os níveis adequados de hormônios tireoidianos são essenciais para que o desenvolvimento neurológico do feto ocorra normalmente. A tireoide do bebê só começa a ser formada a partir da 20ª semana de gestação, até lá, todo hormônio tireoidiano que o bebê precisa para se desenvolver é de origem materna.
A deficiência dos hormônios tireoidianos durante a gravidez pode levar a diversos problemas de saúde tanto para mãe, como o aumento da pressão arterial, abortos e partos prematuros, quanto para o bebê, como problemas mentais, déficit cognitivo e aparecimento de bócio.
- E quanto aos problemas da tireoide na gestação?
Antes mesmo de engravidar, a orientação é investigar se a tireoide está produzindo hormônio adequadamente, já que tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem ser fatores para infertilidade.
Comprovada a gestação, é preciso avaliar a função tireoidiana através da dosagem do TSH. Se detectada alteração, o tratamento deve ser prontamente iniciado. Para as mulheres que já têm doença tireoidiana, é essencial que esta esteja bem controlada já no planejamento da gravidez.
- Como deve ser o tratamento do hipotireoidismo durante a gestação?
É preciso alterar a dosagem hormonal desde o início, já que as necessidades variam durante a gestação, e o monitoramento dessa dose deve ser muito frequente. O hormônio tireoidiano (levotiroxina) é seguro para ser usado tanto na gestação como na fase de amamentação, não fazendo mal ao bebê.
- O ganho de peso é outro fator importante nessa fase da mulher. Qual o limite considerado ideal na gestação?
Mulheres que apresentavam baixo índice de massa corpórea (IMC) antes de engravidar, podem ter um ganho de peso entre 12k e 18 k. Já aquelas com o IMC adequado entre 11k e 16k. Mulheres com sobrepeso antes da gestação, podem ficar entre 7k e 11k, e quelas com obesidade na faixa de 5k a 9k.
- Quais os riscos do ganho de peso além do considerado normal na gestação?
O ganho de peso excessivo pode trazer diversos problemas para a mãe e para o bebê, como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro, além de aumentar o risco de cesariana e dificuldades no parto normal.
- Qual a recomendação para não ter excesso de ganho de peso na gravidez?
É muito importante manter uma alimentação saudável e equilibrada, rica em nutrientes essenciais para a saúde da mãe e do bebê. Aquele ditado “preciso comer por dois” é uma grande fake news. Além disso, é importante praticar atividades físicas adaptadas para gestantes, com acompanhamento de um profissional de educação física e com o monitoramento do obstetra.
Ressalto ainda que cada gestação é única e pode atender necessidades específicas, por isso é fundamental que a gestante faça acompanhamento médico regular e siga as orientações dos especialistas que fazem o acompanhamento.
Fonte: Dra. Lorena Lima Amato – A especialista é endocrinologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com título da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM), endocrinopediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria e doutora pela USP.