Dispositivo replica o sistema reprodutor feminino e o processo natural de seleção de espermatozoides para evitar morte celular e fragmentação do DNA espermático, aumentando taxas de sucesso da Fertilização In Vitro
A Fertilização In Vitro (FIV) sofreu grandes evoluções nos últimos anos, principalmente relacionadas à seleção de óvulos e embriões, que contribuíram para o aumento das taxas de sucesso do procedimento. Mas a seleção de espermatozoides, em contrapartida, ainda é negligenciada com relação às inovações tecnológicas, o que tem muito a ver com o fato de a infertilidade ser enxergada até hoje como um problema exclusivamente feminino. “Fatores femininos são causa de 50% dos casos de infertilidade em casais. Porém, a outra metade dos casos compreende a infertilidade masculina, seja de forma exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%). E, no geral, a infertilidade em homens está relacionada a problemas como baixa contagem, motilidade ou qualidade dos espermatozoides”, diz o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. Felizmente, agora, pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Sydney, pensando em uma maneira de contornar esse problema, desenvolveram uma tecnologia muito mais eficaz e confiável para a seleção de espermatozoides e publicaram os resultados dos testes no final de março no periódico Microsystems & Nanoengineering, da revista Nature.
Trata-se de um dispositivo microfluídico impresso em 3D que replica o sistema reprodutor feminino e o processo natural de seleção de espermatozoides, no qual apenas uma porcentagem limitada do total de espermatozoides consegue chegar até o óvulo para fecundá-lo. “A grande vantagem da técnica está no fato de ter chances reduzidas de causar morte celular e fragmentação do DNA espermático, o que não é incomum nos métodos tradicionais de seleção de espermatozoides, levando, consequentemente, a ciclos insucedidos de FIV”, afirma o especialista.
Para avaliar a eficácia do novo método, os pesquisadores compararam-o com procedimentos de seleção convencionais, como a técnica conhecida como Swim-Up (nadar para cima, em tradução livre). “Swim-Up é um teste de capacitação espermática que consiste no depósito de sêmen no fundo de um tubo de ensaio com uma solução. Os espermatozoides que conseguem nadar através da solução e alcançar a superfície são então selecionados”, explica o Dr Rodrigo Rosa. Nos testes, o novo método apresentou melhora de 85% na integridade do DNA e redução média de 90% da morte celular dos espermatozoides.
Além disso, os gametas selecionados com essa tecnologia demonstaram melhor recuperação após o descongelamento. “O congelamento de sêmen é uma excelente estratégia para a preservação da fertilidade masculina. No entanto, o processo de congelamento e descongelamento pode causar danos na membrana dos espermatozoides, prejudicando sua motilidade”, afirma o especialistas.
Agora, os pesquisadores fizeram parcerias com clínicas australianas de Fertilização In Vitro para já implementarem a tecnologia na prática clínica. Além disso, novas pesquisas devem ser realizadas no futuro para avaliar o uso da técnica em amostras anormais de sêmen. “A técnica será de grande ajuda para casais que sofrem com infertilidade, contribuindo para a concepção de um bebê com redução no número de ciclos de Fertilização In Vitro e da frustação que os acompanha”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.
Fonte: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigoros