Dia Mundial da Fertilidade: por que esse deve ser um assunto profissional debatido e incentivado nas empresas
4 de junho é Dia Mundial da Fertilidade. A tendência é mundial, está mais forte nos Estados Unidos, mas começa a ser aplicada no Brasil. Finalmente, a maternidade torna-se compatível com a carreira.
Há várias notícias sobre pessoas que lidam com as dificuldades da infertilidade. Mas até então esse era um assunto tabu no mercado de trabalho. Na medida em que as chances de gravidez caem com o passar dos anos, principalmente para as mulheres, a ideia de estabelecer-se financeiramente para, então, ter um filho, fez com que muitos casais perdessem a chance de serem pais. “O ambiente profissional ainda precisa evoluir muito para tornar a maternidade um assunto menos ameaçador. Vale lembrar que no Brasil muitas mulheres não têm segurança de permanecer nos seus empregos quando anunciam gravidez”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Além disso, mulheres com filhos ganham menores salários e recebem menos promoções. “Com as pressões do mercado de trabalho – e da idade (já que após os 35 anos engravidar se torna cada vez mais difícil) – muitos casais encontram-se em uma situação complexa”, acrescenta o especialista. Mas as coisas parecem estar mudando: não é mais incompatível a ideia de formar uma carreira e uma família ao passo que, agora, algumas empresas começam a seguir uma tendência mundial de olhar para a fertilidade com mais empatia. “Cada vez mais as empresas estão ajudando os funcionários na preservação da fertilidade, essa já é uma tendência nos Estados Unidos e agora está chegando ao Brasil. Elas passam a oferecer apoio financeiro para preservação da fertilidade, com as técnicas de congelamento de óvulos, ou de tratamentos como a fertilização in vitro”, diz o Dr. Rodrigo Rosa.
No Brasil, Mercado Livre e Pepsi anunciaram apoio financeiro para os tratamentos de reprodução assistida. O Linkedin oferece reembolso de R$ 22 mil por tentativa de fertilização – e cada beneficiário pode tentar até 3 vezes, totalizando um apoio de R$ 66mil. Além disso, a clínica Mater Prime e o laboratório Mater Lab também fizeram a lição de casa e, além de dar descontos para as empresas que buscam essa iniciativa, também contam com programas de incentivos aos seus colaboradores: as funcionárias das empresas de fertilidade têm isenção de honorários médicos para congelamento, desconto no laboratório e custo 70% menor para congelar óvulos ou fazer fertilização in vitro.
Nos Estados Unidos, Google, Apple e Meta (detentora do Facebook e Instagram) anunciaram benefícios aos funcionários em 2014, incluindo o congelamento de óvulos. De acordo com uma pesquisa realizada no ano passado pela consultoria de RH Mercer, o número de empresas com mais de 20.000 trabalhadores oferecendo tratamentos de congelamento de óvulos subiu para 19%, em comparação com 6% observados seis anos antes. Uma parte significativa da luta é pagar pelo tratamento. Para indivíduos sem acesso à cobertura para tratamento de infertilidade, pode ser proibitivamente caro – como muitos procedimentos médicos seriam se não fosse o plano de saúde. “O estresse de lidar com esses problemas é apontado inclusive em estudos por diminuir a produtividade profissional pelo sofrimento causado pela infertilidade, o processo de fertilização in vitro e abortos recorrentes”, diz o Dr. Rodrigo Rosa. E não é só para as mulheres. Estudo da Leeds Beckett University mostrou que os homens relataram uma ampla variedade de impactos negativos no trabalho e nas finanças como resultado da infertilidade. “No estudo, os funcionários do sexo masculino falaram sobre a relutância em divulgar problemas, declínios na produtividade, problemas de saúde mental ou emocionais que comprometeram seu funcionamento no trabalho e, também, pressão financeira. O estresse emocional do tratamento de fertilidade e a própria infertilidade é debilitante para muitos”, diz o especialista. Algumas empresas fora do país também oferecem suporte emocional para os casais que entram nessa jornada.
A organização americana Fertility Matters At Work foi criada justamente para encabeçar essa luta, com o foco de educar e inspirar as empresas com uma conscientização de como os problemas de fertilidade afetam seus funcionários e sua organização. A organização distribuirá o selo Fertility Friendly para empresas que se comprometerem com a causa. “Essa luta é baseada em pesquisas da organização que mostram que a fertilidade é um desafio tanto para o indivíduo quanto para a organização”, diz o médico.
De acordo com o Dr. Rodrigo Rosa, esse crescimento notável na cobertura de fertilização in vitro e outros serviços de fertilidade pelas empresas é impulsionado pela necessidade de as empresas permanecerem competitivas para recrutar e reter os melhores talentos, dar maior ênfase na inclusão, e no desejo de ser reconhecido como um empregador amigo da família. “Os maiores empregadores foram os primeiros a agir, mas, como formadores de opinião, provavelmente são a vanguarda de um movimento mais amplo”, finaliza o médico.
Fonte: DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana