Como evitar o envelhecimento prematuro dos ovários

Predisposição genética, suplementação dietética, alimentação adequada e tratamentos podem ajudar na prevenção do envelhecimento precoce dos ovários

Como especialista na área de reprodução humana, posso falar com absoluta convicção que um dos maiores problemas da fertilidade feminina nos dias atuais é que a média de idade das mulheres que engravidam vem aumentando a cada ano. Atualmente, observa-se que um em cada cinco nascimentos são de mulheres com idade superior a 35 anos. O problema é que a maioria delas sequer se dá conta de que seus ovários estão envelhecendo também. A boa notícia é que isso pode ser adiado.

Envelhecimento ovariano pode ser definido como a perda da saúde reprodutiva dos ová­rios e óvulos (oócitos) e está associado a um declínio no número de folículos ovarianos. Hormônios tornam-se insuficientes, falta ovu­lação, fertilidade diminui, menstruações se tornam irregulares, depois escassas, vão cessando gradualmente e, finalmente, desaparecem completamente de forma irreversível. Este fenômeno é conhe­cido como menopausa e geralmente ocorre em uma idade média de 51 anos.

Muitas razões levaram as mulheres a adiarem a gravidez. Tudo começou há algumas décadas, quando elas passaram a ter opções para o controle de natalidade. Desde então, muitas passaram a adiar a gestação e investir na carreira profissional.

Entretanto, tudo isto pode ter um preço alto, uma vez que estimula os casais a buscarem seu primeiro filho numa fase de declínio da fertilidade quando ocorre o envelhecimento ovariano. Muitas mulheres com idade mais avançada mantêm uma aparência física jovial, mas o mesmo não acontece com os ovários e os óvulos, que refletem a idade cronológica. Não importa o quanto jovem ela pareça, os óvu­los envelhecem com o passar dos anos.

Mulher grávida - Foto: Arina P Habich/ShutterStock.com

Em circunstâncias normais, a diminuição acentuada da função ova­riana começa entre 45 e 50 anos de idade. Se a mulher tiver esta per­da aos 40 anos, clinicamente chamamos de envelhecimento precoce do ovário ou insuficiência ovariana. O ovário começa a não funcionar adequadamente tanto como órgão endócrino quanto como um órgão reprodutivo. Isto é o envelhecimento ovariano prematuro. Após os 45 é esperado declínio natural da função ovariana com o passar dos anos, o que é chamado de perimenopausa ou a transição da menopausa.

Um conceito de envelhecimento ovariano precoce tem sido estuda­do e sugere que algumas mulheres terão problemas de fecundidade em uma idade precoce. Várias hipóteses têm sido examinadas com base na literatura existente. A idade média da menopausa tem permanecido relativamente constante ao longo dos tempos. Este fenô­meno é largamente controlado por fatores genéticos, mas existem algumas influências ambientais, como o hábito de fumar, que provoca uma antecipação da menopausa em 1-2 anos. Um estudo prospectivo demonstrou que a idade média da perimenopausa era 47,5 anos (de­finida pela irregularidade do ciclo) e a idade média da menopausa, 51,3 anos.

Por que os ovários podem envelhecer tão rápido?

Hoje em dia, mulheres estão enfrentando elevada pressão no trabalho, bem como distúrbios psicológicos. Sentem-se cansadas e tensas. Fumam, dormem mal, bebem mais, algumas até usam drogas ilícitas, outras exageram nos exercícios, passam por estresse e têm hábitos alimentares inadequados.

Esses problemas podem causar o envelhecimento prematuro dos ová­rios e pode levar à síndrome da menopausa prematura. De acordo com uma pesquisa, 27% das mulheres nos seus 30 anos podem ter início dos sintomas da menopausa. O envelhecimento precoce do ovário pode ser uma razão para o envelhecimento físico prematuro da mulher.

Muitas acreditam que não menstruar pode ser melhor. Não entendem isto como um problema e, portanto, não buscam tratamento. Como resultado, só percebem o envelhecimento prematuro quando não conseguem conceber. O homem também tem diminuição da fertilidade, mas de forma mais branda.

Já o envelhecimento ovariano natural pode ser explicado de duas maneiras: pela genética (encurtamento dos telômeros) e pela diminuição do fun­cionamento e número das mitocôndrias.

Os telômeros ou telómeros (do grego telos, final, e meros, parte) são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de DNA que formam as extremidades dos cromossomos, que são os componentes do núcleo da célula responsáveis pela transmissão das características hereditárias. Sua principal função é manter a integridade estrutural do cromossomo.

Cientistas acreditam que o envelhecimento celular está relacionado com essas estruturas. Durante a divisão celular, cromossomos são duplicados, de forma que as células-filhas recebam patrimônio gené­tico idêntico ao da célula-mãe. Mas, a cada duplicação, cromossomos perdem parte de seus telômeros, até chegarem a um tama­nho crítico, a partir do qual a célula para de se dividir. Esse encurtamento provoca o envelhecimento das células.

Como não se regeneram, chega a um ponto em que, de tão encurtados, não permitem mais a correta replicação dos cromossomos e a célula perde completa ou parcialmente a sua capacidade de divisão.

Telômeros são longos nas células jovens, fragmentam-se à medi­da que a célula envelhece até chegarem a um mínimo, no qual a célula morre. Como defesa a esse fenômeno, existe a enzima telomerase que funciona como protetor dos telômeros e tem influência crucial nos tipos de células.

Vitamina D que pode ajudar a desacelerar o processo de envelhecimento de células e tecidos, de acordo com estudo britânico. Seres humanos conseguem obter essa vitamina a partir da exposição à luz solar, de dieta e de suplementos vitamínicos. Ao incidir sobre a pele, a banda B da radiação ultravioleta converte um precursor em pré-vitamina D, que é rapidamente transformada em vitamina D.

Como qualquer excesso da pré-vitamina é destruído pela luz, o excesso de sol não leva à hipervita­minose. Direta ou indiretamente, a vitamina D controla mais de 200 genes, respon­sáveis pela integridade da resposta imunológica. As fontes alimentares não são suficientes para suprir a necessidade diária, por isso a exposição solar é necessária para que ocorra a conversão da vitamina D em sua forma ativa para o organismo.

O Instituto Linus Pauling – instituto de pesquisa de Micronutrientes para saúde/Universidade do Estado de Oregon – recomenda a exposi­ção de 5 a 10 minutos ao sol diariamente sem proteção, no período de menor intensidade solar. Não podemos esquecer que as radiações solares provocam manchas e apressam o envelhecimento cutâneo, além de constituir a principal causa do câncer de pele, portanto deve-se ter cuidado com exposição solar em excesso.

As fontes naturais mais ricas em vitamina D são óleos de fígado de peixe, salmão, sardinha, cavalinha, aveia, gema de ovo e produtos fortificados com vitamina D. Vegetais e frutas possuem baixo teor de Vitamina D, porém, é fundamental manter o consumo desses alimentos devido a sua importância nutricional para a saúde como um todo.

E as mitocôndrias?

São organelas microscópicas presentes em todas as cé­lulas do organismo e responsáveis pela produção de energia. Cada célula contém centenas delas espalhadas pelo citoplasma. No interior da mi­tocôndria, as moléculas resultantes da alimentação são utilizadas em uma série complexa de reações químicas, que resultará na síntese de uma molécula capaz de armazenar energia e transportá-la para toda célula: o ATP. É nele que a célula encontrará 90% da energia necessária para exercer suas funções como: produção de proteínas, movimento, excre­ção, troca de íons etc. Se não fossem as mitocôndrias, não haveria possibilidade de vida; elas são as estruturas centrais energéticas da célula.

Os óvulos, com o passar dos anos, tendem a ter uma quantidade menor de mitocôndrias e ser menos funcionais, provocando diminuição do ATP e um provável envelhecimento dos óvulos. Esta diminuição leva a um prejuí­zo da divisão dos cromossomos e um aumento de malformações fetais (Sín­drome de Down, Edwards e outras) comuns nas mulheres com mais idade.

A concentração de ATP que as células carregam está diretamente relacionada com o potencial de implantação dos embriões. O conteúdo de DNA mitocondrial (mtDNA) dos óvulos é crucial para o resultado da fertilização e pode explicar alguns casos de falha de fertilização.

O que sabemos é que o envelhecimento ovariano exige, além da suplementação dietética e alimentação adequada, tratamentos, uma vez que o tempo perdido pode significar chances cada vez menores de gravidez. Assim, o mais indicado é a fertilização in vitro (FIV) e suas variações. Se não for suficiente, alternativas poderão ajudar a melhorar os resultados.

Algumas delas: Mini-FIV, armazenamento ou coletânea de embriões, vitrificação, Ciclos naturais (CN-FIV) ou Naturais modificados; Ciclo Natual Modificado; DHEA (Dihidroepiandros­terona é um hormônio normal no organismo fabricado no ovário e nas glândulas supra-renais); Etinil Estradiol (hormônio natural que pode ajudar mulheres com mais idade) e doação de óvulos, entre outras.

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Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Ginecologista Obstetra especialista em Reprodução Humana e Cirurgia Endoscópica Além de dedicar a maior parte de seu tempo ao conhecimento...

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