Dentre os sintomas mais comuns da doença, destaca-se o hiperandrogenismo, condição esta que pode acarretar em no crescimento de pelos, acne e alteração no ciclo menstrual, entre outros
A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) tem sido uma das principais causas de infertilidade feminina, trazendo angústia e incerteza para milhões de mulheres em todo o mundo. Também conhecida como Síndrome de Stein-Leventhal, é uma condição médica que afeta o sistema endócrino e reprodutivo das mulheres. Seus sintomas podem variar para cada paciente e tem por principal característica o desenvolvimento de cistos nos ovários, dificultando o processo de ovulação, tornando-o irregular ou mesmo impedindo-o. Como resultado, mulheres com SOP podem desenvolver obesidade, ciclos menstruais irregulares ou ausentes, além de problemas relacionados à fertilidade. No entanto, os avanços na medicina reprodutiva têm oferecido novas perspectivas para pacientes com SOP, possibilitando o sonho de serem mães por meio de técnicas de reprodução assistida.
Segundo o especialista em Reprodução Humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Roberto de Azevedo Antunes, a obesidade é um dos principais problemas da doença e que precisam ser controlados antes de um tratamento de fertilidade. “O primeiro passo são as medidas de controle de obesidade. Essa paciente precisa de um acompanhamento clínico, pois se trata de uma condição que altera o equilíbrio metabólico e hormonal da mulher, que pode desencadear em uma resistência à insulina e aumento dos níveis de hormônios masculinos, conhecidos como andrógenos. O que, por sua vez, pode causar a obesidade, agravando esse desequilíbrio, criando um ciclo de interação entre as duas condições”, explica o especialista.
A SOP e a obesidade são duas condições que podem afetar diretamente a fertilidade da mulher, como irregularidades na ovulação e, em alguns casos, levar à anovulação (ausência de ovulação). O desenvolvimento de sobrepeso decorrente da síndrome dos ovários policísticos pode causar problemas, como:
- Resistência à insulina: Tanto a SOP quanto a obesidade estão associadas à resistência à insulina, o que significa que as células do corpo têm dificuldade em responder adequadamente à insulina, levando ao aumento dos níveis de glicose no sangue. A resistência à insulina pode contribuir para o acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal, e aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
- Desequilíbrio hormonal: A obesidade pode aumentar a produção de hormônios andrógenos, agravando os desequilíbrios hormonais já presentes na SOP. Esse aumento dos andrógenos pode levar ao hirsutismo (crescimento excessivo de pelos no corpo) e acne, sintomas comuns da SOP.
- Inflamação sistêmica: A obesidade está associada a um estado de inflamação crônica de baixo grau em todo o corpo. Essa inflamação pode agravar os sintomas da SOP e contribuir para a resistência à insulina e outros problemas metabólicos.
- Ciclo vicioso: A presença de SOP pode tornar mais difícil para as mulheres perderem peso devido aos desequilíbrios hormonais e à resistência à insulina. Por outro lado, a obesidade pode piorar os sintomas da SOP, criando um ciclo vicioso em que ambas as condições se retroalimentam.
O tratamento da SOP e da obesidade geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, que inclui mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada e exercícios físicos regulares, a fim de alcançar a perda de peso e melhorar a sensibilidade à insulina.
Sintomas da SOP
Antecedendo a abordagem clínica para tratamento da fertilidade, o especialista explica que é importante entender o desejo da paciente em ter uma gestação ou não. “Antes de tudo, precisamos verificar se há uma intenção de gestar por parte dessa paciente, já que a SOP não impede uma gravidez ou impeça a ovulação. O que a síndrome causa é uma imprevisibilidade dessa ovulação. Sendo assim, é importante que essa paciente seja bloqueada ou que tenha algum método hormonal de bloqueio”, explica Antunes.
Para o diagnóstico da SOP, é analisado os sintomas apresentados. Dentre os mais comuns, destaca-se a irregularidade menstrual; a presença de ovários micropolicísticos, que é identificado por ecografia; e a presença de sinais clínicos ou laboratoriais de hiperandrogenismo, condição em que o corpo produz uma quantidade excessiva de hormônios masculinos, chamados andrógenos.
Os andrógenos são hormônios importantes tanto em homens quanto em mulheres, mas, quando encontrados em altos níveis, podem causar alguns problemas, como crescimento de pelos em algumas partes do corpo, acne mais intensa e frequente, especialmente na região do queixo, mandíbula e costas, alteração no ciclo menstrual, além de problemas nos ovários ou nas glândulas suprarrenais, entre outros.
A fertilidade para pacientes com SOP
O tratamento de fertilidade para a paciente com SOP engloba diversas técnicas, como a fertilização in vitro (FIV) e a inseminação intrauterina, que auxiliam o processo de concepção ao contornar os desafios apresentados pela síndrome.
O especialista Roberto de Azevedo Antunes destaca a importância dessas técnicas no tratamento da SOP: “A reprodução assistida tem permitido que muitas mulheres com SOP tenham a chance de engravidar e realizar o sonho da maternidade. Com protocolos de tratamento personalizados, podemos contornar os desequilíbrios hormonais e aumentar as chances de sucesso na concepção.”
A FIV é uma das técnicas mais eficazes na reprodução assistida e tem se mostrado especialmente benéfica para mulheres com SOP. Nesse procedimento, os óvulos são coletados da paciente e fertilizados em laboratório com o esperma do parceiro ou doador. Os embriões resultantes são então transferidos para o útero, com o objetivo de alcançar a gravidez. Outra opção muito utilizada, a inseminação intrauterina também tem sido uma opção viável para algumas pacientes. Nesse procedimento, o esperma é preparado em laboratório e, em seguida, inserido diretamente no útero, durante o período fértil da mulher. Esta é uma técnica menos invasiva
Com os avanços contínuos na medicina reprodutiva, a esperança cresce para as mulheres que enfrentam os desafios da síndrome do ovário policístico. É importante ressaltar que cada caso é único, e a decisão sobre qual técnica utilizar deve ser tomada em conjunto com o médico, levando em consideração as características individuais da paciente.
Fonte: Especialista em Reprodução Humana e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Roberto de Azevedo Antunes,