Segundo a especialista Dra. Paula Fettback, atraso no diagnóstico dificulta o tratamento
De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, pelo menos 1 em cada 10 mulheres sofrem de endometriose. Embora a incidência da doença seja elevada, muitas mulheres têm dúvidas sobre os sintomas e muitas vezes apesar de sofrerem por anos e anos de cólicas menstruais, dores crônicas severas e outros sintomas característicos não são indagadas pelos ginecologistas sobre os mesmos, ou em muitos casos as queixas são consideradas “normais” por muitos profissionais da saúde, o que pode dificultar o diagnóstico e tratamento precoce.
A médica ginecologista especializada em infertilidade, Dra. Paula Fettback, explica que a endometriose é uma afecção ginecológica crônica responsável por diversos sinais, sendo o mais comum as cólicas menstruais. Além disso, dores abdominais e pélvicas fora do período menstrual, alterações intestinais como distensão abdominal, obstipação alternada com diarréias e/ou dor para evacuar durante a menstruação, dor para urinar durante o ciclo menstrual e/ou infecções urinárias de repetição e dores durante a relação sexual também são frequentes. Podem, ainda, ocorrer sangramentos intensos e irregulares durante o período menstrual, fadiga, cansaço e até mesmo infertilidade ou dificuldade para engravidar.
A endometriose acontece quando as células do endométrio, que é a parte mais interna do útero, são encontradas em locais fora do útero. Conhecidas como endométrio ectópico. Estas células podem atingir locais distintos mas os mais comuns são os ovários, bexiga e a cavidade pélvica e abdominal causando inflamação crônica e, por este motivo, uma mulher que sofre de endometriose pode sentir fortes dores nesta região, no entanto, em alguns casos a doença pode ser silenciosa ou pouco sintomática.” explica a especialista.
A Dra. Fettback relata que não há uma explicação exata para o que causa a endometriose. No entanto, observa-se que pode estar relacionada a uma predisposição à menstruação retrógrada, que é quando o sangue não é totalmente eliminado durante o período menstrual e acaba migrando para outros órgãos pélvicos. Além disso, de acordo com a especialista, alguns fatores genéticos podem estar relacionados ao diagnóstico. Observa-se que a maioria das pacientes têm histórico de endometriose na família.
Diagnóstico
Segundo a Dra. Paula,a paciente recebe o diagnóstico tardio, na faixa etária entre 25 e 35 anos, mas a doença pode atingir a mulher já nas primeiras menstruações, inclusive na adolescência. “A maioria das adolescentes pensa que as dores abdominais são simplesmente cólicas. Isso dificulta um pouco o diagnóstico. Por isso, é importante realizar exames específicos para este diagnóstico e estar ciente de que a cólica menstrual intensa não é normal, sendo a maioria dos casos uma doença de diagnóstico clínico, ou seja, na anamnese correta. É importante que o médico conheça a endometriose e faça as perguntas e exame físico corretos.”, destaca.
A médica ressalta que o diagnóstico pode se tornar difícil devido ao fato de que a maioria das mulheres pensam que ter cólicas e sangramento intenso pode ser algo natural durante a menstruação. “Infelizmente, muitos ginecologistas também ainda não investigam corretamente a doença. Quanto mais precoce o diagnóstico e tratamento, melhor o prognóstico futuro”, explica.
A Dra. Fettback complementa, ainda, que a avaliação geralmente é feita por meio de uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal para as pacientes que já tiveram relações sexuais. Já as que não tiveram relações, o mais indicado é a ressonância magnética. “Se as imagens forem analisadas por profissionais experientes e especialistas em imagem para endometriose, o diagnóstico é muito preciso”, pontua.
Endometriose X infertilidade
Por fim, a Dra. Paula esclarece que outro agravante da endometriose é o fato de interferir na gestação, já que a doença é uma das principais causas de infertilidade feminina, na qual de 30% a 40% das mulheres inférteis são diagnosticadas com endometriose.
“A endometriose causa infertilidade porque as células do endométrio causam um processo inflamatório crônico na pelve, com isso, há uma alteração na anatomia e funcionamento do aparelho reprodutor feminino, o que pode causar até mesmo obstrução das tubas uterinas e deslocamento do útero, fazendo com que o espermatozóide não chegue ao destino correto. Fatores relacionados com qualidade do óvulo e implantação do embrião no útero também podem afetar a fertilidade em alguns casos de endometriose”, afirma a ginecologista.
No entanto, a médica diz que nem todas as mulheres que sofrem de endometriose são inférteis. “Algumas podem engravidar por métodos naturais ou pelos procedimentos de reprodução assistida”, conclui a especialista.
Colunista: Dra. Paula Fettback – Ginecologista especializada em reprodução assistida e infertilidade de alta complexidade. Possui graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina, residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, doutorado em Ciências Médicas pela Disciplina de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Atualmente é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, e desde 2006, atua em Ginecologia e Obstetrícia com ênfase em Reprodução Humana e infertilidade de alta complexidade, atendendo pacientes em São Paulo e no Paraná. Tem em seu portfólio algumas famosas como Rosana Jatobá, Tânia Kalil, Angelita Feijó, Mariana Kupfer, entre outras.