Sem qualquer comprovação científica, estratégia da influenciadora consiste em adotar mudanças no estilo de vida seis meses antes da concepção para impedir que a criança desenvolva doenças genéticas como câncer e diabetes
Recentemente, Maíra Cardi anunciou em seu Instagram que desativará suas redes sociais, pois pretende ter mais 3 filhos. Ciente de que aos 40 anos a concepção pode ser mais díficil, a influenciadora tomará esse tempo para focar em sua saúde. Além disso, afirmou que, nesse período, pretende fazer uma “modulação epigenética” pré-concepção, no qual, segundo Maíra Cardi, os futuros pais realizam, seis meses antes da concepção, uma verdadeira mudança no estilo de vida para “zerar” a genética da criança e assim impedir que o filho desenvolva doenças genéticas como câncer e diabetes. Mas essa estratégia realmente faz sentido? De acordo com o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo, não. “A capacidade de ‘zerar’, resetar, os genes através do estilo de vida é um grande mito, sem qualquer comprovação científica, que contraria os principíos da genética. Existem sim fatores epigéneticos, isto é, fatores ambientais e comportamentais que influenciam na expressão gênica, em quais genes serão ativados ou não. Porém, isso não altera a sequência do DNA, a genética em si, como se fosse um reprogramação total do código genético que isentaria completamente o risco dessas doenças em crianças”, alerta.
É claro que a adoção de hábitos saudáveis ao longo da vida ajuda na manutenção da saúde e na prevenção de uma série de problemas, incluindo câncer e diabetes. Porém, esse fato não está relacionado com mudanças nos genes e muito menos é capaz de zerar o risco de doenças genéticas nos descendentes. “Vale a pena ressaltar ainda que os pais não são, de forma alguma, responsáveis por problemas genéticos que o filho possa ter. Adotar um estilo de vida saudável durante a gestação é realmente importante. Mas receber um diagnóstico como esse já é difícil por si só e a informação de que seria possível eliminar esse risco simplesmente através de hábitos saudáveis pode causar um impacto psicológico ainda maior nos pais”, ressalta o médico.
Mas, apesar de não serem capazes de ‘zerar’ os genes dos filhos, mudanças no estilo de vida, quando devidamente acompanhadas por um especialista, podem ajudar a melhorar as chances de gravidez. “A queda da fertilidade após os 40 anos é uma realidade biológica, definida geneticamente, e, infelizmente, não há estilo de vida capaz de recuperá-la completamente. Mas é fato que pessoas que têm hábitos saudáveis, com prática regular de atividade física, alimentação balanceada e sono reparador, possuem maiores taxas de sucesso em comparação com pessoas da mesma idade que não praticam tais hábitos”, diz o especialista.
Mas o Dr. Rodrigo Rosa ressalta que mulheres que desejam adiar a maternidade podem preservar a fertilidade através do congelamento de óvulos, o que possibilitará a realização de uma Fertilização In Vitro (FIV) no futuro. “As taxas de sucesso da FIV são determinadas pela idade do óvulo utilizado. Então, mulheres com até 35 anos, se congelarem pelo menos 20 óvulos, têm chances de 80% de conceber pelo menos um filho. Se os mesmos 20 óvulos forem congelados entre os 35 e 37 anos, a chance de gravidez é de 65%. Já se o congelamento desses 20 óvulos for feito entre os 38 e 40 anos, a probabilidade de a mulher ter no mínimo um filho é de 55 a 60%”, acresenta o médico. A FIV ainda pode ajudar a prever o risco de certas doenças por meio da realização de testes genéticos no embrião formado pela fecundação do óvulo com o espermatozoide em laboratório. “É possível realizar a análise cromossômica do embrião através de um teste chamado PGT-A para diminuir o risco de doenças cromossômicas. Além disso, quando os pais têm a mutação de um determinado gene, podemos evitar a transmissão dessas doenças ligadas a genes específicos para o filho através de um teste chamado PGT-M, que permite a realização de uma análise genética para investigar doenças como anemia falciforme e diversas outras condições”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa
Fonte: FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa