Certos tipos de quimio e radioterapia possuem impacto direto sobre o funcionamento dos ovários e, consequentemente, as chances de a mulher engravidar. Preservação da fertilidade é alternativa
Outubro é o mês da campanha de conscientização e combate contra o câncer de mama, o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres de todo o mundo. A campanha tem como objetivo ressaltar a importância do autoexame das mamas, que é a principal maneira de diagnosticar precocemente a doença, garantindo assim que o tratamento seja menos agressivo e as chances de sucesso aumentem. E a realização do autoexame, visando a identificação precoce da doença e a redução da agressividade do tratamento, é especialmente importante para mulheres que ainda desejam engravidar, já que a fertilidade é um tema sensível entre as pacientes diagnosticadas com câncer e, em alguns casos, o tratamento do câncer mamário pode reduzir as chances de gravidez. “Uma das maiores complicações das terapias para tratamento do câncer, como a quimio e a radioterapia, é a perda da função das gônadas, como os ovários, o que, consequentemente, causa infertilidade, seja ela permanente ou temporária. E, apesar de não ser um fator prioritário durante o tratamento oncológico, a fertilidade pode se tornar uma questão importante para a mulher após a cura da doença, principalmente para aquelas que ainda não possuem filhos”, afirma o Dr Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
É claro que o impacto do tratamento oncológico sobre a infertilidade vai depender de uma série de fatores, como a gravidade do câncer, o tipo de quimio ou radioterapia utilizada e a idade da paciente. Como resultado, torna-se muito difícil prever quais as chances de a mulher sofrer com infertilidade após a cura da doença. Logo, para mulheres que ainda desejam começar uma família, pode ser interessante optar por métodos que visem a preservação da fertilidade. “Uma opção para mulheres que ainda desejam engravidar, mas precisam ser submetidas ao tratamento oncológico é, por exemplo, o uso de substâncias capazes de induzir um estado de quiescência celular, ou seja, de impedir a proliferação das células, suprimindo assim a atividade ovariana, o que ajuda a proteger os ovários dos efeitos tóxicos produzidos pelos quimioterápicos”, destaca o médico.
No entanto, a técnica padrão para preservação da fertilidade em pacientes que correm risco de lesão dos ovários, como as mulheres submetidas ao tratamento do câncer de mama, é a coleta e, posteriormente, a criopreservação dos óvulos ou embriões. “A criopreservação é uma técnica que consiste na conservação de células ou tecidos em nitrogênio líquido, o que permite, no caso dos óvulos ou embriões, que sejam utilizados posteriormente para a fertilização. No entanto, para que os óvulos ou embriões sejam coletados para a criopreservação é necessário um período de estimulação farmacológica dos ovários, o que pode causar certa preocupação em mulheres com câncer devido à necessidade de adiamento do início do tratamento oncológico. Mas a boa notícia é que o tempo necessário para a estimulação ovariana é de apenas 10 a 15 dias, em média. Logo, quando a mulher é rapidamente encaminhada a um centro de reprodução humana, esse método de preservação de fertilidade não retarda significativamente o início do tratamento do câncer, sendo assim uma opção válida e segura que não possui grande impacto sobre as chances de cura da doença”, afirma o especialista em reprodução humana. Posteriormente, os óvulos criopreservados podem ser fertilizados em laboratório (fertilização in vitro).
Por fim, o Dr. Rodrigo da Rosa Filho ressalta que, para mulheres que sofreram com câncer, o recomendado é aguardar no mínimo dois anos antes de tentar engravidar para que se exclua o risco de recidivas da doença. “No entanto, o mais importante é que a mulher converse com seu ginecologista e oncologista, já que apenas eles poderão levar em consideração todo o histórico de saúde para aconselhá-la da melhor forma no que diz respeito à uma futura gestação, recomendando, se necessário, um método de preservação de fertilidade”, finaliza.
Fonte: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa