Nossas crianças estão obesas e o maior problema é que os pais não enxergam isso
O que antes era “doença de adulto” já há algum tempo se transformou em sério problema na saúde infantil. UM aumento dos índices de sobrepeso e obesidade, dislipidemias (colesterol e triglicérides), diabetes tipos 1 e 2, hipertensão arterial já aparecem nos consultórios pediátricos em uma frequência que chama a atenção de todos.
Tanto é assim que separei artigos recentes publicados a respeito do tema.
Um deles ,publicado no PubMed, avalia a percepção inadequada dos pais em relação ao peso de seus filhos, através de questionários feitos a dois grupos de pais (grupo 1 – 3839 pais entre 1988 a 1994 e grupo-2 – 3153 pais entre 2007 e 2012).
A pergunta era se eles achavam que seus filhos, entre 2 e 5 anos de idade, estavam com o peso normal, abaixo ou acima da média. Os resultados surpreenderam até os autores do estudo.
– Pais que acharam que seus filhos estavam no peso certo e se enganaram – 96,6% no grupo 1 e 94,9% no grupo 2;
– No grupo 2 (mais recente), 78,4% dos pais consideraram seus filhos obesos como se estivessem com o peso normal;
– Após as correções estatísticas, o acerto na percepção do peso dos filhos caiu em 30% entre a primeira e a segunda pesquisa.
Esse estudo concluiu que a percepção sobre o real peso dos filhos está inadequada e piorando com o tempo (pesquisa realizada em Nova York) e que são necessárias estratégias para encorajar a discussão do tema entre médicos e a população para que se consiga fortalecer ações de prevenção da obesidade infantil.
Uma notícia publicada pela Agência France-Press, dá conta que no Congresso Europeu de Obesidade, realizado recentemente em Praga, na República Tcheca, três estudos chamaram atenção em relação ao estigma da obesidade e a frequência à escola.
O primeiro estudo mostrou que crianças obesas têm maior risco de abandono escolar, sem concluir seu curso, do que as de peso normal. E esse pode ser um risco crescente, visto que a circunferência abdominal das crianças europeias tem aumentado.
As estatísticas apresentadas no Congresso mostraram que:
– Na Irlanda – 27,5% das crianças abaixo de 5 anos de idade são classificadas como sobrepeso;
– Inglaterra: 23,1% – Albania:22% – Georgia: 20%. – Bulgária: 19,8% – Espanha: 18,4%.
– As menores taxas estavam no Cazaquistão (0,6%), Lituânia (6,1%), República Tcheca (5,5%).
O segundo estudo observou que somente 56% de 9.000 crianças avaliadas na Suécia que receberam tratamento para obesidade completaram 12 anos ou mais na escola, contra 76% dos que tinham o peso normal.
As razões para isso não foram esclarecidas visto que nem gênero, nem etnia e nem estado socioeconômico afetaram os resultados. Uma das suspeitas seria o bullying, sabidamente sofrido por esse grupo de crianças.
Já o terceiro estudo, que foi realizado na Inglaterra, com 300 crianças em Leeds, mostrou que até aos 6 anos elas já podem se sentir insatisfeitas com sua imagem corporal. Nesse grupo, 59 (19%) já apresentavam sobrepeso ou obesidade e se mostravam bastante descontentes com seu corpo, de acordo com avaliações realizadas, fato esse já mais comum em meninas do que em meninos, mesmo nessa idade.
Os autores desse estudo concluíram que os programas de prevenção de obesidade precisam considerar o bem estar psicológico dessas crianças e garantir que não sejam comprometidos.
A estatística da OMS mostra que cerca de 42 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade estavam com sobrepeso ou obesas em 2013, apresentando problemas como dificuldades respiratórias, fraturas ósseas, hipertensão e danos psicológicos.
E para concluir, umestudo publicado recentemente no jornal Obesityavaliou a mudança de hábito alimentar em crianças após a implementação de um cardápio mais saudável em uma cadeia de restaurantes, em abril de 2012, em Boston.
Os dados dos pedidos feitos pelas crianças (352.192 pedidos) foram analisados entre setembro de 2011 e março de 2012 (antes do cardápio novo) e entre setembro de 2012 e março de 2013 (depois do cardápio novo).
As mudanças do menu mais saudável foram a exclusão de batatas fritas e soda (que podiam ser substituídos) e a inclusão de pratos mais saudáveis.
Os resultados mostraram que a mudança do menu levou a padrões mais saudáveis de alimentação, sem remoção de escolhas ou redução de ganhos, mostrando que é possível melhorar a nutrição infantil sem perda de receita financeira..
Fiz questão de trazer essas notícias internacionais para mostrar que o controle do sobrepeso e da obesidade é uma questão de saúde pública mundial. No Brasil, nossos índices de sobrepeso e obesidade são maiores do que em todos esses estudos apresentados.
A prevenção do que a OMS considera coma a doença crônica epidêmica não transmissível mais frequente do século – obesidade – afeta grande parcela da população mundial, e o seu controle depende de um reconhecimento precoce do problema (pelos pais, familiares e profissionais dessaúde envolvidos), um programa realista e que possa ser cumprido com ações na família, na escola, na mídia, programas governamentais e a participação de toda a sociedade.
Eu estou fazendo a minha parte. E vocês? Já olharam pros seus filhos hoje? Será que eles não estão um pouquinho acima do peso e com um padrão alimentar que poderia ser um pouquinho melhor? O que o seu pediatra disse?
Dá para pensar né?