Assustador, o câncer é uma doença cujo tratamento pode ser nocivo para células reprodutivas e, consequentemente, para fertilidade, prejudicando as chances de gravidez.
A campanha do Outubro Rosa visa conscientizar a população sobre a importância da realização do autoexame das mamas, que é a principal maneira de diagnosticar precocemente o câncer de mama, aumentando as chances do tratamento ser bem-sucedido. Ainda assim, podem haver sequelas importantes, por exemplo, na fertilidade feminina, com consequente redução das chances de gravidez no futuro. Isso porque tratamento para os tumores envolvendo quimio ou radioterapia é extremamente nocivo para as células reprodutivas, responsáveis por gerar os óvulos. Dessa forma, as mulheres podem ter seus ovários afetados e entrar na menopausa precocemente, sendo impossível que consigam engravidar com o próprio material genético no futuro.
Neste contexto, surge a preservação da fertilidade. São tratamentos muito importantes que possibilitam aos sobreviventes dessa doença terrível a chance de ter filhos no futuro. Por exemplo, no caso de meninas que ainda não passaram pela puberdade e, por isso, ainda não produzem óvulos maduros, podem ser retiradas “fatias” dos ovários para serem congeladas. Nessas amostras de tecido ovariano estão presentes óvulos imaturos, que poderão ser utilizados no futuro.
Outra possibilidade, no caso de mulheres e adolescentes que já passaram pela puberdade, consiste no estímulo da ovulação para que os óvulos já maduros sejam coletados e, em seguida, congelados. É um processo semelhante ao que é realizado em procedimentos de fertilização in vitro (FIV). No geral, leva cerca de duas semanas até que os óvulos estejam prontos para serem congelados.
Seja qual for o material obtido, óvulos ou tecido ovariano, ele fica congelado (criopreservado) em tanques de nitrogênio líquido. Essa preservação pode durar por décadas e, se no futuro a pessoa não puder engravidar ou ter filhos naturalmente, terá a oportunidade de utilizar o material criopreservado. Os óvulos são utilizados para fertilização in vitro e formação de embriões, que posteriormente são transferidos para o útero, possibilitando a gravidez.
Já o tecido ovariano pode ser reimplantado sobre os próprios ovários de onde foi extraído, ou mesmo implantado em outros tecidos, como na gordura da pele do braço. Esse tecido ovariano passa, então, a ser estimulado pelos hormônios do organismo da mulher e começa a produzir óvulos maduros, que darão origem a uma gravidez. Logicamente, se o tecido ovariano foi implantado no braço, esses óvulos precisam ser retirados e fertilizados in vitro, para que os embriões obtidos sejam transferidos ao útero.
Compete ao médico fornecer essas informações aos pais e pacientes que estão em risco de perder sua fertilidade em virtude do tratamento para o câncer. Embora seja um momento muito difícil, com outras questões prioritárias, preservar a fertilidade é algo que precisa ser pensado e discutido.
Colunista: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.