Leite materno protege criança contra excesso de peso precoce

Crianças que amamentam por mais tempo têm menos chances de se tornarem obesas dos 2 aos 4 anos de idade

Pesquisa realizada durante 2014 na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, relacionou aspectos da alimentação de crianças no início da idade pré-escolar com seu estado nutricional. O estudo é fruto do projeto de mestrado da nutricionista Amanda Foster Lopes, realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e em parceria com a Secretaria de Educação da Cidade de Taubaté. O projeto foi estimulado pela residência de Amanda na área de pediatria, porém com enfoque na alimentação infantil para aproximar-se de sua profissão.

Durante o primeiro ano de vida, em geral, as crianças sofrem um importante processo de transição na alimentação, o qual se inicia com a nutrição via cordão umbilical intraútero, seguida pela amamentação, alimentação complementar e, finalmente, pela comida da família. A alimentação é um dos mais importantes fatores entre os determinantes do desenvolvimento do excesso de peso e obesidade, condição que, atualmente, tem atingindo o público infantil e vem sendo considerada um problema de saúde pública.

As crianças vêm desenvolvendo o excesso de peso cada vez mais precocemente, por isso é importante buscar quais aspectos dessa alimentação inicial poderiam influenciar o desenvolvimento do excesso de peso nessa faixa etária. Amanda constatou que crianças as quais receberam leite materno durante um maior período apresentaram menor escore z — distância do valor observado em relação à mediana dessa medida ou ao valor da população de referência — de Índice de Massa Corpórea (IMC) para a idade no momento da avaliação. Em outras palavras, isso significa que receber leite materno por mais tempo pode ser um fator de proteção contra o desenvolvimento do excesso de peso dos 2 aos 4 anos, em média.

Bebê mamando - foto: JPC-PROD/ShutterStock.com

Metodologia

Para a realização da pesquisa, um sorteio selecionou as 27 creches e pré-escolas de Taubaté que participaram do estudo, somando um total de 463 crianças. A metodologia envolveu a elaboração de um questionário com uma série de perguntas, tais como peso da criança ao nascer, sexo, tipo de parto e também sobre a alimentação, que envolvia duração do aleitamento materno exclusivo e não exclusivo e idade de início da ingestão de alguns alimentos, como água, chá, leite não materno, papa de fruta, papa de vegetais e guloseimas.

O questionário foi enviado para os pais pela agenda escolar das crianças junto com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorização para a participação de seus filhos no estudo. Com as respostas, Amanda começou a destrinchar as informações. “Aferi o peso e o comprimento dessas crianças, para a avaliação através do escore z de IMC para a idade. Depois da coleta de todos os dados, foram realizadas análises estatísticas”, relata.

A pesquisa de Amanda mostrou que 27,5% das crianças estudadas na cidade de Taubaté já apresentam excesso de peso aos 2 anos de idade, resultado que confirma a presença de excesso de peso em crianças cada vez mais novas. Quanto à alimentação, os resultados mostram importante distanciamento entre o que é orientado e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a realidade quanto às práticas de aleitamento materno.

“O leite materno deve ser oferecido de forma exclusiva até os seis meses de idade e os nossos resultados evidenciaram que metade das crianças estudadas deixaram de recebê-lo de forma exclusiva antes dos 3 meses de idade”, revela Amanda. O estudo mostrou que o aleitamento materno de forma não exclusiva tem uma duração média de 9,9 meses, sendo que 50% das crianças já haviam deixado de receber leite materno aos 6 meses de idade.

Segundo Amanda, essas inadequações quanto ao aleitamento materno refletiram na introdução dos outros alimentos analisados — introdução essa a qual, em geral, se deu de forma precoce, antes do período recomendado para a faixa etária. Amanda observou, ainda, que ser do sexo masculino foi um fator de proteção e que maior peso ao nascer se mostrou um fator de risco para o desenvolvimento do excesso de peso.

Cuidado com a alimentação

“Esse resultados confirmam conclusões já encontradas previamente em outros estudos”, diz Amanda. Uma reunião foi feita com todas as diretoras das creches onde foi aplicado o questionário para dar o retorno da pesquisa, apresentando quais as crianças estão em risco nutricional. Contudo, Amanda relata que durante a coleta dos dados, em conversas com as professoras, havia sido observado que todas as crianças em risco nutricional já realizavam acompanhamento com profissionais especializados.

Amanda coletou uma ampla gama de fatores, os quais podem ou não ter relação com o desenvolvimento do excesso de peso na faixa etária, desde aspectos dos hábitos alimentares até aspectos culturais. Em suas palavras, “mais estudos são necessários para a melhor compreensão de tais fatores e seus efeitos, que envolvem o aumento da prevalência de obesidade em crianças cada vez mais jovens”.

Por outro lado, os resultados ressaltam a importância do aleitamento materno. Amanda acredita que políticas voltadas para promoção e incentivo da amamentação podem contribuir – entre outros benefícios – no campo da saúde pública também para uma redução da epidemia de excesso de peso, a qual já se apresenta entre indivíduos de muito pouca idade.

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