Apesar da chance de gravidez natural ser maior com um bom estoque de óvulos, diagnóstico de uma baixa reserva ovariana não quer dizer que a mulher não poderá engravidar.
Na avaliação da saúde reprodutiva feminina, a reserva ovariana é um fator de grande importância e que preocupa muitas mulheres. Isso porque reflete o estoque de óvulos da mulher: quanto maior a reserva ovariana, maior o estoque de óvulos. Mas essa reserva diminui com a idade.
A mulher tem o maior estoque de óvulos quando ainda está na barriga da mãe, por volta da metade da gestação, com 20 semanas. Nessa época, o estoque é de cerca de 7 milhões de folículos. No nascimento, essa quantidade já é bastante reduzida, aproximando-se de 2 milhões de folículos primordiais ou óvulos. E o número continua caindo ao longo da vida. Na primeira menstruação, por volta dos 12 anos, a menina já perdeu mais ¾ desse número, chegando nessa idade com 400 ou 500 mil óvulos. Esses serão os óvulos úteis que a mulher usará para engravidar até que o estoque acabe no momento em que chegar à menopausa, por volta dos 45, 50 anos.
Mas a reserva ovariana pode ser alta ou baixa em qualquer época da vida dependendo de uma série de fatores, como a genética. Existem mulheres que já nascem com um estoque mais alto, geralmente aquelas que têm ovário policístico. Também ocorre o contrário: mulheres que nascem com o estoque mais baixo são aquelas que têm um histórico familiar de menopausa precoce. Mas, além da questão genética, há também a questão ambiental, que está relacionada com o estilo de vida que levamos hoje, com alto consumo de alimentos industrializados, muita exposição ambiental, além de influência da exposição à radiação, medicamentos, o próprio envelhecimento… tudo isso afeta a qualidade dos óvulos. Existem ainda alguns tratamentos que podem ser considerados iatrogênicos, quando têm um efeito médico indesejado, e levar a uma redução da reserva ovariana, como o uso de methotrexate, alguns antibióticos e hormônios análogos do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina).
Para saber qual o estado da reserva ovariana, existem basicamente dois exames. Um deles é um ultrassom transvaginal, que deve ser feito durante o período menstrual ou no início do ciclo menstrual e permite a realização de uma análise chamada de contagem de folículos antrais, que é a medida do estoque de óvulos que conseguimos enxergar no ultrassom. Esses folículos antrais têm de 5 a 10mm e são os que estão prontos para crescer naquele ciclo menstrual. Se for um ciclo sem hormônio externo, somente um crescerá. Se for um ciclo estimulado, a tendência é que todos cresçam, então a mulher terá vários óvulos. Outra possibilidade é o exame de sangue para medir os níveis de hormônio anti-mülleriano (AMH), que é o melhor marcador de reserva ovariana. Ele pode ser colhido em qualquer fase do ciclo menstrual e não apresenta uma grande variação de um ciclo para outro, então confere um valor muito preciso. E, quanto mais alto for o valor do hormônio anti-mülleriano, maior é o estoque de óvulos. Mas existem algumas interferências. Por exemplo, mulheres que tomam biotina ou usam pílula podem ter níveis um pouco mais baixos desse hormônio, então o recomendado é suspender temporariamente o uso dessas medicações antes de dosar o AMH. Mas, de qualquer forma, o resultado não será tão diferente.
Mas o diagnóstico de uma baixa reserva ovariana não quer dizer que a mulher não poderá engravidar. É perfeitamente possível. Só precisamos de um óvulo para chegar na gravidez. Mas, lógico, é uma questão estatística: quanto mais óvulos, maior a chance de encontrarmos óvulos de boa qualidade. No entanto, em tese, basta um óvulo bom. Então mulheres com baixa reserva ovariana podem sim engravidar desde que esses óvulos tenham uma qualidade alta, o que está mais relacionado com a idade da mulher do que com o número de óvulos. Mulheres com menos de 40, especialmente com menos de 35 anos, têm uma grande chance de engravidar mesmo com baixa reserva.
É importante dizer ainda que, como o estoque de óvulos não é tão grande, não é recomendado que a mulher espere muito tempo nessas tentativas naturais. Se ela tem menos de 40 anos e não consegue engravidar entre seis meses e um ano, já é uma boa ideia procurar um tratamento de reprodução humana. Agora, caso a mulher tenha mais de 40 anos, ela não deve esperar. O ideal é procurar um especialista em reprodução humana para engravidar logo.
Em casos de baixa reserva ovariana, o médico poderá, após avaliação do estoque de óvulos, determinar a estratégia ideal para cada paciente. Se for tentar uma gravidez natural, é preciso ainda avaliar, pelo espermograma, se o sêmen do marido é normal, se eles conseguem engravidar naturalmente, se não há nenhum problema masculino, e também se a mulher não tem nenhum problema nas trompas, porque não adianta ter um sêmen bom e um óvulo de boa qualidade se a fertilização não acontecer naturalmente. Ou então o especialista poderá recomendar o melhor tratamento de reprodução assistida para cada caso, como a Fertilização In Vitro.
Fonte: Dr. Fernando Prado –
Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.