O Brasil tem cerca de 27 mil crianças cegas, sendo que 40% delas ficaram assim por conta de condições oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas se tivessem recebido acesso a serviços oftalmológicos precocemente
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O Brasil tem cerca de 27 mil crianças cegas, sendo que 40% delas ficaram assim por conta de condições oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas se tivessem recebido acesso a serviços oftalmológicos precocemente, afirma o Dr. Luiz Brito, chefe do Setor de Córnea do H.Olhos – Hospital de Olhos, da rede Vision One, com base em informações do relatório As Condições de Saúde Ocular no Brasil – 2023, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia com dados do IBGE. Mundialmente, esse número é muito maior: 500 mil crianças ficam cegas anualmente, sendo que 50% destes casos poderiam ser evitados, informa a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O médico explica que o transplante de córnea acaba sendo uma solução eficaz para devolver a visão à grande parte dos pequenos, mas, embora considerada segura, a cirurgia em bebês e crianças gera desafios diferentes.
“Sua necessidade já se observa nos primeiros dias ou meses de vida, com uma córnea de cor azulada ou branca. Porém, para a detecção precoce de problemas visuais em bebês, o teste do reflexo vermelho, também conhecido como Teste do Olhinho, deve ser realizado em todos os recém-nascidos ainda na maternidade. Não importa se particular ou da rede pública, trata-se de um direito da criança para a detecção das patologias”, diz o Dr. Luiz Brito.
Os olhos de bebês e de crianças são significativamente menores do que os de adultos, o que torna a seleção e adaptação da córnea doadora um desafio, explica Dr. Luiz. Fora isso, existe a própria característica mais inquieta dos pequenos: as chances de problemas podem ser maiores que em adultos, por causa da possibilidade de traumas e maior chance de rejeição.
Outro fator a ser considerado é a limitação na comunicação verbal e a resposta limitada a testes oftalmológicos: “Outros fatores devem ser levados em conta, como o sistema imunológico em desenvolvimento dos bebês, que pode rejeitar o enxerto corneano. Portanto, o uso de medicamentos deve ser cuidadosamente ajustado para evitar complicações”, diz o médico.
Cirurgia é segura
A boa notícia é que, apesar dos grandes cuidados exigidos, aproximadamente 90% das córneas doadas são aceitáveis para transplante e a taxa de êxito dos procedimentos também fica acima de 90%; sendo que os doadores não se limitam a outros bebês e crianças, podendo as córneas serem uma doação de adultos ou até mesmo de idosos.
O tempo de espera na fila também diminui, “já que crianças abaixo dos 7 anos são priorizadas na doação de córnea”, diz o médico.
Dr. Luiz também explica que, após a cirurgia, a criança deve ser monitorada de perto para verificar a rejeição e quaisquer complicações, e que, em bebês, o controle no pós-operatório deve ser feito todas as semanas e durante 60 dias. Também são introduzidos medicamentos que controlam a imunidade, a fim de diminuir a rejeição.
Outro cuidado no pós é a correção com óculos ou até lente de contato para estimular o desenvolvimento da visão que acontece nos primeiros anos de vida.
A recuperação do transplante de córnea em bebês, porém, pode ser mais demorada do que em adulto e, neste processo, a avaliação frequente é necessária para ajudar a criança a se adaptar à nova córnea e a desenvolver a visão. Além disso, exames oftalmológicos regulares são essenciais para garantir o sucesso do procedimento a longo prazo.
Fonte: Dr. Luiz Brito, chefe do Setor de Córnea do H.Olhos – Hospital de Olhos, da rede Vision One