Número de mulheres com DM2 aumenta, inclusive entre jovens; gestação pode trazer problemas caso não tenha um bom acompanhamento médico
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No mês da Mulher, a Sociedade Brasileira de Diabetes alerta que a prevalência de diabetes mellitus tipo 2 na gravidez vem crescendo no país. De acordo com a entidade, o número de pacientes com diabetes tipo 2 cresce em todo o mundo em consequência dos hábitos como má-alimentação, obesidade, sedentarismo. No Brasil, o Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, mostrou que, no conjunto das 27 capitais, a frequência do diagnóstico médico de diabetes foi de 10,2%, sendo maior entre as mulheres (11,1%) do que entre os homens (9,1%).
Além desses fatores, as mulheres estão engravidando em idades mais avançadas, o que faz com que a prevalência do diabetes atinja cada vez mais mulheres grávidas. “Em anos anteriores, a maior parte das gestantes com diabetes prévio tinha diagnóstico de diabetes tipo 1, que geralmente acomete pessoas mais jovens. Atualmente, quase a metade das mulheres com diabetes que engravidam têm Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2)”, diz dra Lenita Zajdenverg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Departamento de Diabetes na Gravidez da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Revisão sistemática e meta-análise de estudos publicados entre 2010 e 2020 trouxe dados novos para o Atlas de Diabetes das regiões estudadas pela IDF (Federação Internacional de Diabetes), mostrando que a prevalência de diabetes pré-existente em mulheres grávidas dobrou durante o período 1990–2020. Os fatores que podem contribuir para o aumento desta prevalência incluem, como citado, aumento do número de mulheres que engravidam em idades avançadas e, por outro lado, também aumento da prevalência de DM2 em pessoas mais jovens.
O diabetes não impede a gravidez, mas a mulher tem de tomar uma série de precauções, pois as necessidades são mais específicas. Em primeiro lugar, de acordo com dra. Lenita, o planejamento da gravidez é muito importante para evitar complicações. “Infelizmente, temos observado que muitas mulheres com DM2 desconhecem a importância e engravidam ser realizar este planejamento”, diz. “A glicose e a hemoglobina glicada devem estar bem controladas antes mesmo de engravidar”, explica a médica. Isso porque grande parte das malformações que podem afetar os filhos de mães com diabetes ocorrem bem no início da gestação, nas primeiras semanas de vida intrauterina, muitas vezes antes da mulher ter conhecimento da gravidez “Quando a glicose está em níveis adequados, esse risco é muito menor.” Peso adequado é outro ponto importante, pois a obesidade aumenta também o risco de complicações.
Outro cuidado é relacionado ao uso de medicamentos orais. O seu uso não deve ser interrompido, mas é necessário a mulher procurar o médico bem no início da gravidez, pois ela terá de trocar esses medicamentos pela insulina, que é mais segura e eficaz para controlar o diabetes na gravidez. Além disso, a automonitorização da glicose, ou seja, medir a sua própria glicemia por meio de fitas ou sensor de glicose, passará a ser uma rotina fundamental na gestação. O bom controle da glicose reduz os riscos de malformações, parto prematuro e hipoglicemia no bebê, dentre outras complicações.
Dra. Lenita lembra ainda que fazer exercícios físicos, se não estiverem contraindicados, e ter uma alimentação saudável são fundamentais para garantir uma gravidez tranquila.
Diabetes gestacional
Uma outra condição que pode afetar a mulher grávida é a diabetes gestacional (DMG), que surge durante a gestação em mulheres que não tinham diagnóstico da doença. As complicações obstétricas, neste caso, variam desde parto prematuro até pré-eclâmpsia; o bebê pode nascer grande e ter complicações como hipoglicemia e desconforto respiratório. É importante salientar também que as mulheres que tiveram diagnóstico de DMG têm maior risco de progredir para Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e os seus filhos, maior chance de evoluírem com obesidade e com DM2 ao longo da vida.
Durante a gravidez, para permitir o desenvolvimento do bebê, a mulher passa por mudanças em seu equilíbrio hormonal. A placenta, por exemplo, é uma fonte importante de hormônios que reduzem a ação da insulina, responsável pela captação e utilização da glicose pelo corpo. O pâncreas, consequentemente, aumenta a produção de insulina para compensar este quadro. Em algumas mulheres, entretanto, este processo não ocorre e elas desenvolvem um quadro de diabetes gestacional, caracterizado pelo aumento do nível de glicose no sangue. Há algumas características que elevam o risco de a gestante ter essa complicação, como história familiar de diabetes mellitus; já ter exames de sangue com glicose alterada em algum momento antes da gravidez; excesso de peso antes ou durante a gravidez; gravidez anterior com feto nascido com mais de 4 kg; histórico de abortos espontâneos sem causa esclarecida; ter hipertensão arterial; ter ou já ter tido em gestação anterior pré-eclâmpsia ou eclâmpsia; ter síndrome dos ovários policísticos e usar corticoides.
O diabetes gestacional pode ocorrer em qualquer mulher e não apresenta sintomas identificáveis. Por isso, recomenda-se que todas as gestantes pesquisem a glicemia de jejum no início da gestação e, aquelas que não tem diabetes pré-existente, a partir da 24ª semana de gravidez (início do 6º mês) devem realizar o exame da glicemia após estímulo da ingestão de glicose, o chamado teste oral de tolerância à glicose. A base do tratamento do DMG é uma alimentação saudável, atividade física e controle das glicemias capilares.
Fonte: Lenita Zajdenverg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Departamento de Diabetes na Gravidez da Sociedade Brasileira de Diabetes.