Adenomiose é Causa Comum de Aborto de Repetição em Mulheres; Saiba como Identificar

Uma em cada quatro mulheres que sofrem abortos de repetição tem adenomiose. E incidência da doença é ainda maior entre mulheres que nunca deram à luz ou que perderam três ou mais gestações.

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Caracterizado pela interrupção de uma gestação antes da 22ª semana, quando o feto ainda pesa menos de 500 gramas e não consegue sobreviver fora da barriga da mãe, o aborto é uma situação mais comum do que se imagina, com incidência de uma em cada cinco mulheres gestantes. E, quando a mulher sofre mais de dois abortos seguidos, chamamos de aborto de repetição. As causas são muito variadas, podendo incluir, por exemplo, fatores genéticos e anatômicos. Mas uma das possibilidades é a presença de uma condição conhecida como adenomiose.

A adenomiose é caracterizada por um crescimento descontrolado do endométrio, que é o tecido que reveste o útero. Ele invade o miométrio, camada muscular intermediária do órgão, e causa um processo inflamatório que prejudica a fertilidade. Mas é importante não fazer confusão com a endometriose, pois, apesar de ambas estarem relacionadas ao crescimento anormal do endométrio, são condições distintas. Enquanto na adenomiose esse crescimento ocorre dentro do útero, na endometriose o tecido endometrial invade locais no exterior da cavidade uterina, como ovários, intestino e bexiga.

Um estudo publicado em julho mostrou que aproximadamente uma em cada quatro mulheres que sofreram abortos de repetição têm adenomiose. E a incidência se mostrou ainda maior nas mulheres que nunca tinham dado à luz em comparação com aquelas que já tinham filhos (27% contra 11%). Além disso, a doença também se mostrou mais comum em mulheres com três ou mais abortos do que naquelas que tiveram apenas dois (29% contra 15%).

Na população geral, a adenomiose afeta cerca de uma em cada dez mulheres, mas, muitas vezes, passa despercebida, pois, assim como a endometriose, comumente não apresenta sintomas. Quando surgem, podem incluir aumento do fluxo menstrual e cólicas severas, que muitas vezes passam despercebidas, além da dificuldade para engravidar. E o aumento do sangramento é um dos principais meios de diferenciar a adenomiose da endometriose, pois, enquanto ambas as doenças tendem a causar dor pélvica, a endometriose geralmente não gera um aumento do fluxo menstrual. Em contrapartida, pode causar dor ao urinar ou evacuar, o que não é comum na adenomiose.

Outra possibilidade para os abortos de repetição são as anomalias uterinas. No mesmo estudo, foi observado que 19% das mulheres que sofreram abortos de repetição apresentam anomalias uterinas congênitas, que ocorrem quando, durante o desenvolvimento do feto, a formação do útero não ocorre da maneira adequada. Exemplos incluem o útero bicorno, um tipo de malformação embrionária na qual o útero não completa seu processo de fusão, e o útero unicorno, em que apenas metade da cavidade uterina se formou corretamente. De maneira geral, essas anomalias não impedem a gravidez, mas podem dificultar a evolução da gestação, levando a abortos de repetição.

Por isso, após episódios seguidos de aborto, é essencial procurar um especialista em reprodução humana, que poderá diagnosticar o problema corretamente e indicar o tratamento mais adequado para cada caso. O médico poderá, por exemplo, recomendar a realização de ultrassons transvaginais ou mesmo ressonância de pelve para identificação de anomalias uterinas congênitas e problemas como adenomiose.

O tratamento depende de cada caso, mas na adenomiose, por exemplo, pode incluir medicamentos para alívio dos sintomas e, em algumas situações, intervenções cirúrgicas, que também podem ser indicadas para a correção de anomalias uterinas. Pode ser necessário também realizar uma FIV (fertilização in vitro) para que a mulher tenha condições de engravidar novamente. Mas a boa notícia é que, independentemente das causas do aborto de repetição, mulheres que passaram por esta situação possuem 70% de chance de engravidar e ter uma gestação saudável.

Colunista: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.

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