Quando as pecinhas não se encaixam corretamente ou no tempo certo, podem surgir deformidades e haver prejuízo no desenvolvimento da criança
Como é possível a cabeça de um bebê passar pelo canal vaginal de uma mulher na hora do parto? Essa é uma curiosidade de toda mãe e cuja resposta pode ajudar a prevenir problemas estéticos e até de desenvolvimento neurológico dos recém-nascidos.
Diferentemente dos adultos, o crânio dos bebês não é formado por uma peça única, mas, sim, por peças ósseas ligadas por tecidos fortes chamados suturas. Por serem flexíveis, as suturas, além de facilitarem a contração da cabeça do bebê no momento do parto, fazendo com que ela consiga passar pelo canal vaginal, também permitem que, após o nascimento, o cérebro da criança continue a crescer dentro da calota craniana.
“Isso ocorre de forma bastante rápida até o segundo ano de vida, período em que as suturas vão se expandindo até que as placas ósseas do crânio se tornem uma peça única. Por isso, quando uma sutura se fecha antes do tempo, acarreta o que chamamos de cranioestenose, ou seja, uma deformação na cabeça que pode afetar a cognição e a visão da criança”, explica o Dr. Fernando Gomes Pinto, neurocirurgião da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Por isso é necessário estar atento, pois quando as pecinhas não se encaixam corretamente ou no tempo certo podem surgir deformidades e haver prejuízo no desenvolvimento da criança.
De olho no formato da cabecinha do bebê
Vale lembrar que nem toda alteração no formato da cabecinha do bebê é necessariamente uma cranioestenose. Além do exame clínico, o ideal é que sejam feitos exames de imagem (raios-X e tomografia computadorizada) para confirmar o diagnóstico, que pode ser realizado por um pediatra, um neuropediatra ou um neurocirurgião.
“Os exames de imagens devem ser indicados com parcimônia, pois há exposição do sistema nervoso central da criança aos raios-X. Entretanto, o diagnóstico precoce e a correção adequada da cranioestenose, geralmente cirúrgica, são os passos fundamentais para o sucesso do tratamento”, afirma o neurocirurgião da BP.
Quando é necessário operar?
A posição inadequada do bebê dentro do útero durante a gestação ou mesmo fatores genéticos podem causar a cranioestenose, que na maioria dos casos provoca apenas uma deformidade estética no crânio da criança. Entretanto, há casos mais graves em que a cranioestenose vem acompanhada de síndromes que podem comprometer tecidos e órgãos como músculos, ossos e coração, entre outros. Em ambos os casos, o tratamento costuma ser cirúrgico, mas graças aos avanços tecnológicos da medicina e ao desenvolvimento de técnicas endoscópicas minimamente invasivas, os resultados estéticos e funcionais para os pacientes têm sido cada vez melhores.
O doutor Fernando Gomes Pinto explica que a cirurgia exige uma transfusão de sangue e, em média, o bebê recebe alta cinco dias após o procedimento. Porém, há necessidade de acompanhamento médico periódico e a alta definitiva só ocorre por volta dos 7 anos de idade.
“A adesão ao tratamento é fundamental. Isso porque a criança que tem a recomendação cirúrgica, mas não faz a operação, corre o risco de não atingir o máximo de inteligência que seria possível para seu cérebro, além de, em alguns casos, apresentar alterações neurológicas e visuais”, finaliza o neurocirurgião.