Lápis no olho, arranhão do gato ou cachorro, e queimadura por produtos químicos variados estão entre as causas mais frequentes de traumas oculares em crianças. Um segundo de distração, e o acidente acontece, geralmente onde se pensa ser o local mais seguro: o próprio lar, em ambiente familiar, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Afinal, quais cuidados tomar para que casos como esse não coloquem em risco a visão dos pequenos? E o que fazer em eventualidades como essa?
Para evitar acidentes, a conscientização dos pais e a supervisão do adulto são consideradas as medidas preventivas mais importantes. “De acordo com a literatura mundial sobre o tema, a maioria dos acidentes ocorre dentro de casa. É complexa a prevenção do trauma doméstico, mas aumentando-se a conscientização dos pais, melhorando a supervisão e a exposição de crianças mais novas aos objetos e às situações potenciais de perigo, pode-se reduzir a sua ocorrência”, comenta o Dr. Alan Barreira, oftalmologista do HCLOE, empresa do Grupo Opty em São Paulo.
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que cerca de 55 milhões de traumas oculares ocorrem a cada ano, restringindo as atividades dos pacientes por mais de um dia; 750.000 deles irão requerer hospitalização. Há em torno de 1,6 milhões de cegos por traumas oculares, além de 2,3 milhões de pessoas com visão baixa bilateral e quase 19 milhões com cegueira unilateral ou visão baixa, por essa mesma circunstância. Cerca de 40% dos casos de trauma ocular ocorrem na infância, sendo a maioria deles registrados em meninos.
A maior prevalência de traumas oculares encontra-se nas crianças entre 2 a 6 anos, o que se justifica pela imaturidade do sistema motor, senso de risco limitado e curiosidade infantil natural mais aparente nessa faixa etária, conforme afirma o Dr. Alan Barreira. Porém, as lesões com maior perda visual são relatadas na garotada maior de 6 anos. Abrasão corneana causada por madeira, pedra, bola, chave, lápis e caneta é a causa de trauma ocular mais comum na infância, segundo estudos publicados no País.
De acordo com o Dr. Alan Barreira, as consequências dos traumas oculares vão desde dor e olho vermelho por uma abrasão corneana, até a formação de úlcera de córnea, catarata e a necessidade de evisceração do globo ocular, ou seja, a extração do conteúdo do globo ocular (íris, humor vítreo), em casos de perfuração do olho – daí a importância da prevenção.
Alguns cuidados para prevenir acidentes capazes de causar traumas oculares:
- Deixar o cabo da panela virado para dentro do fogão, evitando o fácil acesso de crianças e, consequentemente, de queimaduras térmicas oculares.
- Manter longe do alcance das crianças os produtos de limpeza, perfumes, tintas e outras substâncias químicas.
- Não presentear as crianças com brinquedos ou objetos pontiagudos: estilingues, canivetes ou tesouras com pontas. Essa medida reduz o risco de perfuração ocular.
- Antes de comprar uma planta nova, verifique se ela não é venenosa e apresenta perigo para os pequenos em caso de ingestão ou contato com os olhos.
- As crianças devem ser orientadas a tomar cuidado com aves que bicam, o gatinho que arranha e o cachorro que morde.
- Sempre que possível, supervisionar as crianças durante os jogos e brincadeiras. Ensinar as crianças a brincar e jogar com segurança, e ainda a ter consciência da possibilidade de lesões oculares.
- As crianças devem ser orientadas a não coçar os olhos repetidamente, pois coçar muito pode facilitar o aparecimento de infecções e do ceratocone, doença degenerativa da córnea, que faz com que ela assuma um formato de cone. Isso causa um astigmatismo irregular, levando a graves dificuldades de visão, sem cura.
- Em casa ou na escola, os responsáveis devem ficar atentos a objetos pontiagudos, como lápis e tesoura, mesmo sem pontas, pois podem se transformar em armas nas mãos dos pequenos.
- Mesmo em saídas rápidas, no próprio quarteirão de casa, o uso do cinto de segurança e das cadeirinhas apropriadas é indispensável e diminui o risco de perfuração ocular. Crianças de até 12 anos de idade devem estar sempre no banco traseiro. Jamais levar a criança, de qualquer idade, no colo.
Como prestar socorro? – O principal sintoma de alerta de que pode haver algo errado é a dor. Crianças que choram muito, sem parar, e levam as mãos aos olhos, devem tê-los atentamente verificados pelos responsáveis. É importante comparar os dois olhos para tentar identificar alguma anormalidade.
De acordo com o oftalmologista do Grupo Opty, a primeira e mais importante medida de socorro, após um acidente ocular, é a lavagem dos olhos com água limpa em abundância. A única exceção se faz quando se tratar de perfurações oculares, que devem ser imediatamente encaminhadas ao pronto socorro mais próximo. É importante evitar a compressão do globo ocular até a avaliação da lesão provocada pelo acidente. Por isso, é recomendável levar a criança para ser avaliada por um oftalmologista que possui os equipamentos e os recursos necessários para um adequado exame dos olhos em casos de emergência.