Fique atenta ao seu relógio biológico, pois, infelizmente, a idade da mulher ainda é a principal causa de infertilidade
O mundo das mulheres mudou para melhor. Com papéis estabelecidos no mercado de trabalho dedicam-se de forma intensa à vida profissional, aumentam a exigência de um parceiro ideal para ser o pai de seus filhos e terminam por retardar o nascimento e a busca do primeiro filho. Entretanto, o sonho da maternidade não desaparece e acompanha essas mulheres que adiam a gestação para priorizar a carreira e a estabilidade financeira. A cada ano que passa, buscam o seu primeiro filho em uma idade mais avançada e esse desejo só se torna real numa idade superior à ideal (próximo aos 40). Este modelo de maternidade que envolve, praticamente, todas as culturas do mundo, fez com que a idade avançada se tornasse o motivo principal a dificultar ou até impedir que as mulheres engravidem, pelo menos com os próprios óvulos e não com óvulos doados.
Atualmente, de cada seis gestantes atendidas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, uma tem mais de 35 anos. Na década de 1970, a taxa era de uma a cada 20. No Laboratório Fleury, em São Paulo, cerca de 35% das gestantes têm mais de 35 anos e 15% mais de 40 (Revista “Fleury – Saúde em dia” edição 22, abril/2011). No IPGO este aumento tem sido progressivo nos últimos anos. A cada ano aumenta o número de mulheres maduras – já representam até 60% dos casais – que buscam ter seu primeiro filho. Há dez anos esta proporção era de no máximo 10%. Enquanto isso, um dado que ainda preocupa é que, mesmo caindo, o número de adolescentes grávidas no Brasil ainda é muito alto se comparado a outros países.
É certo que cuidados com os bons hábitos e estilo de vida são importantes. O peso ideal, exercícios físicos, não fumar, não beber, tomar pouco ou nenhum café, evitar alguns peixes e proteína animal, tomar vitaminas e cuidados com o aquecimento dos testículos tem um impacto significativo nas causas de infertilidade. As relações sexuais com hora marcada e na época certa da ovulação são importantes, mas podem causar algum prejuízo ao lado romântico das relações afetivas, o bom da vida conjugal. São detalhes, mas podem fazer a diferença no dia a dia de um casal. Entretanto, apesar de todas essas medidas, é inevitável a queda natural da fertilidade da mulher ao longo dos anos.
Há evidências muito bem estabelecidas na literatura de que ocorre uma diminuição da fertilidade da mulher após os 35 anos, chegando a cair em 50% dos 25 aos 35 anos. Isso se deve a vários fatores, entre eles o de a idade afetar o número de folículos disponíveis para ovulação. Já é sabido que a menina, ao nascer, tem nos seus ovários um número pré-determinado de óvulos, algo em torno de um a dois milhões. Quando chega à idade fértil possui apenas 300 mil óvulos capazes de ser fecundados. A cada ciclo menstrual, para um óvulo que atinge a maturidade, aproximadamente 1000 outros são perdidos. Segundo esse processo contínuo e normal, após os 35 anos o número de óvulos capazes de serem fertilizados está diminuído, além daqueles que podem ter sido perdidos por outros fatores como cirurgias, por exemplo.
Além de diminuir o número de óvulos, é sabido também que a idade afeta a qualidade dos mesmos, devido a alterações cromossômicas. Isso diminui a taxa de gravidez, além de aumentar a chance de aborto e de malformações fetais, como, por exemplo, a Síndrome de Down.
Com isso, a chance de uma gravidez espontânea vai caindo naturalmente, sendo mais freqüente a necessidade do uso de técnicas de reprodução assistida e, mesmo essas, terão menor chance de sucesso. Assim, de todas as dificuldades, a que chama mais atenção é, sem dúvida, a idade da mulher e o conseqüente envelhecimento dos óvulos. Por tudo isso, o congelamento dos óvulos pela técnica de vitrificação é a melhor maneira de preservar a fertilidade que, infelizmente, ainda é pouco divulgada.
A ciência tem feito sua parte. Altas doses de hormônios, mudanças de protocolos de indução de ovulação, novas drogas, novas técnicas de laboratório, etc., são avanços tecnológicos que têm ajudado muito os casais a ficarem grávidos. Entretanto, é impossível aplicar técnicas milagrosas quando já não existem mais óvulos. O médico Juan Garcia Velasco do IVI (Instituto Valenciano de Infertilidade), de Madrid, na Espanha, explica esta dificuldade: “Nós não podemos estimular folículos (óvulos) que não existem” (“We cannot stimulate follicles wich do not exist”). É importante divulgar que os melhores resultados são obtidos em mulheres com menos de 32 anos e, por isso, elas devem ser alertadas da perda do seu potencial reprodutivo com o passar dos anos. Congelar óvulos é relativamente fácil e seguro, embora não seja muito barato. Doze óvulos congelados aos 28 anos oferecem 50% de chances de gestação ao serem fertilizados aos 40.
Enfatizando: as mulheres devem ser informadas, seja por médicos ou pela mídia, que é preferível engravidar antes dos 35 anos, pois é mais seguro e a probabilidade de se ter um bebê saudável é bem maior se comparada a gestações em idades mais avançadas. Se mesmo assim, quiserem adiar, congelar os óvulos é uma das opções mais seguras.