O primeiro trimestre da gestação é marcado pela aceitação de um novo ser, a reação do parceiro diante da novidade (caso a gravidez não seja planejada), as mudanças e desconfortos no corpo e a curiosidade de saber o sexo – embora ainda seja cedo. O segundo trimestre é neutro, uma tranqüilidade… Há bem-estar, beleza, energia para trabalhar, todos reconhecem a mulher como “a grávida” e ela finalmente sabe o sexo, personaliza os objetos do bebê e cria sua “carinha” no imaginário. Já o terceiro trimestre de espera passa lento e as últimas semanas podem se arrastar por meses no calendário esgotado da grávida.
Passamos o dia com Rosa Maria Macarroni Abbade, de 38 anos, mãe as véspera do parto para conhecer de perto as ansiedades e desconforto da grávida nesta fase. Vamos saber o que ela está fazendo para seguir tranqüila durante o terceiro trimestre. Rosa é psicóloga e pedagoga, dona da creche-escola Pedro e Rosa (do Jardim a 4ª série do Ensino Fundamental), que atende 80 crianças no Rio de Janeiro. Bem-sucedida profissionalmente, é casada com o médico pediatra Dimas Abbade Filho e mãe de Katherine, de 10 anos, e Desireé, de 7.
Ela não planejou o terceiro filho, mas foi pega de surpresa com a notícia enquanto fazia exames para uma cirurgia. “Preparava-me para fazer várias plásticas porque emagreci 60 kg desde que fiz cirurgia bariátrica (cirurgia para a redução do estômago), em 2003. Meus planos foram adiados, mas estou feliz”, conta. Antes da primeira gestação, em 1995, Rosa pesava 65 Kg. Após a chegada do bebê já sentia o peso de 125 Kg. Conseguiu emagrecer 25 kg, mas engravidou mais uma vez e ganhou mais 20 kg durante a segunda gestação. “Fiquei hipertensa, diabética e com depressão. Não abria nem as cortinas para olhar o sol. Moro em frente à praia, mas tinha vergonha de ir. Meu marido foi muito paciente, um herói. Quando minha filha mais nova completou 5 anos resolvi fazer a cirurgia e recuperei auto-estima. A adaptação foi tranqüila porque já vivia de dieta mesmo”. Pronta para eliminar os excessos com a ajuda da intervenção cirúrgica Rosa foi surpreendida com a notícia da terceira gravidez. “Entrei em pânico no início, mas não senti enjôo ou azia. Foi a minha melhor gestação”. A família espera por Marie Louise, que vai completar o trio de meninas do casal.
Ativa e agitada, Rosa vai trabalhar até a véspera do parto (cesárea com ligadura de trompas). A filha de 10 anos estuda próximo ao trabalho da mãe, a irmã, de 7, estuda na escola coordenada por Rosa, assim como a recém-nascida – que vai usufruir do berçário recém-inaugurado após a enxuta licença-maternidade de apenas 20 dias de Rosa. “Não dá para ficar longe da escola muito tempo. Vou trazer todo mundo pra cá para continuar a trabalhar”.
Driblando o desconforto
Para continuar dirigindo sua escola até os últimos dias da gestação, Rosa Maria teve que achar soluções para os desconfortos previstos.
“Do sétimo para o oitavo mês fiquei com as pernas e pés inchados e passei a sofrer de insônia (à noite acordo e ligo a TV). Também sinto muita vontade de comer de madrugada, então optei pela banana porque alivia a fome e previne as câimbras. No último mês há o peso da barriga, os ossos da bacia se alargam e o bebê mexe muito. Mas o que mais incomoda é ter que ir ao banheiro fazer xixi muitas vezes seguidas, afinal, são quase 3 kg em cima da bexiga”, enumera e dá dicas de mulher de médico: “Dormir sempre do lado esquerdo para liberar a circulação pela veia cava”.
Usufruindo o prazer
“A expectativa de ter mais uma menina em casa é sensacional. Sentir e ver a barriga crescer… se mexer… As minhas filhas e meu marido fazendo carinho na barriga e se emocionando comigo a cada mudança”.
“Arrumar o quarto, que agora vai receber mais uma moradora. Eu e as meninas fizemos a nova decoração juntas: Compramos uma triliche e escolhemos o papel de parede. E ainda cuidamos de todos os detalhes do enxoval. Uma delícia!”
Trabalho
“Chego às 6:30 e saio às 19:30 horas. Circulo muito pela escola para acompanhar de perto as aulas e atividades das crianças e fico muito tempo também sentada em frente ao computador, falando ao telefone e passando fax”.
“Faço todos os pagamentos em banco e as compras que abastecem as dispensas da creche. Gosto de cuidar disso pessoalmente e acompanhar as promoções. Vou a quatro, cinco supermercados no início da semana para pegar as melhores ofertas e tudo fresquinho”.
Dieta da Rosa | |
Café da manhã: | Suco (de melão, abacaxi ou mamão), duas torradas, queijo branco. |
Colação: | Iogurte light ou fruta |
Almoço: | Feijão, beterraba (para prevenir a anemia) – sempre. Verduras e legumes, como batata, espinafre e couve (após a cirurgia, Rosa criou intolerância a arroz). Carne e suco. Complexo vitamínico, complexo B, ácido fólico e poli vitamínico |
Sobremesa: | Fruta |
Lanche: | Vitamina (fruta com leite desnatado) |
Jantar: | Igual ao almoço |
Sobremesa: | Gelatina diet ou iogurte light |
Madrugada: | Uma banana |
“Como tudo muito devagar. Levo cerca de 45 minutos à uma hora. Em conseqüência da operação, caso eu me alimente rápido demais, sinto-me mal e a comida volta”. |
Dicas de Rosa para um terceiro trimestre de paz
1 – Relaxar embaixo de uma boa ducha.
2 – Deitar sozinha por algumas horas.
3 – Pedir silêncio.
4 – Meditar
5 – Ouvir música bem baixinho.
6 – Ler um livro.
7 – Dirigir bem devagar e sempre com cinto de segurança abaixo da barriga para não estrangular o bebe em caso de uma freada brusca.
8 – Dormir com dois travesseiros na altura dos ombros, um terceiro apoiando a barriga e dobrar a perna que fica por cima.
9 – Caminhar (“Eu caminho na orla nos finais de semana”).
10 – “Vou a praia todos os sábados de manhã. Alugo uma cadeira na areia, bebo a minha água de coco… O que me relaxa mesmo é ver o mar…”O que dizem os especialistas
Obstetra
Dr. Cristina Romano
“No terceiro trimestre o feto está pronto, mas imaturo. Quanto à parte clínica, as consultas são semanais e são feitos os últimos exames para verificar, por exemplo, a oxigenação do bebê, o grau de atividade uterina, a reação do bebê a contrações, se o coração está batendo dentro da normalidade para a fase, se há perda de líquido, sangramentos, falta de movimento do bebê, aumento de peso brusco, hipertensão, etc. Sabendo que está tudo certo, a gestante se sente mais tranqüila e pronta para a hora H. Em casa, a grávida precisa de apoio emocional e segurança familiar. Dormir do lado esquerdo (decúbito lateral esquerdo) para que vá mais oxigênio para o bebê e a coluna seja poupada é uma ótima dica, assim como elevar os pés por 15 minutos diários para evitar edemas dos membros inferiores e inchaço dos pés. É importante nesta fase que a grávida vá desacelerando e reduza a marcha do seu ritmo de vida. Não é para ficar apática em casa, apenas dar preferência a trabalho e programas que goste de fazer e que relaxe. Enfim, evitar lugares estressantes e ficar light”.Profissional de Educação Física e terapeuta
Márcia Chaves
“Se a gravidez estiver sem problemas, a gestante pode continuar fazendo exercícios físicos até o final, contanto que seja acompanhada por um especialista. Ela deve diminuir a intensidade do trabalho físico (ginástica ou hidroginástica), mas manter os exercícios para estimular a parte respiratória e circulatória, para compensar a postura e aliviar os inchaços. Pode manter também outras terapias, como a drenagem linfática. Também aconselho que deite do lado esquerdo ao dormir, mas nada é rígido obrigatório, a grávida não precisa ficar amarrada na cama! Por fim, fazer leves caminhadas, ir a lugares oxigenados, fazer uma alimentação leve e beber muito líquido”.Massoterapeuta
Andréa de Almeida Barbosa
“A drenagem linfática feita na grávida tem que seguir uma regra: não pode ser feita no abdômen. Os benefícios são muitos: melhora a circulação, elimina a retenção de líquidos, diminui edemas e dores nas pernas, relaxa, é depurativa e melhora a celulite. Ela é feita principalmente nos braços, mãos, pernas, pés, seios e no rosto. E não pode ser agressiva. Os movimentos são lentos e delicados, quase monótonos, sem força. Nos seios facilita a passagem do leite. No rosto, diminui o inchaço do nariz e lábios. Ela também abre os canais linfáticos e os pontos de escoamento localizados na axila, virilha, atrás dos joelhos, nos punhos e cotovelos. As massagens duram cerca de 45 minutos e são aconselháveis duas vezes por semana”.Nutricionista
Dr. Cláudia Góes
“Normalmente a grávida ganha 1Kg e ½ no primeiro trimestre, 1 kg e ½ no segundo e seis quilos no terceiro (este tem o maior ganho devido ao aumento de peso do feto). O bebê cresce, mas também suga as reservas de cálcio e vitaminas da mãe. Ela deve ter um acompanhamento nutricional desde o início para avaliar se está acima do peso, que só deve aumentar o necessário para saúde do bebê e dela, e ingerir vitaminas e proteínas nas doses certa. De uma maneira geral, as grávidas devem consumir alimentos ricos em proteínas magras, leites e derivados e aumentar a ingestão de fibras – presentes nas frutas, legumes e verduras. A ingestão de bastante líquido vai favorecer a quantidade de leite. E não esquecer de comer a cada 3 horas, moderadamente, para evitar ganho excessivo de peso. Enfim, se equilibrando desde o início, a mãe terminará a gestação tranqüila, com o peso ideal e evitará problemas como, partos prematuros ou eclampsia”.Psiquiatra e psicanalista
Luiz Alberto Py
“A última fase é a mais fácil do ponto de vista psicológico. Afinal, se a mãe fez o Pré-Natal direito e a criança já gestou e está bem, não há suspeita de problemas. A expectativa maior é com relação ao parto. Mas ficar ansiosa com o parto é coisa de antigamente! Uma mãe que foi bem atendida durante a gravidez vai para o parto otimista! Qualquer pensamento fora desse ritmo e desse tempo já acende uma luz amarela, está fora do esperado, da normalidade. Este é um momento de felicidade e não para ficar sofrendo ou ansiosa sem razão. Gosto de olhar para esta direção”.Algum tempo depois dessa matéria ter sido publicada
Olha a Marie Louise aí, geeente!
Marie Louise nasceu dia 20 de outubro de 2006, com 3.500kg e 51cm. Só se alimenta de leite materno. Segundo a mamãe coruja, ela é esperta, risonha e simpática e a família está babando. Rosa voltou a trabalhar em sua creche-escola vinte dias após o parto e conquistou o peso ideal em 30 dias.