Quem estudou até os anos 70 ou 80 do século passado foi alfabetizado direto com a letra que chamamos de cursiva. Mas no final década de 80 e início de 90 ela deixou de ser usada e ficou praticamente duas décadas esquecida da memória dos mais velhos.
Na ocasião, e ainda hoje, o argumento é o mesmo: para que ensinar cursiva se os alunos têm mais contato com a letra imprensa ou bastão para leitura nas mídias? Não poderiam estar mais enganados os que assim o colocavam…
Na época estávamos com uma abertura do país a novas possibilidades e uma delas foram novas teorias educativas que, infelizmente, demoraram muitos anos para serem realmente compreendidas. Entre os mitos que surgiram, o banimento da cursiva ser favorável ao aluno foi um deles.
Houve uma análise por parte de estudiosos e professores no período que ela esteve em “stand-by” a entender que ela fazia falta sim e era ela, aparentemente dispensável e tão trabalhosa, que ajudava o aluno a ser desenvolvido na escola de várias maneiras.
Segue dados do seu retorno às escolas:
1. Melhora as conexões neurais: nunca o cérebro foi tão relacionado antes à aprendizagem como agora. A letra cursiva estimula o cérebro de uma forma que a digitação e a letra bastão não conseguem. Ela consegue desenvolver uma relação entre os hemisférios direito e esquerdo, promovendo inputs que aprimoram a atenção, a linguagem e a memória de trabalho.
2. Contribui para as habilidades motoras: com o uso da cursiva, a criança aprende a força necessária na relação lápis/papel, o ângulo e melhor posição para executar a escrita manual e ainda desenvolve um senso motor expressivo para que a escrita tenha a fluência da esquerda para a direita.
3. Aprimora a retenção de memória: o ato de escrever em letra cursiva promove a reflexão sobre o que está sendo escrito. O processo envolve ainda a interpretação e a retenção de informações. Se comparada à digitação, por exemplo, por levar maior tempo, faz o processamento do conteúdo ser melhor absorvido, dando o período que o cérebro necessita para interpretar. Ativa o processamento de imagens, por ter um traçado pré-definido e desenhado, reforçando ainda mais a retenção de memória.
4. Melhora a interpretação e a ortografia: o fato de ser sempre escrita da esquerda para a direita, ter uma cadência, com o devido espaçamento entre palavras, facilita a leitura. A atenção usada para fazê-la desenvolve a atenção e contribui ainda para o uso da memória muscular por causa do traçado tão específico e rebuscado das letras, ajudando na ortografia. Compara-se ainda, em estudos, a memória muscular da cursiva ao ato de tocar um piano. O aluno cria memória muscular pela repetição de movimentos, só que aliados à linguagem, assim como um pianista cria memória muscular pela repetição de movimentos.
5. Facilita a aprendizagem para alunos com dificuldade: alguns transtornos de aprendizagem se beneficiam com a letra cursiva. Crianças com dislexia, por exemplo, costumam ter dificuldade em diferenciar p e b, por conta de sua grafia visual. Na letra cursiva o que facilita sua distinção é o traçado dessas letras bastante diferente.
Existe outros benefícios ainda não investigados nas fases da alfabetização como: o aprimoramento da criatividade, melhoria da coordenação viso-motora e da produção autoral, melhoria dos resultados em avaliações e diminuição dos erros de escrita.
Ela estimula o lobo occipital, responsável pelo reconhecimento das letras, sendo o primeiro contato da alfabetização do ponto de vista neural, mas para surtir o efeito desejado, é preciso que seja estimulada antes do início do aprendizado escolar da criança. No início, as letras e movimentos devem ser integrados a atividades lúdicas e em menor quantidade, passando progressivamente para algo mais formal. Crianças apresentam os melhores resultados escolares quando aprendem a letra cursiva, independentemente do ponto de alfabetização, uma vez que se busca resultados neurais e não da alfabetização em si, até antes do segundo ano.