Um bebê aos 35 anos de idade?

Existe muita preocupação com a gravidez tardia, considerada de risco, mas esta poderá correr tranqüilamente, se a mulher contar com o acompanhamento médico adequado.

O universo feminino mudou muito desde a década de 60. As mulheres foram para as universidades e passaram a disputar espaço no mercado de trabalho. Paralelamente, o desenvolvimento de métodos anticoncepcionais seguros, como a pílula, permitiu que a mulher definisse o momento mais oportuno para engravidar. Hoje, devido ao competitivo mercado de trabalho e ao acúmulo de funções sociais, muitas optam por ter filhos mais tarde, depois dos 35 anos.

A decisão de adiar a maternidade também é reflexo do aumento da expectativa de vida do brasileiro, que já vive, em média, 71,3 anos. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, para cada 100 jovens, há 25 idosos no Brasil. O número de brasileiros maiores de 60 anos é de cerca de 17,6 milhões, o que significa dizer que 9,7% da população brasileira é formada por pessoas da terceira idade. Como a mulher estabeleceu prioridades além do casamento e da maternidade, aos poucos, ela foi postergando o momento de ser mãe. “Neste contexto, a maioria das mulheres que procura uma clínica especializada para tratamento de infertilidade já tem mais de 35 anos. Mas, a idade máxima ideal em termos biológico para a mulher ter o primeiro filho não mudou, continua sendo 28 anos. Por outro lado, a medicina avançou e mostrou que os resultados do tratamento para infertilidade também são eficazes, mesmo em mulheres de 35 anos, devido à utilização das novas tecnologias. Após esta idade, realmente os riscos para a primeira gravidez aumentam”, afirma o especialista em reprodução humana, Joji Ueno.

O IBGE revela que o número de mães com mais de 40 anos no Brasil cresceu 27%, entre 1991 e 2000. Dados da Fundação Seade, Sistema Estadual de Análise de Dados, no Estado de São Paulo, indicam que em um período de 10 anos (1995-2005), houve um aumento de 2,3% em relação ao número de filhos (nascidos vivos) de mães dos 35 aos 39 anos. Ou seja, em 1995, de um total de 680.643 bebês (de mães de todas as idades), 44.891 foram de mães desta faixa etária, o que representa 6,6%. Já em 2005, o número de nascidos caiu para 619.137, porém, mais mulheres dos 35 aos 39 anos engravidaram e o número de bebês aumentou para 55.152 (8,9%). “Depois dos 35 é mais difícil engravidar. A mulher tem menos óvulos e é menos fértil”, diz Ueno, que também é Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. “Engravidando mais tarde, a possibilidade de ter um filho com síndrome de Down aumenta, bem como o risco de desenvolver hipertensão, diabetes ou de apresentar uma doença de base pré-existente”, afirma o médico.

As chances de gestação diminuem com a idade, em decorrência de vários problemas ginecológicos como cistos, miomas, infecções e endometriose, além da diminuição da reserva e da qualidade dos óvulos, fatores estes decorrentes da idade que é uma das causas da infertilidade.

Precauções necessárias

Normalmente, mulheres que esperam para ter filhos depois dos 35 anos são profissionais de vida corrida, que trabalham muito. “Elas terão que aprender a diminuir o ritmo em prol do bem estar do bebê”, defende o médico. Existe muita preocupação com a gravidez tardia, considerada de risco, mas esta poderá correr tranqüilamente, se a mulher contar com o acompanhamento médico adequado.

Joji Ueno recomenda às mulheres que desejam engravidar após os 35 anos de idade alguns cuidados. “O primeiro deles é procurar o médico antes de engravidar. Depois, é importante fazer exames laboratoriais de rotina, tais como hemogramas, tipagem sangüínea, sorologias, exames de urina. Se tudo estiver bem, recomendo também uma suplementação vitamínica de ácido fólico, três meses antes da concepção. Esta pode diminuir o risco de má formação do sistema nervoso central do bebê”, explica o médico.

As grávidas acima de 35 anos estão mais sujeitas a abortamento, por isto, “depois de confirmada a gravidez, a mulher deve fazer um exame de ultra-som para verificar se o embrião está dentro do útero e se a gestação é única ou múltipla. Mulheres com mais de 35 anos também estão mais propensas a ter gestações múltiplas, anômalas ou fora do útero”, diz Joji Ueno, coordenador do curso de pós-graduação, Especialização em Medicina Reprodutiva, ministrado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O ultra-som permite diagnosticar a gestação anembrionada, com desenvolvimento do saco gestacional, mas sem formar o embrião.

Possibilidades de tratamento

Se a mulher chegar aos 35 anos de idade sem conseguir engravidar naturalmente, ela pode contar, hoje, com diversos tratamentos que poderão auxiliá-la disponíveis nas clínicas de reprodução humana. “Para cada caso há uma indicação terapêutica, desde uma indução da ovulação, passando pela fertilização in vitro, ou optando pela doação de óvulos ou doação temporária de útero, dentre muitos outros tratamentos”, diz Joji Ueno.

Uma das técnicas de reprodução assistida mais simples, utilizada quando a mulher não ovula regularmente, consiste em administrar hormônios para superestimular os ovários. Normalmente, a mulher produz um óvulo por ciclo menstrual. Com o medicamento, ela pode formar diversos folículos e liberar muitos óvulos. Entretanto, não é recomendável realizar a inseminação intra-uterina quando há mais que três folículos, devido ao risco de uma gravidez múltipla. O método funciona em 10% dos casos indicados. Casos mais delicados exigem a inseminação artificial. Os espermatozóides do marido ou de um doador são recolhidos, assim como os óvulos, e a fecundação é feita “artificialmente”, fora do corpo. “A chance de sucesso é de 30%, dependendo da paciente. Após, no máximo, três tentativas, a probabilidade de gravidez para uma mulher de 35 anos pode aumentar em até 50%”, informa o especialista em reprodução humana.

A probabilidade de gestações múltiplas aumenta com o emprego dos métodos de fertilização. Numa gravidez natural, em geral apenas um óvulo é fecundado. Na artificial, feita nas clínicas de reprodução assistida, tenta-se formar o maior número possível de embriões de boa qualidade, produzidos de óvulos coletados da mãe e espermatozóides do pai. “Como as chances do embrião se fixar no útero e prosperar são pequenas, colocam-se mais de um. Eleva-se, assim, a probabilidade de gravidez, mas também, é claro, de haver uma gestação múltipla, fato que deve ser evitado, devido aos inúmeros riscos da multiparidade”, afirma Joji Ueno.

PAE

Diante desta nova realidade social, em que a maternidade é adiada e os problemas de fertilidade femininos surgem com mais freqüência, em 2006, a Clínica Gera lançou o seu programa de responsabilidade social para tratar a infertilidade. O PAE (Programa Assistencial e Educativo) objetiva oferecer soluções para problemas de fertilidade aos casais que enfrentam dificuldades para engravidar. “Oferecemos aos casais inférteis a possibilidade de encontrar uma solução para o problema específico de cada um, utilizando estratégias que facilitem o acesso aos tratamentos de infertilidade”, informa Joji Ueno, idealizador do projeto.

Em um ano de atividades, o PAE já atendeu a aproximadamente 100 casais. Para participar, é necessário marcar uma consulta com o diretor da Clínica Gera, onde serão diagnosticados os problemas de fertilidade do casal. Em seguida, a Clínica realizará um estudo para a adequação do custo do tratamento ao perfil sócio-econômico do casal, que deverá arcar com custos mínimos. As inscrições para participar do PAE devem ser feitas pelo telefone (11) 3266 7974, de segunda a sexta, durante o horário comercial.

Deixe um comentário