Dia dos Pais: alguns casais se deparam com problemas imunológicos, por isto não conseguem engravidar
Mulheres que fazem ciclos repetidos de fertilização e não conseguem engravidar podem ter o sistema imunológico com propensão a hiper-reatividade, ou seja, elas hiper-reagem à presença do corpo parcialmente estranho que é o embrião.
Antigamente acreditávamos que os problemas para engravidar estavam exclusivamente relacionados com a mulher. Na verdade, em apenas um terço dos casais com dificuldade para conseguir uma gravidez, a dificuldade é exclusiva da mulher. Outro terço se deve a um problema exclusivo do homem e, em mais ou menos 40% dos casos, a uma associação de dificuldades dos dois parceiros para obter a gravidez. “De todos os casais que tentam a gravidez, mais ou menos 10% vão precisar de algum tipo de ajuda para levar adiante o processo. Em um terço desses 10%, as causas seriam femininas; no outro terço, masculinas e, no terço restante, seriam atribuídas à associação de dificuldades dos dois”, afirma o médico ginecologista, Joji Ueno, especialista em Reprodução Humana, diretor da Clínica Gera.
Quando recebemos um casal que diz estar tentando engravidar, sem obter sucesso, é fundamental que se faça uma avaliação dos dois e nunca partir do princípio que o problema é só masculino ou só feminino. “O primeiro passo é pedir um espermograma para o homem, um exame que consiste na coleta de esperma para análise em laboratório. Em 99% dos casos, esse exame permite definir se a causa é masculina”, explica Joji Ueno, Professor Doutor em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP.
Descartada a possibilidade do problema ser masculino, partimos para o levantamento da história clínica da mulher. É preciso saber se ela ovula e menstrua regularmente e se alguma coisa sugere que tenha tido uma infecção na pelve que possa ter comprometido as trompas. “A história clínica norteia o início da investigação da infertilidade feminina, que continua com exames laboratoriais e de imagem para confirmar se a paciente tem mesmo ovulação, se suas trompas são permeáveis ou se ela tem algum problema no colo do útero ou dentro da cavidade uterina que impede ou dificulta a concepção. Com base nesses dados, traçamos desde a continuidade do procedimento de investigação até o tipo de tratamento necessário para o casal levar adiante o projeto da gravidez”, esclarece o diretor da Clínica Gera.
Realizados esses exames iniciais, o espermograma do marido, a avaliação anatômico-funcional do aparelho reprodutor da mulher e não encontrando absolutamente nada que justifique a dificuldade para engravidar, esses casos recebem a classificação diagnóstica de “infertilidade sem causa aparente” ou ISCA. A seqüência terapêutica consiste em estimular a ovulação, mesmo sabendo que a paciente ovula, para determinar com mais precisão o dia em que ela vai ocorrer a fim de aumentar a freqüência das relações sexuais nesse período. “E quando a mulher não consegue engravidar, apesar do estímulo hormonal, de a ovulação ter ocorrido no dia certo e da relação sexual ter se dado no período conveniente, o passo seguinte é a reprodução assistida que pode ser realizada pelo processo de inseminação artificial e de fertilização in vitro”, explica Joji Ueno.
Tratamento imunológico
Quando as tentativas de engravidar por meio da inseminação artificial ou da fertilização in vitro não funcionam, os especialistas em Reprodução Humana buscam melhorar a resposta imunológica dos pacientes. “Mulheres que fazem ciclos repetidos de fertilização e não conseguem engravidar podem ter o sistema imunológico com propensão a hiper-reatividade, ou seja, elas hiper-reagem à presença do corpo parcialmente estranho que é o embrião. Nesse caso, o procedimento indicado é fazer uma inoculação de leucócitos. Isto é, dos glóbulos brancos do parceiro no organismo da mulher para que seu sistema imunológico mude as características de resposta imune e ofereça uma resposta de proteção para o embrião, o que não aconteceria sem o tratamento”, explica o médico ginecologista, Joji Ueno, especialista em Reprodução Humana, diretor da Clínica Gera.
É importante destacar que o feto não é igual à mãe, não tem a mesma compatibilidade de tecidos dela. O fato é que metade do feto é igual à mãe, mas metade tem origem paterna e precisa receber uma espécie de visto de permanência que culmina numa resposta imunológica de aceitação. “Existe um grupo de células chamadas natural killers que fica observando as células estranhas ao organismo da mulher que não deveriam estar ali. Quando encontram o embrião que não passou as informações imunológicas necessárias ou, mesmo que o tenha feito, as reações não foram percebidas pela mulher, estas células promovem a expulsão do concepto. O tratamento imunológico visa à correção dessa dificuldade em estabelecer o processo de reconhecimento da gravidez”, esclarece Joji Ueno.
O tratamento imunológico consiste na administração de uma vacina. “Colhe-se sangue do marido, procede-se a uma separação laboratorial dos glóbulos brancos que são concentrados em 0,5mL de soro fisiológico e injetados por via intradérmica, em intervalos regulares, na mulher. Existem exames para acompanhar o processo e demonstrar se ela está produzindo as reações que consideramos importantes. Quando ela tem a resposta adequada é liberada para enfrentar um novo ciclo de fertilização e a chance de conseguir a gravidez pelo menos dobra em relação à tentativa de engravidar sem o tratamento imunológico”, explica o especialista em Reprodução Humana.
Para a vacinação, o marido retira 80mL de sangue no dia em que vai ser feito o procedimento. “Num período de duas a quatro horas, esse sangue é processado. Em seguida, a mulher recebe a aplicação por via intradérmica no laboratório. A injeção é meio dolorida e pode dar uma reação no local, coceira, por exemplo. Além disso, não existe nenhuma outra reação física como febre ou mal-estar”, esclarece o diretor da Clínica Gera. São feitas duas injeções com intervalo de quatro semanas entre uma aplicação e outra. Depois, aguardam-se mais quatro semanas para medir se a resposta imunológica foi adequada. No primeiro procedimento, isso ocorre com 85% das pacientes. Os 15% restantes requerem procedimento mais intenso e de forma mais concentrada e repete-se o teste para saber se a mulher está liberada para novo ciclo de fertilização.