A criança caiu e bateu a cabeça. Pronto-socorro urgente?

Nem sempre é necessário. Veja o que observar e que medidas tomar.

Que coisa mais gostosa observar uma criança dando seus primeiros passinhos, não é mesmo? E a criança mal sabe andar e já quer correr. O que acontece? Ela cai. Isso faz parte do dia a dia das famílias.

E, até por uma característica de proporção física da criança, especialmente abaixo de 2 anos de idade, a cabeça é lançada para frente na queda.

Dados do Ministério da Saúde mostraram que em 2012, entre as cerca de 370.000 internações por quedas no Brasil, 16% foram em crianças e adolescentes entre 0 a 14 anos.

Estudo publicado no site da ONG Criança Segura, em pesquisa solicitada ao Datafolha (916 entrevistas, entre agosto e novembro de 2012, em 5 hospitais públicos de São Paulo), mostrou que as quedas foram responsáveis por 48% das internações por acidentes, avaliando crianças até 14 anos de idade, sendo que 83% delas foram de bebês menores de 1 ano de idade.

As quedas mais comuns são as da própria altura, sem subir em nada, sendo que nos bebês esse acidente costuma ser na cama dos pais. Apesar de ser parte normal do desenvolvimento de uma criança, a curiosidade pode trazer consequências graves.

Criança caída ao lado de sua bicicleta - Foto: smikeymikey1/Shutterstock.com

Traumatismo crânio-encefálico (TCE)

Assusta, não é? Esse é o nome técnico que se usa quando alguém cai e bate a cabeça.

Mesmo assim, o que mais aterroriza os pais não é o que de fato é mais grave. Sempre que sou consultado em uma situação de queda, a preocupação maior é se quebrou a cabeça e se precisa fazer um raio X. Apesar de a fratura de crânio não ser algo simples, o crânio é um osso, o diagnóstico pode ser feito por um raio X de crânio simples mas esse não é o maior problema. A fratura de crânio é como uma fratura de qualquer osso: vai consolidar com o tempo.

Mas pode haver TCE sem fratura de crânio e mesmo assim ser muito grave?

O que importa é o que acontece dentro do crânio, no cérebro: os hematomas ou hemorragias (sangramentos). E isso não aparece no raio X simples, só em um exame mais complexo, que apesar de uma grande exposição à radiação, é fundamental para o diagnóstico: a tomografia computadorizada (TC de crânio).

Dependendo da área do cérebro atingida, da extensão do sangramento e do tipo de vaso sanguíneo afetado (artéria ou veia), o TCE pode ser leve, moderado ou grave.

Quando uma artéria foi lesada, o sangramento é mais intenso e um atendimento (quase sempre cirúrgico) nas primeiras 12 horas pode ser o diferencial fundamental no prognóstico do quadro. Nesse caso, é difícil acordar a criança, aparecem vômitos que não cessam com dor de cabeça que aumenta com o sangramento (hipertensão intracraniana).

Se uma veia foi atingida, essa perda de sangue é mais lenta, mas a criança pode piorar a cada dia, os sintomas são mais suaves, porém não somem e a cirurgia, se for necessária, não é de urgência.

Toda criança que bateu a cabeça deve ser levada ao pronto-socorro?

Se fosse assim, os pais não passariam uma semana sem ir procurar ajuda urgente. Crianças que sofreram pequenas quedas, que não modifiquem o comportamento, não mostrem sinais de alterações clínicas ou neurológicas podem esperar em casa, em observação.

Mas há algumas situações que merecem uma avaliação mais urgente, em caso de quedas. Entre elas:

  • Acidentes com bicicletas (especialmente se a criança não está usando capacete) ou no carro;
  • Toda queda em criança abaixo de 3 meses de idade deve ser avaliada pela baixa resistência e proteção do crânio nessa faixa de idade;
  • Quedas de escadas de 5 ou mais degraus (independente da idade) ou de uma altura acima de um metro, em crianças com menos de 2 anos de idade ou mais de um metro e meio em crianças acima dessa idade;
  • Desmaios com convulsões, perda de equilíbrio;
  • Se o desmaio com perda de consciência ultrapassar um minuto, se houver sangramento em nariz ou orelha ou galos (céfalo-hematomas) que crescem rapidamente;
  • Pelo menos 4 episódios de vômitos até uma hora após a queda;
  • Dor de cabeça que vai aumentando até interferir na atividade da criança;
  • Se a criança dormir após a queda e houver dificuldade em acordá-la.

Nem sempre um episódio de vômito, um pouco de dor de cabeça ou uma criança que adormece precisa ser levada a um atendimento de emergência. Pode deixar a criança dormir, especialmente se for sua hora de sono.

IMPORTANTE: NUNCA MEDIQUE UMA CRIANÇA APÓS UM TCE.

Os sintomas, nesse caso, podem ser mascarados e não alertarem precocemente a necessidade de um atendimento de urgência.

Se não aparecer nenhum desses sintomas em uma criança após uma queda com TCE, mantenha uma observação por pelo menos 24 horas e apenas em caso de agravação dos sintomas procure o atendimento de urgência em pronto-socorro.

Cuidados para prevenir acidentes

Uma criança em movimento é uma fonte inesgotável de preocupações. Uma criança sozinha em silêncio nem sempre está fora de perigo. Quedas, choques, intoxicações, sufocamentos, engasgos rondam e povoam os pesadelos de muitos pais e as vidas de muitas crianças.

Mas, se ficarmos apenas preocupados com as doenças e os acidentes, não conseguiremos acompanhar o crescimento e desenvolvimento tão lindo de nossos filhos e podemos até interferir de forma negativa nessa situação.

Apesar de parecer uma afirmação batida, prevenir é sempre importante. Toda criança deve sempre estar sob a supervisão de um adulto. Nunca devemos deixar crianças brincando sozinhas ou em trocadores, camas de adultos, banheiras, mesmo que seja “apenas por um minutinho pra atender ao telefone ou à porta”.

Dr. Moises Chencinski

Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com título de especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira (AM...

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