Atualmente no mundo, de cada dez crianças, uma está acima do peso. Mais do que a possibilidade de um jovem enfrentar problemas de saúde em decorrência do sobrepeso, o gordinho ou gordinha convive com um outro mal, talvez muito pior: a discriminação e o menosprezo.
Não é raro o garoto considerado o mais pesadinho da turma ser colocado como goleiro em atividades futebolísticas, pois assim “atrapalhará menos o rendimento do time”, já que não terá o mesmo ritmo dos demais coleguinhas. Da mesma forma que a menina obesa nunca consegue o papel de destaque em teatrinhos ou outras histórias, sendo sempre deslocada para as funções de coadjuvante.
A rejeição em atividades coletivas nessa fase pode se agravar, tornando-se uma espécie de bola de neve, já que a criança gordinha passa a se afastar das tarefas importantes para o desenvolvimento motor e ósseo. Sem esses exercícios físicos e desmotivados, a tendência é o aumento de peso.
Uma boa opção para evitar que isso aconteça é investir em esportes individuais, como judô, dança e natação, onde a criança não é tão pressionada a obter um rendimento satisfatório, diferentemente de outros exercícios coletivos. Esses esportes, embora individuais, são excelentes no processo de sociabilidade, elemento vital para uma vida feliz.
Além de não serem os preferidos pelos colegas nas atividades físicas, os fofinhos, na grande maioria dos casos, passam a ser alvos de gozações, recebendo apelidos que nem sempre o agradam. Barril, Baleia, Nhônho e Bola são os nomes mais comuns impostos às crianças com sobrepeso e isso acaba perturbando-as mesmo longe dos amigos, interferindo diretamente no rendimento escolar e, em alguns casos, causando depressão.
Dicas
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Visto com desconfiança pelos demais companheiros, o gordinho tende a se desdobrar para mostrar que também tem sua importância no ambiente. Quem afirma é o pediatra e nutrólogo Nataniel Viuniski, autor do livro “Obesidade Infantil – Um Guia Prático” e consultor do Espaço Leve – Núcleo de Prevenção e Tratamento da Obesidade Infanto-Juvenil, de São Paulo.
Segundo o pediatra, essas crianças e adolescentes estão em plena formação de sua personalidade e os impactos emocionais que sofrem nessa fase costumam acompanhá-los pela vida toda.
“São vários os exemplos de gozações, apelidos e situações pejorativas que esses jovens suportam, seja na escola, na rua e até mesmo dentro de casa. Por serem motivos de chacota e estarem fora dos padrões de beleza impostos pela mídia, os obesos têm que fazer muita força para agradar”, declara Viuniski.
“É comum o gordinho ser o “palhaço” da turma, sendo a gordinha aquela que dá cola para todo mundo num dia de prova. Adotam esse tipo de atitude para melhorar a sua aceitação pelo grupo, o que nesse período do desenvolvimento é uma das coisas mais importantes para eles”, completa.
De acordo com o Nataniel Viuniski, uma das maneiras de reduzir o abismo da descrença por parte dos gordinhos é mostrar que as diferenças existem nas mais variadas maneiras, o que não significa que a felicidade não seja possível.
“Elogiar, acolher, aceitar e estimular mudanças é o que se espera de verdadeiros amigos, professores, colegas, profissionais de saúde e familiares desses jovens. O elogio é muito mais poderoso para ajudar uma criança com sobrepeso do que uma crítica ou uma brincadeira de mau gosto”, diz.
“Descobrir que as pessoas valem pelo que elas realmente são e não por quanto elas pesam, dentro de um ambiente positivo e de compreensão, vai contribuir para que as crianças e os adolescentes se aceitem e se gostem”, finaliza.
Raptando aquele antigo provérbio alardeado nos tempos de nossos avós de que “todo gordinho tem grande coração”. Pergunto: não chegou a hora do fofinho ser feliz não só para os outros, mas ser feliz para si também?