Psicóloga especialista no assunto fala sobre os desafios da inserção de crianças deficientes no ensino tradicional
A inclusão de crianças com deficiência no método de ensino tradicional é um debate considerado polêmico. Isso porque envolve algumas esferas muito importantes no desenvolvimento dessa pessoa: a educação, a família e a socialização.
De início, surge a discussão sobre a inclusão dessas crianças no método de ensino tradicional brasileiro, em escolas onde a esmagadora maioria é composta por pessoas consideradas comuns. Para a psicóloga, especialista em tratar pessoas com diversidade funcional, Priscilla Souza, a inserção dessas crianças nesse ambiente escolar é essencial para o desenvolvimento coletivo delas, possibilitando interações sociais: “no aspecto social é fundamental o convívio do deficiente com todos os tipos de pessoa… ele deve, precisa e tem o direito de conviver em sociedade como qualquer outro alguém.”
Para a profissional está claro que separar as crianças deficientes das crianças chamadas comuns não é o caminho ideal.
Porém, outro ponto que é levantado em torno da discussão é sobre a estrutura que uma escola deve apresentar para receber uma criança deficiente e proporcionar a ela o mesmo ensino de qualidade que é ministrado aos outros.
Sobre o tópico, o artigo sete da declaração universal dos direitos humanos estabeleceu que todas as crianças com deficiência tenham, em pé de igualdade de oportunidade com os demais, todos os seus direitos assegurados juntamente com a sua liberdade. É justamente seguindo esse documento, que se torna imprescindível que todas as escolas ofereçam estrutura e acompanhamento adequado a todos, inclusive aos deficientes. Pela lei brasileira, as instituições de ensino devem oferecer tratamentos específicos àqueles que necessitam.
Essa questão esbarra em um problema considerado crônico do ensino brasileiro que é o tópico da estrutura. A pergunta que existe é: as escolas têm capacidade de acompanhamento e recursos para receber essas crianças com condições diferentes? A resposta é vista de forma desigual. Pouquíssimas escolas possuem capacidade suficiente para apresentar um projeto de ensino adequado para essas crianças e é justamente isso que afasta os pais dessa ideia.
Muitos pais preferem o ensino em casa quando tem um filho deficiente. Essa visão vem muito acompanhada da dúvida de adaptação da criança a um sistema que historicamente a exclui por falta de acompanhamento e também do bullying constante.
Sobre o bullying, a doutora acredita na importância da criança aprender e normalizar o convívio com pessoas diferentes dela, e que a escola como instituição de educação, tem papel fundamental nisso ao ter a diversidade de alunos.
Apesar da posição clara da psicóloga contra essa separação de ensino entre crianças deficientes e as chamadas comuns, Priscilla entende que é um processo bastante complicado, porque traz muitas dúvidas, tanto por parte da instituição que vai receber a criança, quanto dos pais que querem que seu filho seja tratado de forma adequada.
Além disso, a profissional entende que existem abordagens diferentes para diferentes tipos de deficiência. Quando, por exemplo, a diversidade funcional da pessoa afeta a comunicação é um caso que exige cuidado específico, e assim necessita a presença de um mediador o qual a escola normalmente chama de acompanhante.
O fato é que segregar nunca foi uma solução plausível quando o preconceito está presente, e a história da humanidade está cheia de fatos trágicos que comprovam isso.
Fonte: Priscilla Souza – Nascida em 1976 em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, a psicóloga nasceu com amiotrofia neuromuscular, deficiência que causa diminuição de força física na pessoa. Priscilla afirma que sempre precisou de ajuda para se locomover e realizar suas tarefas, o que nunca foi motivo de vergonha nem empecilho para se desenvolver e construir uma vida e uma carreira de sucesso. Apesar da sua deficiência, a psicóloga não foi impedida de construir sua carreira acadêmica e profissional, com especializações e trabalhos reconhecidos pela região. Se formou na Unesp Bauru em psicologia no ano de 1998, é pós graduada em terapia comportamental pela UFSCAR e ITCR em Campinas