Dietas ou estilos de vida anti-inflamatórios estão em alta agora, de forma que a inflamação virou um mal a ser combatido. Eles são frequentemente sugeridos para pessoas com infertilidade, mas realmente ajudam?
A infertilidade é um problema notavelmente comum. No Brasil, estima-se que existam 8 milhões de casais inférteis e, no mundo, cerca de 80 milhões. Uma avaliação médica completa pode identificar problemas importantes em muitos casos – seja em uma mulher, um homem ou ambos os parceiros – que podem responder ao tratamento ou exigir ferramentas de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV). Mas em um número substancial de casos, nenhuma causa é encontrada para infertilidade. Poderia a inflamação, a vilã do momento, ser a culpada por alguns desses casos, como sugerem pesquisas recentes? E se sim, uma dieta ou estilo de vida anti-inflamatório aumentará a fertilidade? Conversamos com o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, para saber qual o papel da inflamação e do estilo de vida moderno na infertilidade.
Explorando a conexão entre inflamação e infertilidade
A inflamação crônica tem sido associada a muitas condições de saúde, como doenças cardiovasculares, derrame e câncer. A todo momento surgem estilos de vida ou dietas anti-inflamatórias. Embora sua importância na infertilidade esteja longe de ser clara, algumas evidências suportam uma conexão, segundo o médico: “O risco de infertilidade é maior em condições marcadas por inflamação, incluindo infecção, obesidade, endometriose e síndrome dos ovários policísticos; a inflamação em todo o corpo (sistêmica) pode afetar o útero, o colo do útero e a placenta, prejudicando assim a fertilidade; as mulheres com infertilidade que fizeram fertilização in vitro e seguiram uma dieta anti-inflamatória tendem a ter taxas mais altas de gravidez bem-sucedida do que as mulheres que não seguiram a dieta”, detalha o especialista.
Uma dieta anti-inflamatória poderia melhorar a fertilidade?
“Essa é uma possibilidade real. Décadas atrás, os pesquisadores observaram que as mulheres que seguiam uma dieta de fertilidade prescrita ovulavam com mais regularidade e eram mais propensas a engravidar. Agora, uma revisão do final de 2022 de vários estudos, publicada no periódico Nutrients, sugere que seguir uma dieta anti-inflamatória é promissor para pessoas com infertilidade”, diz o médico. Essa revisão descobriu que uma dieta anti-inflamatória pode ajudar a: melhorar as taxas de gravidez (embora exatamente como é incerto); aumentar as taxas de sucesso de medidas de reprodução assistida, como fertilização in vitro; melhorar a qualidade do esperma nos homens.
Não há evidências suficientes para mostrar que um plano de ação anti-inflamatório melhorará a fertilidade. Uma dieta baseada em vegetais, como a dieta mediterrânea, e outras medidas consideradas parte de um estilo de vida anti-inflamatório, já foram apontadas em trabalhos científicos como importantes para melhorar a saúde do coração, com outros benefícios. Não está claro se isso se deve diretamente à redução da inflamação. Mas o que é um estilo de vida anti-inflamatório? Os especialistas em saúde não concordaram com uma única definição. Aqui estão algumas recomendações comuns: “Adote uma dieta que incentive alimentos à base de plantas, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, como o azeite, desencorajando a carne vermelha, alimentos altamente processados e gorduras saturadas; pare de fumar ou vaporizar; perca o excesso de peso; seja fisicamente ativo; durma o suficiente; trate condições inflamatórias, como artrite reumatóide ou alergias; evite o consumo excessivo de álcool; controle o estresse”, destaca o médico.
Por fim, o médico destaca que é possível que a inflamação desempenhe um papel importante e subestimado na infertilidade e que uma dieta ou estilo de vida anti-inflamatório possa ajudar. “Mas precisamos de mais evidências para confirmar isso. Até sabermos mais, faz sentido tomar medidas para melhorar sua saúde geral e possivelmente reduzir a inflamação crônica. E, claro, seguir as orientações do médico especialista para conseguir engravidar”, finaliza o Dr. Fernando Prado
Fonte: Dr. Fernando Prado – Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita – Reprodução Humana.