Gerar significa criar, conceber, produzir, originar, formar, desenvolver, nascer. Palavras que se aplicam perfeitamente a fecundação e a gestação de um novo ser. Para adotar também é preciso gerar dentro de si a mesma vontade. Adotar é um ato de coragem e muito amor, sem preconceito, e com total responsabilidade por aquele novo ser que entra na família e passa a fazer parte dela para sempre. A decisão do casal e a adaptação da família são essenciais para que a criança nasça para todos de forma tranqüila e seja bem-vinda! Estamos falando este mês do amor conquistado, do encontro marcado entre mãe, pai e o filho do coração. Falamos de adoção.
E adoção é doação. É amor. Simples.
É o amor que move o desejo de adotar, que dá a certeza de que aquela criança precisa de você, que dá paciência para aguardar as decisões jurídicas e promove este encontro que é para toda a vida.
Eliana Aparecida está casada há 21 anos com o piloto agrícola Francisco de Moura. É jornalista, mas abandonou a profissão em nome de outro lindo projeto: Vinícius. A opção de Eliana, radical a princípio, tem bases mais profundas porque até a chegada do filho, ela conheceu de perto a espera, a ansiedade, a frustração, a cobrança, o desgaste… Palavras usadas por ela mesma no depoimento a seguir. Mas não é um depoimento triste. Eliana é o tema de Vida de Mãe por seu exemplo de otimismo, garra e amor. Entrevistamos também o psiquiatra e psicanalista, Luiz Alberto Py, que alerta que a criança deve saber que foi adotada: “Não deixem de contar a ela e explicá-la o que significa adoção”.
Vamos conhecer, então, a história de Eliana e Francisco, o encontro com Vinícius e a formação dessa nova família.
As tentativas
“Casei com 18 anos e nunca tomei anticoncepcional. Queria engravidar logo. Um ano depois, sem conseguir, resolvi procurar os médicos e os exames começaram. Desde ultra-som para ver se o útero estava normal a dosagens hormonais, enfim, exames em geral. Para meu marido foi indicado o exame de espermograma. Nada detectado.Os médicos diziam que era só ansiedade. Os anos foram passando e nós não desistíamos. Trocávamos de médicos; fazíamos todos os exames e nada. Durante esse período tomei muitos hormônios para aumentar aovulação e as chances de engravidar. Nada dava certo. Engordei 8 quilos; vivia frustrada porque não conseguia engravidar e ainda tinha a cobrança da família e dos amigos”.
Ansiedade
“Cheguei a montar um enxoval completo. Cada exame que fazia achava que iria engravidar. O tratamento é tão desgastante, financeiramente e emocionalmente, que algumas vezes pensávamos em parar com tudo. Chegávamos a pensar que estávamos perdendo tempo, mas continuávamos atrás de médicos e exames. Isso durou 10 anos. Fiz indução de ovulação, inseminação artificial e uma tentativa de fertilização in vitro. Tudo sem sucesso. E os médicos diziam que não havia motivo aparente para que a gravidez não acontecesse”.
A decisão
“Frustrada e totalmente desgastada com tantas tentativas sem sucesso, eu e meu marido falamos em adoção. Quando éramos namorados já havíamos pensado no assunto, mas pensei em adotar depois que tivesse gerado meu filho. Com o tempo mudei de idéia. A gravidez não aconteceu e tínhamos muita vontade de sermos pais. Por que não adotar? Em 2000 entramos com o pedido de adoção. Quando fomos chamados não acreditei. Nunca minha barriga doeu tanto! Era medo misturado com alegria… A assistente social disse pelo telefone que era ummenino de um ano; era mulato e tinha problema. Fomos buscá-lo”.
O primeiro encontro
“Vimos no berço da instituiçãoo menininho que, segundo a assistente social, estava pronto para ser adotado. Ele tinha um ano e uma semana, mas tinha o tamanho de uma criança decinco meses. Desnutrido, com bronquite e infecção na garganta,ele só olhava para baixo, para seus pés, e não ria quando fazíamos cócegas nele. Estava no berço com mais duas crianças. Uma menina que aguardava o tratamento de seus pais agressores e outra com gesso no braço quebrado pelo pai. Foi impressionante ver os olhinhos das crianças pedindo carinho. E que sensação maravilhosa segurá-lo pela primeira vez. Pensei: “agora ninguém tira ele de mim”.
A adaptação
“Tão pequeno e tão frágil. Quando chegamos em casa, ele dormiu porquinze horas seguidas. Quando acordou chorava e não deixava que a gente o segurasse. Com paciência, carinho e, sobretudo amor, fomos cuidando dele, correndo contra o tempo para evitar que sua desnutrição comprometesse seu desenvolvimento. A família ficou feliz. Os amigos visitavame nos davam conselhos. Que emoção ver meu marido chegando com as roupinhas, o primeiro sapatinho, os primeiros brinquedos… Nosso sonho se realizando…Devagar ele passou a confiar em nós e cuidar dele mefez a mulher mais feliz desse mundo. Ele foi crescendo, se desenvolvendo e hoje está comsete anos etrês meses. Lindo, forte, inteligente, sensível, carinhoso, solidário e omaior presente que recebemos nessa vida!”
Vinícius aos 2 anos
Vinícius aos 2 anos – Meu abraço preferido.
Vida nova
“Ele curou toda a frustração que eu tinha de não conseguir gerar uma criança. Meu filho veio curar meu egoísmo, minha impaciência,minha tristeza. Só penso no bem estar dele. E só lembro que ele é adotivo quando falo no assunto.Agradecemos a Deus todos os dias. As frustrações, as dores, o desgaste dos tratamentos ficaram paratrás”.
Natal de 2006.
Meu Amor.
Meu modelo.
Vinícius aos 7 anos.
Eliana, Vinícus e Francisco.
Uma família feliz!
Eliana e Francisco partiram para a adoção depois das sucessivas tentativas para engravidar. Existem vários outros casos de casais que resolveram criar crianças que não geraram. Alguns porque já criaram seus filhos, outros simplesmente porque querem unir filhos gerados e adotados… Outros casais e outros tantos casos podemos enumerar, inclusive os casais homossexuais. De certo é o amor que falamos no início é que deve guiar o caminho que leva a adoção.
Luiz Eduardo Py – psicólogo e psiquiatra
“Adotar uma criança é a melhor maneira de lidar com a ansiedade e a frustração de não conseguir engravidar. O casal está se confrontando com uma limitação real (que pode ser da mulher ou do homem). Existem muito recursos clínicos e não podemos perder de vista as possibilidades que a medicina oferece. Só depois de se deparar com a total impossibilidade deve-se partir para a adoção. E quando isso acontecer, toda a questão emocional em torno dessa impossibilidade deve estar bem trabalhada. Todo processo de adoção conta com uma assistente social que vai atuar junto ao casal desde o processo de escolha, ao primeiro encontro da nova família e à adaptação. Não devemos ficar ansiososdurante oprocesso, pois podemos confiar neste serviço. Adoção é muito mais dar do que receber. Adotamos para cuidar de uma criança. A motivação tem que ser de generosidade. A adoção é um gesto muito bonito porque é uma doação. E o mais importante: a criança precisa logo saber que foi adotada. Não deixem de informá-la na primeira oportunidade, explicando a ela o que é adoção”.
O clima de liberdade em casa e as oportunidades que surgem no dia-a-dia, como casos parecidos, por exemplo, podem ajudar na hora de contar ao filho sobre a adoção. Lembre-o que ele foi escolhido para ser amado. Não veio da barriga, mas do coração.
Beijos!