O fim de um relacionamento conjugal pode prejudicar a dinâmica familiar devido a mudanças na rotina, partilha de bens e disputas pela guarda dos filhos.
Infelizmente, essas dissoluções nem sempre ocorrem de maneira amigável, com sentimentos de vingança e agressividade, levando alguns a usarem os filhos como instrumento de disputa para prejudicar o ex-parceiro.
A alienação parental, uma característica presente na sociedade desde a concepção da família, é um tema delicado no direito de família. Originando-se de relações conturbadas, envolve a influência de um dos pais ou parentes próximos para fazer com que uma criança ou adolescente odeie e rejeite a outra parte. Essa prática consiste em comportamentos que difamam a imagem do outro progenitor perante os filhos, podendo ocorrer de forma proposital ou inconsciente.
As psicólogas especializadas em saúde infantil e adolescente Nathalia Heringer e Ariádny Abbud, fundadoras do Instituto de Neuropsicologia e Psicologia Infantil – INPI, explicam sobre a importância da convivência familiar para o desenvolvimento infantil e como identificar a alienação parental nas crianças.
Como identificar Alienação Parental nas crianças
Nem sempre é fácil identificar, pois alguns genitores fazem de forma velada. No entanto, a observação é o principal meio de identificação. A criança apresenta uma mudança de comportamento que pode ser refletida em agressividade, afastamento, ansiedade e até sintomas depressivos. Isso acontece, pois, a criança enxerga os pais como o mundo delas, e de repente, essa imagem vai se alterando e a sensação é de que ela perdeu sua base. A confiança nos pais fica abalada e ela se sente pressionada a tomar algum partido. Essa tentativa de balancear os dois lados gera graves consequências para a criança e ao adolescente.
Como a alienação parental se manifesta no dia a dia da criança
Os alienadores impedem a criança de ver o outro genitor, nega acesso até via celular, resolvem conflitos na frente das crianças, procuram atacar a imagem do outro genitor, com isso, a criança manifesta diferentes emoções, entre saudade, culpa, medo, angústia, solidão e muitas vezes raiva. São levadas a odiar o outro genitor sendo facilmente observado no discurso da criança quando fala de um dos genitores, e na mudança de comportamento. A criança reflete o ambiente, e a depender do quão adoecedor está, se torna um fator de risco para vários transtornos psicológicos.
Qual a importância da boa relação entre os pais
Os pais precisam entender que independentemente da relação que o casal estabeleça entre si após a dissolução do casamento ou da união estável, a criança tem o direito de manter preservado seu relacionamento com os pais. Por mais que o relacionamento tenha encerrado, a parentalidade não. Os pais devem respeitar os sentimentos da criança, que naturalmente terá que passar por uma adaptação difícil, devem facilitar o convívio, o diálogo, e pensar juntos no melhor para o desenvolvimento cognitivo e emocional através do diálogo. Os conflitos devem ser resolvidos longe da criança. Por mais que seja difícil para um dos cônjuges seguir a vida por diversos motivos, ou sentir tristeza de ver o ex-parceiro (a) engatando uma nova relação tão rapidamente, a criança jamais deve ser envolvida nessas mágoas, ela não tem culpa, e não deve ser informante de nenhum dos lados nem deve ser orientada a agir de maneira desafiadora para proteger o genitor ferido. É importante que os pais entendam que manter uma boa relação é o maior protetor da saúde mental e do desenvolvimento da criança, tanto emocional quanto cognitivo.
Quais os deveres dos pais para evitar a Alienação Parental
Toda criança tem o direito fundamental do convívio familiar saudável. É importante, portanto, proteger a criança dos conflitos e desavenças do casal, impedindo que eventuais disputas afetem o vínculo entre pais e filhos. A figura dos pais geralmente é a principal referência de mundo e de sociedade para os filhos e, em muitas situações de alienação parental, provoca-se a deterioração dessa imagem, o que causa impactos não apenas na relação filial, mas também na formação da criança em seus aspectos intelectual, cognitivo, social e emocional.
Quais os tratamentos para a síndrome de alienação parental
Psicoterapia é o tratamento mais indicado. Tanto para a criança que está passando pela separação e apresenta diversas dúvidas, angústias e medos a respeito de como será a vida dela, quanto dos genitores que também passarão pela adaptação. É importante que os pais se cuidem para cuidarem bem da criança também.
Fonte: Nathalia Heringer, Mestre em Cognição e Comportamento, pós-graduada em Neuropsicologia, e Ariádny Abbud, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental com Crianças e Adolescentes, desenvolvedora de jogos terapêuticos e escritora. Fundadoras do Instituto de Neuropsicologia e Psicologia Infantil – INPI