Especialista do CEJAM aponta técnicas e dá dicas sobre alimentação, cuidados com as mamas e saúde mental durante esse período tão importante
Amamentar é muito mais do que nutrir o bebê, é um momento de profunda conexão, repleto de benefícios para a saúde. No Brasil, a taxa atual de amamentação exclusiva é de 46% para crianças menores de seis meses, um índice que avança gradualmente rumo à meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 70% até 2025.
Embora ainda longe do ideal, esse percentual reflete certo progresso na conscientização sobre a importância da amamentação nos primeiros anos de vida. A recomendação é que ocorra logo após o parto e continue até os dois anos de idade do bebê.
“Até os seis meses, é preconizado que a amamentação do bebê deva ser exclusivamente de leite humano, que é um alimento completo. Só após esse período, outros alimentos podem ser introduzidos, e a amamentação deve continuar até dois anos ou mais”, destaca a Dra. Anatália Basile, coordenadora-geral da Maternidade Segura do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.
Dada a importância da ação, é necessário adotar certos cuidados para otimizar a produção de leite. “Existem medicamentos e substâncias que devem ser evitados ou usados com cautela durante a amamentação. Isso ocorre porque alguns deles podem passar para o leite materno e, potencialmente, afetar a saúde e o desenvolvimento do bebê”, explica a especialista.
Especificamente em casos de contaminação por HIV e HTLV, é recomendado não amamentar, sendo prescritos substitutos do leite humano. Para outras doenças e vícios maternos, é necessário avaliação médica para suspensão temporária com acompanhamento do caso.
Além desses cuidados, é essencial manter uma dieta equilibrada e nutritiva. “Embora não exista uma dieta específica que a pessoa que está amamentando deva seguir durante o período, é benéfico incluir frutas, verduras, legumes, proteínas como carnes magras, peixes, ovos e leguminosas, cereais integrais e laticínios no cardápio”, orienta a doutora.
O consumo de fontes de gorduras saudáveis, como abacate, nozes, sementes e azeite de oliva, também contribui significativamente para o desenvolvimento cerebral do bebê e deve ser integrado nos pratos de quem amamenta.
Dra. Anatália também alerta que não é recomendado que nutrizes façam dietas rigorosas e restrições alimentares durante os primeiros seis meses de amamentação, já que a nutrição adequada é um dos principais pilares para a saúde materna e do recém-nascido.
Manter a hidratação do corpo é fundamental para a produção e qualidade do leite humano. É recomendado beber líquidos antes e após cada mamada, mantendo sempre uma garrafa de água à mão, já que o leite é composto por aproximadamente 87 a 90% de água. “Se a pessoa não ingerir água suficiente, ela pode desidratar, resultando em fadiga, tontura e na redução de sua produção láctea”, reforça a especialista.
Estimulando a produção de leite
Para quem deseja aumentar a produção de leite, isso é possível por meio de várias estratégias, como amamentação em livre demanda, reconhecimento dos sinais de fome do bebê, cuidado com a pega adequada e realização da extração de leite quando longe da criança ou quando estiver com as mamas muito cheias.
De acordo com a Dra. Anatália, o descanso é um fator crucial. “É recomendado tentar repousar sempre que possível e aceitar auxílio de familiares e amigos para cuidar do bebê”, afirma. Além disso, técnicas de relaxamento também podem ser benéficas para a produção de leite e devem ser incorporadas na rotina diária.
Lactantes que possuem próteses ou que passaram por cirurgias mamárias, além de diabéticas e mulheres com alterações na tireoide, entre outras condições, necessitam de vigilância e acompanhamento constante. Nesses casos, é fundamental prestar atenção ao ganho de peso do recém-nascido para garantir uma experiência de amamentação segura e bem-sucedida, especialmente nos primeiros meses de vida da criança.
“Existem também os galactogogos, alimentos e medicamentos conhecidos por ajudarem a aumentar a produção de leite. Entre eles destacam-se aveia, quinoa e lentilhas, que são ricos em nutrientes e conhecidos por seus benefícios secundários na lactação.”
Além das dicas, é importante lembrar que o uso de chupetas e bicos por bebês pode interferir na frequência das mamadas e na forma como realizam a pega, impactando negativamente na produção de leite.
Cuidados com os mamilos
A produção de leite não é a única preocupação durante a amamentação. Mamilos doloridos ou fissurados também podem ser um desafio para a pessoa que amamenta. No entanto, existem modos que podem aliviar o desconforto e tornar o momento mais tranquilo.
“Reforço que é importante garantir que o bebê faça uma pega correta. Ele deve abocanhar uma grande parte da aréola, não apenas o mamilo. Uma pega inadequada é uma das principais causas de dor e fissuras”, alerta a Dra. Anatália.
Assim, experimentar diferentes posições de amamentação pode ser uma solução para encontrar a mais confortável. É indicado ainda que o bebê mame nas duas mamas para manter a produção, favorecendo a pega correta.
Outra dica da especialista é aplicar um pouco de leite humano nos mamilos após a amamentação e deixá-los secar antes de guardá-los. “O leite tem propriedades antibacterianas e pode ajudar na cicatrização”, explica.
Evitar o uso de conchas e absorventes para seios também é importante, pois eles podem deixar o peito úmido e quente, possibilitando o crescimento de microrganismos que podem gerar infecções.
“Se houver dor persistente ou as fissuras não melhorarem, pode ser necessário ajustar a técnica de amamentação com a ajuda de um profissional de saúde capacitado e/ou verificar a possibilidade de infecções em uma avaliação médica”, ressalta.
Saúde mental também precisa de atenção
É importante reconhecer que amamentar pode impactar a saúde mental de várias maneiras. Para garantir que esse momento seja o mais saudável possível, é fundamental buscar formas de cuidado nesse sentido.
A amamentação fortalece o vínculo com o bebê, promovendo a liberação de oxitocina (o hormônio do amor) e ajudando a reduzir o estresse, mas também pode levar à exaustão, especialmente nas primeiras semanas, quando as mamadas são frequentes, inclusive à noite.
“Para amenizar essa situação, é essencial criar uma rede de apoio para facilitar o processo. Conecte-se com outras mães, grupos de apoio à amamentação, amigos e familiares para obter suporte emocional e prático”, recomenda a especialista.
Por isso, dedicar tempo para si com atividades relaxantes, como banhos, caminhadas ou música, também é crucial e deve fazer parte da rotina. Praticar técnicas como meditação e respiração profunda também podem ajudar na prevenção da ansiedade.
Fonte: Dra. Anatália Basile, coordenadora-geral da Maternidade Segura do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”. CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde