De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 50% das mulheres saem do mercado de trabalho em até dois anos após sua licença-maternidade. Já a pesquisa realizada pelo Google demonstrou que 88% dos homens brasileiros declararam que ser um bom pai significa participar ativamente da rotina dos filhos, porém, apenas 37% assumem que, de fato, são participativos
Apesar do crescente aumento da discussão sobre equidade de gênero, essa conscientização ainda está longe de refletir a realidade. Grande parte das famílias ainda funciona, hoje, tendo a mulher como principal responsável pelo cuidado da casa e dos filhos, assumindo duplas ou triplas jornadas de trabalho.
Na prática, o dilema da mulher moderna entre carreira, família e filhos está além de estatísticas e dados analíticos. Os números, na verdade, são apenas a ponta do iceberg para a mulher que pretende realizar o sonho de se tornar mãe. Enquanto, em casa, a família e os amigos cobram pela chegada dos filhos, no trabalho é quase que consenso que conciliar carreira e maternidade é impossível. Num piscar de olhos, o que era pra ser um momento único de alegria e realização se torna um mar de incertezas, dúvidas e insegurança.
Como tentante e ao longo dos últimos dois anos acompanhando outras mulheres no Carreira & Mamadeira, consigo identificar os maiores medos e inseguranças que o público feminino enfrenta durante essa jornada. São eles:
1 – Será que ainda vou ter tempo para continuar sendo eu?
É claro que a rotina da mulher irá mudar! A chegada de um bebê impacta o cotidiano de várias maneiras e não há como negar. O que já era corrido ficará ainda mais. E nesse cenário, os extremos nunca ajudam. É muito comum encontrar discursos em que a maternidade é romantizada ou demonizada, mas quase ninguém fala das possibilidades que existem entre esses dois pontos.
Óbvio que dormir até mais tarde em um sábado vai ser raro, chegar em casa e se jogar no sofá com o parceiro pode não mais fazer parte da rotina, assim como viagens-surpresa de fim de semana terão que ser melhor planejadas, confraternizar com os amigos vai demandar uma rede de apoio. A questão é que a vida é feita de fases, e é muito importante saber aproveitar cada uma delas, com seus ônus e bônus. Quando a decisão é tomada de forma consciente, então, fica muito mais fácil lidar com os perrengues e as renúncias.
Isso não quer dizer, de forma alguma, que é preciso se acostumar com o caos, por mais que ele tome conta um dia ou outro. Nesse momento, vale investir tempo no planejamento, construir uma rede de apoio e ter combinados muito claros com o parceiro. Lembre-se: ele é o maior aliado nessa jornada, não como ajudante, mas como pai e igualmente responsável pela nova rotina. Somente mulheres realizadas podem ser mães felizes para criar filhos emocionalmente saudáveis
2 – Filho segura ou destrói o casamento?
Nem um, nem outro, se o casal estiver em sintonia. Quem planeja engravidar precisa, além de estar bem consigo mesma, desenvolver maturidade no relacionamento a dois. E, nesse processo, o diálogo é sempre o melhor caminho. Alinhar sobre expectativas, vontades e limites é essencial para evitar aborrecimentos lá na frente.
3 – E os pitacos das famílias?
Eles já existem muito antes dos filhos chegarem, mas fato é que aumentarão proporcionalmente ao aumento da família. Isso não necessariamente precisa ser ruim e cada casal deve entender em que nível a interferência é bem-vinda.
É preciso ter em mente que quanto maior for a dependência, maior será a interferência. Por isso, ainda durante o planejamento, é importante que o casal entenda que situação deixa ambos mais confortáveis para que possam se programar. Se a ideia é que a rede de apoio sejam os avós, é necessário ter essa conversa. Se o melhor é uma escolinha, creche ou babá, vale fazer um pé de meia.
No geral, o período logo após o nascimento do bebê é o que mais deixa as mulheres inseguras e preocupadas. Infelizmente, muitas mulheres já passaram por experiências traumáticas com conselhos não requisitados, visitas não agendadas e falta de bom senso, o que acaba disseminando essa sensação de que todo pós-parto precisa ser terrível.
De fato, a mulher passa por oscilações hormonais bastante intensas, a ponto de não precisar de nenhum estresse extra nessa equação. Nesse momento, o mais importante é entender que a prioridade é o bem-estar do casal e do bebê recém chegado e que para isso, em determinados momentos, talvez seja necessário frustrar algum familiar.
Não que exista uma regra, mas se cada um ficar responsável por alinhar expectativas e limites com sua família, esse momento pode ser muito mais tranquilo e leve para todos. Para que o bebê fique bem, basta a mãe estar bem. O homem, nesse contexto, tem o papel inegociável de colocar o bem-estar da mulher acima de qualquer outra coisa.
4 – De que jeito eu adiciono um bebê nessa rotina caótica?
Trânsito, trabalho, trânsito. Se em home-office, é reunião atrás de reunião. A rotina já é complexa e extremamente corrida. Como encaixar, nessa complexidade, uma nova vida? Como ser uma boa mãe sem precisar abrir mão de todo o resto?
Calma! Ser uma mãe participativa não é sinônimo de não desgrudar do filho, o equilíbrio é a chave. É preciso saber priorizar o tempo. No trabalho se dedique a sua função. Quando chegar em casa, feche o notebook, desligue o celular e se entregue àquele momento.
E o mais importante: se libertar da culpa. A mulher que escolhe ou precisa trabalhar após a maternidade é tão mãe quanto a que se dedica 100% aos filhos. Construa uma boa rede de apoio, faça acordos com seu parceiro, tente conseguir flexibilização de horários ou modelo de trabalho e aproveite a jornada.
5 – E a grana, será que vai dar?
Por fim, a situação financeira completa os 5 medos mais enfrentados durante o processo de planejamento de uma gravidez. Ter as finanças da casa organizadas, um orçamento familiar saudável e indivíduos conscientes da realidade é indispensável para quem quer aumentar a família. Ao lidarem com uma nova vida, gastos serão necessários e imprevistos poderão ocorrer de forma recorrente, por este motivo, a maneira como esse dinheiro será gasto deve ser pensada.
Se esses mecanismos ainda não existem, é hora de implementar (inclusive, temos uma planilha financeira incrível que foi pensada especialmente para ajudar nesse desafio e está disponível lá na nossa bio do @carreiraemamadeira). Evitar se comprometer com gastos a longo prazo, quitar dívidas e construir uma reserva de emergência são alguns primeiros passos importantíssimos.
Sim, os medos existem e sempre vão existir. Antes mesmo de a possibilidade de me tornar mãe existir, outras inseguranças tomavam conta de mim. Mas, o que o Carreira & Mamadeira mais me ensinou, e o que tentamos dia após dia passar como mensagem é que é possível sim ser uma mulher realizada em todos os âmbitos da vida. Para isso, no entanto, é preciso coragem: de fazer escolhas, de se posicionar, de assumir responsabilidades, de lidar com as consequências e, enfim, viver a sua vida perfeitamente imperfeita, e não de mais ninguém.
Mayara Prieto, Head de Marketing da Movidaria