O que muitas esquecem é que a fertilidade cai consideravelmente após os 35 anos
Lendo algumas matérias publicadas, notei que muitas destacaram um fenômeno conhecido de todos, mas que continua em ascensão: desde a década de 60 até agora, as brasileiras vêm tendo menos filhos e, de dez anos para cá, adiando a maternidade. São dados de pesquisas do IBGE que eu confirmo ouvindo minhas pacientes no dia a dia da clínica. E os motivos também são conhecidos: maior independência, a entrada no mercado de trabalho e o esforço para crescer na profissão e a maior escolarização feminina. Ou seja, as mulheres estão investindo em suas carreiras e postergando o momento de ter filhos.
Nada mais louvável, pois por muito tempo à mulher foi dado apenas o papel da mãe. Não que este não seja provavelmente o mais belo e importante de sua vida, mas como todo ser humano, ela queria mais. Agora, conquistando sua independência, ela até pode fazer um certo malabarismo para conciliar sua vida pessoal com a profissional. Porém, muitas vezes, para alcançarem suas conquistas profissionais, adiam o sonho de ser mãe.
E esta escolha é fácil de entender, pois no mesmo momento em que ela pensa “chegou a hora de ter um bebê” pode também ficar sabendo que aquela tão suada promoção ou uma proposta para se tornar sócia na empresa está para sair. O receio de ter de se afastar por meses acaba sendo grande e não lhe sobra muitas possibilidades a não ser abrir mão do sonho pessoal em nome do profissional.
O grande problema é que se esquecem que o corpo feminino tem suas particularidades. Por mais atraentes, juvenis e atléticas que as mulheres possam ser em qualquer idade, sua fertilidade, após os 35 anos, tem uma queda acentuada, ano a ano. Assim, vemos mulheres deslumbrantes aos 40 anos, mas que dificilmente engravidarão sem precisar de uma ajuda da ciência. Claro que a medicina reprodutiva tem feito avanços tecnológicos incríveis e essas mulheres terão algumas opções como a inseminação artificial e a fertilização in vitro, por exemplo.
A ficção tem ilustrado bem isso em filmes, séries e novelas, mais lá fora que em nosso país, mas é uma tendência. No longametragem “Coincidências do Amor”, por exemplo, a personagem de Jennifer Aniston recorre à inseminação artificial. Já o filme “Plano B” traz uma mulher, interpretada por Jennifer Lopez, que está chegando aos 40, mudou seu estilo de vida, quer ter um filho e utiliza a mesma prática. O interessante é que a própria atriz recorreu à fertilização in vitro para engravidar, aos 37 anos, e acabou tendo gêmeos. Aqui no Brasil, um caso famoso foi da jornalista Silvia Poppovic, que teve sua primeira e única filha, aos 44 anos com ajuda de um tratamento de fertilização.
Porém, gosto de lembrar que há uma alternativa que ainda não é muito divulgada, voltada às mais jovens, que é congelar os óvulos. Mulheres com pouco menos de 35 anos e preocupadas com a diminuição progressiva de sua fertilidade, mas que não podem engravidar, seja pelos já citados motivos profissionais ou por não ter encontrado o parceiro ideal, podem minimizar esta angústia, pois no futuro poderão tentar a gravidez naturalmente. Isso até mesmo se estiver próxima a menopausa, pois os óvulos congelados no passado poderão ser fertilizados e darão uma chance maior de gestação e menor índice de abortamento e má-formação, se comparados com um tratamento feito em idade mais avançada.
É importante frisar que mulheres que congelaram seus óvulos com menos de 32 anos obterão melhores resultados. Congelar óvulos é relativamente fácil, seguro e tem poucos riscos. É uma alternativa viável e deve ser oferecida às pacientes ou ao casal, estes devem ter consciência das eventuais limitações dos resultados da fertilização e gestação após o descongelamento e caberá a eles a decisão final por esta conduta. Hoje em dia a chance da gravidez com óvulos congelados já atinge até 40% e, quem sabe no futuro, venha aumentar ainda mais.